Capítulo 12 Parte 2

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— Eu não queria assustá-la.

Por um breve momento, eu pensei que fosse Christopher. Mas então Bruno sorriu, e eu esperava que ele não visse minha decepção.

Forcei um sorriso.

— Não, você não me assustou. Eu estou apenas nervosa. — Envergonhada, eu gesticulei à minha volta. — O anoitecer em um cemitério. Provavelmente não é a minha jogada mais inteligente.

Bruno caminhou em minha direção.

— Cheguei cedo. Eu gosto de vir à capela quando eu estou aqui. — Ele olhou para a sepultura. — Ele não vai deixar ninguém fazer a restauração dela.

Eu segui seu olhar para o dente-de-leão.

— Por que não?

Bruno balançou a cabeça e olhou para mim, e a semelhança em suas feições me surpreendeu.

— Se eu conheço o meu irmão, ele se sente culpado por sua morte. Ele é assim. Por mais duro que aparente ser do lado de fora, em seu interior é diferente. Sempre foi assim.

Uma súbita rajada de vento me fez tremer.

Bruno tirou o casaco que usava e colocou sobre meus ombros. O gesto foi amável, e talvez pelo fato que ele era quase um padre eu não vi com segundas intenções. Notei que ele usava uma camiseta preta por baixo, e notei que ele era musculoso como seu irmão, e rapidamente parei de olhar.

— Vamos, vamos entrar. Não vai estar muito mais quente, mas você vai estar longe do vento.

Subi as escadas com Bruno atrás de mim. Ele abriu a porta e eu entrei.

— Como você conseguiu chegar até aqui sozinha afinal?

— Você está falando de Taylor?

Ele assentiu.

— Ele estava jantando.

— Christopher não vai gostar disso.

— Que pena. Em todo caso, não sei por que ele precisa ficar me vigiando.

— É para sua proteção. De Gail e da equipe. Nosso pai tinha inimigos.

— Eu sei. Mais ainda é estranho. — Nós nos sentamos em um banco. — Posso te perguntar uma coisa?

— Claro.

— Eu sei que parece estranho, mas a coisa de padre... — Eu balancei a cabeça. — Sinto muito, não é da minha conta realmente, mas eu só quero entender.

— Está tudo bem. Eu acho que é uma questão normal, mas eu realmente não tenho uma resposta. Não uma que faça sentido. É apenas.... Um sentimento.

Concordei, embora eu não tivesse certeza de que entendia o que ele queria dizer.

Ele continuou.

— Eu gosto daqui. Sempre me alivia de alguma forma. Mesmo que eu viva em um seminário e frequente diariamente a missa, esta pequena capela me faz sentir algo diferente.

— É um lugar especial.

— Talvez eu goste da cerimônia da igreja católica. A disciplina. Ela também me acalma, suponho. Mas talvez eu só esteja tentando escapar do passado. De quem eu sou. Do sangue em minhas veias. — Nós dois olhamos para o altar enquanto falávamos.

— Você também se sente culpado.

— Não, é diferente.

— Alguma vez você já se apaixonou? — Eu perguntei antes que pudesse me conter.

Ele sorriu para mim e encolheu os ombros.

— Eu passei por um período em que me apaixonava toda noite por uma mulher diferente. —Senti-me corar. — Como meu irmão está te tratando? — Perguntou.

— Ele está... Diferente do que eu pensei que ele estaria.

— Ele não é um monstro, Dulce. Quando eu te conheci, eu pensei que você pudesse ajudá-lo a ver isso. Mas você tem que ver primeiro.

— Eu vejo. Essa é a coisa. Eu só não entendo ele, eu acho. Eu esperava que ele fosse cruel. Ou mais cruel. Faria mais sentido se ele fosse. — Nós sentamos em silêncio por um minuto, nossos olhos no altar. Quando um pequeno rato correu por cima dele, eu me assustei.

— Eu acho que ele vive aqui — disse Bruno com um sorriso. — Ele parece estar aqui toda vez que eu venho.

— Eu acho que seria bom a capela ser usada para alguma... Coisa, mesmo que seja apenas um rato. — Eu virei para ele. — Bruno, estou certa de que isso é muito pessoal, mas.... Eu não sei como perguntar na verdade.

— Basta perguntar.

Ele era tão franco e tão fácil de falar.

— Christopher tem marcas nas costas.

O rosto de Bruno ficou sombrio, e ele desviou o olhar do meu.

— E eu estava no porão outra noite. O encontrei lá. Ele disse que foi até o túmulo da mãe de vocês, e sei que ele estava bebendo, e ele... Ele não era ele mesmo. — Eu hesitei, mas decidi dizer a ele o que eu pensava. — Eu vi o pilar.

Ele assentiu e voltou sua atenção para o altar.

— Nosso pai não era um homem gentil, Dulce — disse ele solenemente antes de olhar para mim novamente. — E Christopher era um bom irmão. Um irmão protetor para mim e Lucas.

— O que...

— O resto é ele quem tem que te contar.

A porta batendo contra a parede surpreendeu a nós dois. Eu pulei, ofegando, e nós dois nos viramos para olhar para trás. Christopher estava na entrada da capela, uma mão contra a porta que ele acabou de esmagar contra a parede, o outro punho apertado em seu lado, seu rosto duro.

Bruno se levantou.

— Irmão.

— Acolhedor aqui dentro — disse Christopher, seu olhar mudando de seu irmão para mim, a acusação em seus olhos arrepiante. — Eu estava procurando por você.

— Você não estava em casa — eu disse, sentindo-me culpada, mas não sei por quê.

— Você não deveria vir aqui sozinha. Vai escurecer em breve.

— Você simplesmente desaparece e espera que eu fique sentada esperando você?

Christopher ignorou o meu comentário, mas não negou. Ele voltou sua atenção para Bruno e inclinou a cabeça para o lado.

— O que você estava dizendo a ela?

— Ele não estava me dizendo nada — eu cruzei os braços sobre o peito. — Você desapareceu, — eu repeti.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora