— Eu não queria assustá-la.
Por um breve momento, eu pensei que fosse Christopher. Mas então Bruno sorriu, e eu esperava que ele não visse minha decepção.
Forcei um sorriso.
— Não, você não me assustou. Eu estou apenas nervosa. — Envergonhada, eu gesticulei à minha volta. — O anoitecer em um cemitério. Provavelmente não é a minha jogada mais inteligente.
Bruno caminhou em minha direção.
— Cheguei cedo. Eu gosto de vir à capela quando eu estou aqui. — Ele olhou para a sepultura. — Ele não vai deixar ninguém fazer a restauração dela.
Eu segui seu olhar para o dente-de-leão.
— Por que não?
Bruno balançou a cabeça e olhou para mim, e a semelhança em suas feições me surpreendeu.
— Se eu conheço o meu irmão, ele se sente culpado por sua morte. Ele é assim. Por mais duro que aparente ser do lado de fora, em seu interior é diferente. Sempre foi assim.
Uma súbita rajada de vento me fez tremer.
Bruno tirou o casaco que usava e colocou sobre meus ombros. O gesto foi amável, e talvez pelo fato que ele era quase um padre eu não vi com segundas intenções. Notei que ele usava uma camiseta preta por baixo, e notei que ele era musculoso como seu irmão, e rapidamente parei de olhar.
— Vamos, vamos entrar. Não vai estar muito mais quente, mas você vai estar longe do vento.
Subi as escadas com Bruno atrás de mim. Ele abriu a porta e eu entrei.
— Como você conseguiu chegar até aqui sozinha afinal?
— Você está falando de Taylor?
Ele assentiu.
— Ele estava jantando.
— Christopher não vai gostar disso.
— Que pena. Em todo caso, não sei por que ele precisa ficar me vigiando.
— É para sua proteção. De Gail e da equipe. Nosso pai tinha inimigos.
— Eu sei. Mais ainda é estranho. — Nós nos sentamos em um banco. — Posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Eu sei que parece estranho, mas a coisa de padre... — Eu balancei a cabeça. — Sinto muito, não é da minha conta realmente, mas eu só quero entender.
— Está tudo bem. Eu acho que é uma questão normal, mas eu realmente não tenho uma resposta. Não uma que faça sentido. É apenas.... Um sentimento.
Concordei, embora eu não tivesse certeza de que entendia o que ele queria dizer.
Ele continuou.
— Eu gosto daqui. Sempre me alivia de alguma forma. Mesmo que eu viva em um seminário e frequente diariamente a missa, esta pequena capela me faz sentir algo diferente.
— É um lugar especial.
— Talvez eu goste da cerimônia da igreja católica. A disciplina. Ela também me acalma, suponho. Mas talvez eu só esteja tentando escapar do passado. De quem eu sou. Do sangue em minhas veias. — Nós dois olhamos para o altar enquanto falávamos.
— Você também se sente culpado.
— Não, é diferente.
— Alguma vez você já se apaixonou? — Eu perguntei antes que pudesse me conter.
Ele sorriu para mim e encolheu os ombros.
— Eu passei por um período em que me apaixonava toda noite por uma mulher diferente. —Senti-me corar. — Como meu irmão está te tratando? — Perguntou.
— Ele está... Diferente do que eu pensei que ele estaria.
— Ele não é um monstro, Dulce. Quando eu te conheci, eu pensei que você pudesse ajudá-lo a ver isso. Mas você tem que ver primeiro.
— Eu vejo. Essa é a coisa. Eu só não entendo ele, eu acho. Eu esperava que ele fosse cruel. Ou mais cruel. Faria mais sentido se ele fosse. — Nós sentamos em silêncio por um minuto, nossos olhos no altar. Quando um pequeno rato correu por cima dele, eu me assustei.
— Eu acho que ele vive aqui — disse Bruno com um sorriso. — Ele parece estar aqui toda vez que eu venho.
— Eu acho que seria bom a capela ser usada para alguma... Coisa, mesmo que seja apenas um rato. — Eu virei para ele. — Bruno, estou certa de que isso é muito pessoal, mas.... Eu não sei como perguntar na verdade.
— Basta perguntar.
Ele era tão franco e tão fácil de falar.
— Christopher tem marcas nas costas.
O rosto de Bruno ficou sombrio, e ele desviou o olhar do meu.
— E eu estava no porão outra noite. O encontrei lá. Ele disse que foi até o túmulo da mãe de vocês, e sei que ele estava bebendo, e ele... Ele não era ele mesmo. — Eu hesitei, mas decidi dizer a ele o que eu pensava. — Eu vi o pilar.
Ele assentiu e voltou sua atenção para o altar.
— Nosso pai não era um homem gentil, Dulce — disse ele solenemente antes de olhar para mim novamente. — E Christopher era um bom irmão. Um irmão protetor para mim e Lucas.
— O que...
— O resto é ele quem tem que te contar.
A porta batendo contra a parede surpreendeu a nós dois. Eu pulei, ofegando, e nós dois nos viramos para olhar para trás. Christopher estava na entrada da capela, uma mão contra a porta que ele acabou de esmagar contra a parede, o outro punho apertado em seu lado, seu rosto duro.
Bruno se levantou.
— Irmão.
— Acolhedor aqui dentro — disse Christopher, seu olhar mudando de seu irmão para mim, a acusação em seus olhos arrepiante. — Eu estava procurando por você.
— Você não estava em casa — eu disse, sentindo-me culpada, mas não sei por quê.
— Você não deveria vir aqui sozinha. Vai escurecer em breve.
— Você simplesmente desaparece e espera que eu fique sentada esperando você?
Christopher ignorou o meu comentário, mas não negou. Ele voltou sua atenção para Bruno e inclinou a cabeça para o lado.
— O que você estava dizendo a ela?
— Ele não estava me dizendo nada — eu cruzei os braços sobre o peito. — Você desapareceu, — eu repeti.
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Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)
FanfictionDulce promete se casar com Christopher em seu décimo oitavo aniversário para liquidar uma dívida antiga. Como seu avô deve muito dinheiro, ele usa Dulce como um peão sem valor. Ela fica mais do que irritada com a situação, mas ela segue com o arranj...