Capítulo 26
Aline não estava se sentindo bem. Na pizzaria, realmente comera por dois. E depois passou mal a noite toda. Não deixou Caio ficar com ela, não queria que ele a visse daquele jeito. Finalmente tinha parado de vomitar, já não aguentava mais ficar abraçada à privada. De fato acabou pegando no sono no chão do banheiro. Deprimente.
Agora estava largada no sofá, sentindo uma azia terrível queimar todo seu estômago. Queria dormir e não sentir mais aquilo.
A campainha tocou e ela levou um susto. Não estava esperando ninguém. Foi até a porta e o que viu pelo olho mágico fez seu coração acelerar.
- Bom dia, amor – Caio disse e ela o abraçou bem apertado. – Ta tudo bem? – Ele perguntou indo com ela até o sofá.
Aline fez um bico.
- Passei mal a noite toda. E agora to morrendo de azia – Ela recostou a cabeça no sofá.
- Você devia ter me ligado.
- Não... Tudo bem, você ta aqui agora.
- Não é melhor você tomar um chá?
Antes que Aline pudesse responder, seu celular começou a tocar. Ela pegou o aparelho que estava em cima da mesinha de centro.
- Mas que merda!- Ela desligou o celular – É o Márcio de novo.
- Por que você não atende?
- Não tenho nada pra falar com ele.
Caio a encarou.
- Eu trouxe um presente.
- Presente? – Aline bateu palminhas e Caio riu enquanto pegava uma pequena sacola.
Aline abriu o embrulho e de dentro tirou um pequeno par de sapatinhos branco de tricô.
- Que amor! – Ela sentiu os olhos marejarem. Era o primeiro presente que seu bebê ganhava. – Obrigada! – Ela agradeceu o abraçou.
- Não quero tomar o lugar de ninguém... – Caio disse, acariciando as costas da namorada – Mas quero fazer parte disso com você. Se você quiser, é claro.
- É o que eu mais quero...- Ela disse, soltando o abraço e aninhando-se a ele.
Caio ficou em silêncio por alguns segundos, ele lia algo na tela de seu celular.
- Você tem maçã aqui? – Perguntou, ainda olhando para o celular.
- Sim. Por que?
- Segundo este site, ajuda a aliviar a azia na gravidez. – Ele corou. – Vamos ter que aprender juntos – Caio disse, balançando o aparelho.
Naquele momento, o coração de Aline encheu-se com uma felicidade enorme: não estava mais sozinha.
- Pais de primeira viagem – Ela riu, dando de ombros.
Aline e Caio passaram o dia inteiro juntos. Dessa vez, ela deixou que ele cuidasse dela. E na verdade até gostou de receber toda aquela atenção. No fundo, estava mesmo carente. E era tão bom e reconfortante saber que alguém se importava com ela. E não apenas seus pais ou seus amigos. E sim aquele homem incrível que realmente queria estar ali com ela e com seu bebê. Aquele homem que aceitou, apesar de toda a sua situação. Estava se apegando muito rápido a ele. Deveria estar com medo, mas não estava. Pois sabia que ele se senti da mesma forma. Era simples. Eles estavam e iriam continuar juntos. Simples assim.
Em algum momento, Aline ligou o celular. Ficou feliz ao ver que Clara tinha enviado uma foto dela e de Pedro fazendo piquenique. Conseguia ver nos olhos da amiga que ela não estava feliz apenas por estar realizando um sonho profissional. Aline quase arriscou um palpite para tal felicidade, mas decidiu não especular.
Caio estava preparando o jantar enquanto Aline foi tomar um banho. Então seu celular começou a tocar e, mais uma vez, era Márcio. Aline não queria falar com ele, e ele deveria entender, já que ela não o atendia. Caio estava tentando não perder a paciência. Atendeu a ligação.
- Alô.
Um segundo de hesitação. Márcio decidindo se falava ou não.
- Você de novo...
- O que você quer, cara?
- Falar com a Aline. Por isso liguei no número dela – Márcio frisou a última palavra.
- Olha, ela não quer falar com você. Certo? Deixa ela em paz. – Caio não esperou a resposta, apenas desligou a ligação.
Assim que Aline saiu do banho, ele a avisou sobre a ligação do ex namorado.
- Devo ficar preocupado? – Caio perguntou
- Não! Não mesmo... – Aline abanou o ar. Márcio podia ter todos os defeitos do mundo, mas não era um sujeito perigoso.
Ela tinha quase certeza disso.
No dia seguinte, Caio saiu cedo para trabalhar. Aline resolveu passar no mercado. Estava com desejo de doce e já ia aproveitar e fazer um agrado para o namorado. Foi a pé, já que o mercado não era longe e não iria comprar muita coisa. Não demorou muito e logo estava de volta ao prédio de Clara. Assim que entrou no hall, o porteiro a chamou.
- Tem um moço esperando pela senhora – Ele informou.
Aline estranhou. Não estava esperando ninguém e todos que conhecia tinham acesso livre no prédio.
- O que você quer? – Aline disparou assim que viu que era Márcio quem a esperava no sofá do hall.
- Conversar, só isso... – Ele se aproximou e pegou as poucas sacolas que ela carregava – Deixa que eu levo isso.
Aline não queria conversar com ele, tampouco queria que ele subisse. Mas não podia expulsá-lo dali. Ela chamou o elevador e subiram em silêncio. Aline podia sentir que os olhos de Márcio estavam fixos nela.
- Certo, o que você quer? – Ela perguntou, assim que entraram no apartamento de Clara. Márcio deixou as sacolas em cima da bancada da cozinha.
- Por que você não me contou sobre seu emprego e o seu apartamento?
Aline soltou um riso sem humor.
- Eu não sei se você percebeu, mas você não faz mais parte da minha vida.
- Eu posso te ajudar, Aline.
- Eu não preciso da sua ajuda!
Márcio ficou em silêncio por um instante, analisando o rosto de Aline.
- Quem é aquele cara que anda atendendo suas ligações? É por causa dele que você tá assim, não é?
- Você não tem nada a ver com isso! Quer saber? Vai embora. Não tenho nada pra conversar com você.
- Não acredito que você já ta com outra pessoa...
Aline parou em frente a porta. Estava de costas pra ele, mas virou para encará-lo.
- É assim que você diz que me ama? – Márcio a olhava com os olhos apertados.
Aline mordeu o lábio, sacudindo a cabeça. Não acreditava que estava ouvindo aquilo.
- Márcio, infelizmente, eu ainda te amo. Mas você não me faz bem! Eu não quero mais estar com você! O Caio entende tudo isso e ele ta me fazendo muito bem.
- Ele sabe que você tá grávida do meu filho?
- Ah, então agora você tem certeza que o filho é seu?! – Aline balançava a cabeça, tentando inutilmente segurar as lágrimas – Você está com o orgulho ferido. Achou que eu fosse chorar por sua causa pelo resto da minha vida, não é? Bom, sinto desapontá-lo, mas eu escolhi seguir em frente.
Márcio deu um passo em direção a ela e Aline ficou imóvel. Ele passou o polegar por sua bochecha.
- Você me ama...Você sabe que me ama... – Ele sussurrava.
Aline abriu um sorriso irônico
- E você torna cada vez mais fácil pra eu deixar esse sentimento ir. – Ela abriu a porta – Cai fora.
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Quando tudo acontece
RomansaAline e Clara são duas amigas que, aparentemente, têm uma boa vida. Aline tem o emprego perfeito, o apartamento perfeito e o namorado perfeito e Clara é uma chef de cozinha bem sucedida que vive para o trabalho e esconde alguns detalhes de seu passa...