Capítulo 14

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Capítulo 14

Assim que entrou no táxi, o telefone de Clara tocou. Ela pegou o aparelho e viu a foto de Gian na tela de ligação recebida. Clara respirou fundo antes de atender, percebendo que ele era tudo o que ela precisava naquele momento.
- Amor... – Ela suspirou ao atender a ligação.
- Oi, Clarinha. Pode vir até o flat? - Clara quase conseguia ver o sorriso nos lábios do namorado.
- Chego em 20 minutos. – Ela se despediu e então passou o endereço do flat de Gian para o motorista.
Clara tinha acesso livre ao apartamento, então praticamente correu da portaria até o elevador, apertando ansiosamente o botão com o número 17. Quando finalmente o elevador parou, Clara saltou e abriu a porta do flat sem bater. Gian estava abrindo uma garrafa de vinho branco na bancada da cozinha.
- Não acredito que você conseguiu uma folga num domingo a noite! – Clara disse e pulou no colo do namorado, que a segurou rindo.
- Consegui – Gian riu e encheu a garota de beijinhos. Gian a pôs no chão e então encheu duas taças.
Os dois brindaram e foram sentar-se ao sofá. Gian terminou sua taça praticamente em um gole só, enquanto Clara apenas bebericou o vinho e repousou a taça sobre a mesa de vidro que ficava no centro da espaçosa sala do flat do namorado.
- Eu estava com saudade... – Clara disse, sentindo Gian lhe envolver a cintura com os braços. – Você devia ter ido à festa comigo ontem...
- Eu não podia, Clara. Você sabe disso.
- Eu sei, mas eu sinto sua falta – Clara o encarou. Os olhos verdes de Gian pareciam mais claros que o usual.
- Me desculpa por isso. Eu também queria que as coisas fossem diferentes. – Gian puxou a namorada para o colo – Eu te amo.
Ele a beijou. E o beijo foi o que bastou para que Clara esquecesse todos os empecilhos que havia no relacionamento dos dois. Clara quebrou o beijo apenas para levantar e foram até o quarto. Já na porta, Gian rapidamente tirou o vestido da namorada e retomou o beijo. Aos tropeços os dois caíram na cama e Clara ajudou o namorado a despir-se.
Ali, deitada na cama com o peso de Gian sobre ela, Clara não conseguia pensar em mais nada. Naquele momento sua vida parecia perfeita. Ela só gostaria que o momento se propagasse infinitamente.

Clara estava quase dormindo, quando Gian se mexeu.
- Eu não posso ficar... – Ele sussurrou e ela despertou por completo.
- O que? Como assim? – Clara puxou o lençol para lhe cobrir os seios enquanto Gian levantava e vestia sua boxer verde.
- Eu disse que precisava resolver um problema no estúdio.
- Gian, é madrugada de domingo! Como você diz que precisa resolver um problema no estúdio?!
- Você sabe que eu não tenho hora para trabalhar. E ela também.
Clara apertou os olhos por um instante. Quando abriu, Gian terminava de vestir a camiseta cinza e procurava os sapatos.
- Nós vamos viajar esta semana...
- Vamos? – Clara ficou confusa.
Gian olhou para ela e levantou a sobrancelha. Então Clara entendeu. Gian calçou os sapatos e posicionou-se em frente ao espelho, arrumando o cabelo. Clara vestiu a lingerie e o vestido azul.
- Ela está de férias, vamos passar duas semanas na Grécia.
Clara engoliu em seco. Sentia a raiva fervilhando dentro de si. Ela sorriu ironicamente.
- Obrigada por me avisar.
Clara saiu do quarto pisando duro, mais uma vez procurando o celular dentro da bolsa para chamar um táxi.
- Clara, espera – Gian foi atrás dela – Não fica assim. Eu não posso fazer muita coisa!
- Você pode sim, Gian! Você simplesmente não quer – Clara discou para o táxi, já sentindo as lágrimas nos olhos.
- Pra quem você ta ligando? – Ele perguntou, no momento em que ela passava o endereço do flat para o taxista. – Não, eu te levo!
- Não, não se preocupa. Eu não quero atrapalhar – Mais uma vez, Clara sorriu ironicamente e saiu do flat.
No hall, ela chamava o elevador sentindo a raiva crescer cada vez mais. Sabia que Gian não iria atrás dela. Ele nunca ia.

Aline acordou com muita vontade de ir ao banheiro. Sem fazer barulho para não acordar Márcio, ela saiu da cama e se aliviou. Mas, quando voltou para o quarto, percebeu que o rapaz estava acordado.
- Desculpa. Eu te acordei, né? – Aline perguntou, enquanto engatinhava na cama até Márcio.
Aline o observou e não gostou da expressão em seu rosto. Sentiu um aperto no peito.
- O que foi? – Ela perguntou. A voz saiu trêmula, já com medo da resposta.
- Eu não posso fazer isso – Márcio disse. Ele tinha o olhar vidrado, olhava para o nada.
- Do que você ta falando?
- Aline... – Márcio respirou fundo e passou as mãos pelo rosto – Eu não posso, ta certo? Eu simplesmente não consigo! Isso... Isso é muita responsabilidade, não estava nos planos!
Aline sentiu a garganta fechar. Márcio e seus planos. O ex-namorado era extremamente metódico. Praticamente já tinha toda sua vida planejada. Não gostava de improvisar, precisava planejar tudo com antecedência. E é claro que um filho não estava nos planos. Pensando agora, Aline também não estava em seus planos. Não oficialmente, pelo menos. Márcio planejava tornar-se presidente da empresa de publicidade do pai em dois anos. E então faria uma viagem à Tailândia, para "renovar as energias", segundo ele. Só agora Aline percebeu que casamento ou filhos não estavam em seus planos.
- Me desculpa...
Márcio começou a falar, mas Aline o interrompeu. Queria chorar, mas sentia-se seca.
- Cala a boca. Só... Cala a boca – Ela sacudiu a cabeça enquanto levantava da cama e procurava suas roupas – Eu não consigo acreditar nisso, Márcio. Como eu pude me apaixonar por alguém tão frio e oportunista como você?!
Aline terminou de se vestir, sentia todo o corpo tremendo. Só queria sair de perto daquele cara.
- Aline, você não pode ir embora. São três da manhã! – Márcio foi atrás dela, ainda vestindo a boxer vermelha.
- Não me fala o que eu tenho que fazer! Eu só quero ficar longe de você, esquecer que um dia você foi a coisa mais importante da minha vida.
Aline lançou um olhar gélido para Márcio e saiu batendo a porta com toda força que tinha.


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