Capítulo 58

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Capítulo 58

Fazia um calor insuportável naquela manhã de sábado, e ainda nem era verão. Aline estava deitada no sofá, deliciando-se com um potinho de sorvete de pistache que ela equilibrava em cima da barriga.
Ela levantou e foi até a cozinha jogar o pote agora vazio e então sentiu uma sensação estranha. Olhou para baixo e a barra do seu vestido estava molhado, assim como suas pernas.

Clara estava uma pilha de nervos. Um de seus fornecedores estava com um atraso de uma semana. Normalmente era Fred quem cuidada desse tipo de coisa, mas ele pediu para que Clara resolvesse, já que era aniversário de sua avó e ele estava fora da cidade.
Clara parou em um sinal vermelho e a tela de seu celular se iluminou, era uma mensagem de Aline:

Clara, minha bolsa estourou.

Clara bufou, revirando os olhos. E dai que a bolsa tinha estourado? Era só comprar outra! As vezes Aline se preocupava com cada coisa...
Clara estava prestes a digitar uma mensagem dizendo exatamente isso, quando o celular começou a tocar.
- Clara, a bolsa estourou. A bebê vai nascer e o Caio ta em Santos!
Clara nem esperou o sinal abrir, deu meia volta e saiu cantando pneu.

Aline já estava com tudo pronto quando Clara chegou. Na verdade, Clara estava mais nervosa que ela. Durante o caminho para a maternidade, Aline tentou ligar para Caio, mas o celular estava desligado. Ele devia estar sem bateria porque seu celular nunca ficava desligado. Então Aline avisou aos seus pais. Ela tinha que avisar Márcio, prometera a ele. Mas não parecia justo que ele estivesse lá e Caio não. Por isso, esperou até o último momento para lhe mandar uma mensagem.
Por fim, quem entrou com ela na sala foi Clara. As contrações estavam cada vez mais fortes e frequentes. Então era isso, o grande momento havia chegado.
Aline segurava a mão de Clara, que estava tremendo mas mesmo assim não parava de dizer palavras de incentivo.
A médica, Dra. Cristiane, entrou na sala. Uma oriental baixinha e de óculos com armações grossas, era a melhor obstetra que Aline poderia ter conhecido.
- Vamos lá, mamãe. Hora do show.
E realmente foi um show. Por mais que Aline tivesse lido várias matérias, artigos, depoimentos, nada poderia ter lhe preparado para aquela experiência. Mas no momento em que ouviu o choro de sua filha, esqueceu de todas as outras coisas, até mesmo a dor pareceu sumir.
- Aqui a sua menininha – A Dra. lhe entregou seu bebe e a Aline a aninhou nos braços.
- Bem vinda ao mundo, Ana Julia – Clara disse baixinho, aproximando-se das duas.
Aline olhou para a amiga e sorriu.

Caio voltou para São Paulo o mais rápido que conseguiu. Chegou ao hospital correndo. O cabelo bagunçado, a camisa social com os primeiros botões abertos. Na sala de espera ele se deparou com os pais de Aline e com Márcio. Antes que ele pudesse dizer algo, a sogra apenas balançou a cabeça.
Márcio estava sentado na cadeira mais afastada deles, mantinha o olhar fixo na porta da maternidade.
- Não cheguei a tempo, não é? – Caio perguntou. Ele passou as mãos pela cabeça, jogando o cabelo para trás.
- Ninguém chegou a tempo, filho... – O pai de Aline disse – Aquela menininha é apressada!
Quando a enfermeira apareceu e perguntou pelo pai da criança, Caio e Márcio se entreolharam.
- Ahn...Os dois podem entrar, se quiserem.
E foi o que fizeram. Ao chegarem ao quarto, encontraram Aline com a bebê nos braços.
- Me desculpa por não estar aqui... – Caio disse baixinho, depois de dar um selinho na noiva.
Márcio foi até o outro lado da cama. Os olhos vidrados na bebê, os lábios entreabertos.
- Tudo bem, a Clarinha cuidou muito bem de mim. – Aline sorriu.
Por um instante os três ficaram em silêncio, apenas contemplando a bebê que dormia tranquilamente nos braços da mãe.
- Parabéns – Márcio disse, afagando seus cabelos – Ela é linda. – Ele tinha os olhos marejados.
Aline mordeu o lábio. Mesmo contra sua vontade, ela sentiu o coração se aquecer. Ela achava a bebê parecida com Márcio, mas ainda não queria lhe dizer isso.
- Ela é mesmo linda – Caio concordou – Você está bem?
- Sim. Só estou cansada, muito cansada.
- Eu imagino.
- A mamãe precisa descansar agora – E enfermeira disse – Vocês podem voltar mais tarde.
Caio se despediu com um selinho e Márcio lhe apertou o ombro, suavemente. A enfermeira pegou Ana Julia para levar ao berçário e Aline adormeceu quase que imediatamente, pensando na sorte que sua filha tinha por ter dois pais.

Clara estava na cafeteria da maternidade com a mãe de Aline e Caio. Ela lhes contava sobre o parto.
Márcio estava observando a filha pelo vidro do berçário, quando o pai de Aline se aproximou. Com as mãos nos bolsos, Arthur também observava a neta.
- Eu sei que você acha que eu não deveria estar aqui... – Márcio começou – Mas ela também é minha filha.
Arthur suspirou.
- Olha, eu errei muito com a minha filha. Então, quem sou eu pra te julgar, rapaz?
- Me desculpa, Seu Arthur. Sei que falhei...
Arthur balançou a cabeça e apertou o ombro de Márcio.
- A minha neta é sua cara - Ele deu de ombros e se afastou, deixando Márcio sozinho com seus pensamentos.

Três dias depois, Aline já estava em casa. A sala do apartamento estava repleta de flores e congratulações pela bebê. Eram de Márcio e sua mãe, do pessoal da revista, dos pais e dos irmãos de Caio e de Fred e Leandro também.
Com cuidado, Aline colocou Ana Julia no berço. A bebê tinha acabado de dormir e Aline não queria que ela acordasse. Caio sentou-se na poltrona e Aline sentou-se em seu colo, abraçando-o pelo pescoço.
- Pronto para ser pai? – Ela perguntou, encostando sua testa na dele.
- Mais do que pronto! – Ele sorriu e a beijou.
E o beijo acabou quando a bebê começou a chorar. Aline e Caio se olharam a caíram na gargalhada.


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