Capítulo 2

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Dulce Maria

Vinte e três de junho.

Apenas uma semana para a minha formatura.

- Isso é tudo, senhoras e senhores. Terminamos. Nós repetiremos amanhã.

Irmã Lorelai nos dispensou, noventa garotas da turma de formandos deste ano começaram a conversar, nossos sapatos fazendo barulho na plataforma de madeira erguida no jardim leste da propriedade.

- Haverá uma festa na piscina mais tarde. - Cathy sussurrou para o nosso grupo de cinco meninas. - Os convidados foram escolhidos a dedo. Estamos todos na lista de convidados, é claro. - Ela piscou, agarrando os braços de Mary.

- Roupa de banho opcional? - Mary perguntou.

- Com certeza! - Cathy disse, inclinando a cabeça perto dela.

Elas começaram a rir. Eu não senti vontade de rir.

- Dulce, vamos lá. Você perdeu as três últimas festas! Você não pode perder esta noite. - Cathy disse. - As provas terminaram, você não tem desculpa.

Eu sorri para ela, minha mente em outro lugar.

- Desculpe, esta noite?

Ela ergueu as sobrancelhas.

- Festa? Rapazes?

- Hum...

- Ontem eu recebi um biquíni novo pelo correio! - Disse Mary. - Eu vou te mostrar.

- Eu vou passar pelo meu quarto primeiro - Eu disse, me separando do grupo quando chegamos à mansão onde ficávamos alojadas. Mary murmurou algo, mas eu não me importei. Elas não tinham ideia do que aconteceria comigo daqui a uma semana. E ir a uma festa era a última coisa em minha cabeça.

Era pouco depois das sete da noite. O jantar seria servido dentro de meia hora, mas eu não estava sentindo fome alguma. Eu subi as escadas para o segundo andar onde Cathy e eu, compartilhávamos um quarto, grata por estar sozinha.

Uma semana antes do meu décimo oitavo aniversário.

Como ele faria isso? Eu poderia ir primeiro para casa? Será que ele só apareceria para me buscar? Mandaria alguém?

Eu estremeci, a lembrança de seus frios olhos cinzentos, ainda fresca em minha memória. Sonhei com aqueles olhos muitas vezes nos últimos seis meses e todas as noites nas últimas duas semanas. Aqueles olhos árticos cheios de raiva. Ele era meu inimigo, embora eu não soubesse por quê. Não, isso não era verdade. Eu sabia o porquê. Porque meu sobrenome era Espinosa. Tudo o que precisava era do meu sobrenome para ele me odiar, porque eu o compartilhava com meu avô.

Sempre me perguntei por que Cláu e eu tínhamos o sobrenome da minha mãe e não o do nosso pai. Eu entendia agora. Era necessário para a herança. Os herdeiros da fortuna Espinosa tinham que levar o sobrenome.

No escritório, seis meses atrás, eu soube que minha mãe fugiu de casa para se casar com meu pai. E eu sabia que estava certa. Que o nosso avô tinha poucos sentimentos em relação a nós, ao nos tirar de nossa propriedade. Levar-nos não foi uma gentileza. Foi à vitória dele sobre a minha falecida mãe. Por seu pecado de se apaixonar por um homem que ele não aprovou.

Eu soube que ele teve negócios com o pai de Christopher, o que deixou Cláu e eu expostas, vulneráveis. Isso foi tudo o que ele disse. Ele me disse que Christopher estava em posição de exigir coisas.

Minha querida -Como se ele já tivesse me tratado como querida- E se eu quisesse o melhor para a minha irmã, era melhor eu obedecer. Era a única maneira de salvar Cláu, ele disse.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora