Capítulo 18 Parte 2 ( M 4/5

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Que ironia, como paralelas nossas vidas pareciam. Estranhamente o mesmo. Nossos caminhos não se limitaram a cruzar-se. Eles seguiram exatamente o mesmo caminho. O que seu avô precipitou, a perda que matou a minha mãe, eu a repetiria. Eu repetiria a história conscientemente. Eu atearia fogo nas terras dos Espinosa. Apagaria a vinha e o nome Espinosa.

Adormeci com esses pensamentos correndo pela minha mente, e o pesadelo que eu tive mil vezes antes era diferente desta vez. Eu sabia pela forma como começou, sabia quando eu me engasguei com a fumaça, tentando em vão alcançá-la, sabendo que seria tarde demais.

Eu sempre chegava tarde demais.

Desta vez, a casa era diferente.

Desta vez, não havia sirenes, apenas o som de fogo e destruição em uma casa já destruída. Desta vez, quando cheguei ao quarto e bati na porta e a ouvi, eu sabia que era tarde demais, sabia que o que eu ouvi era a morte dela.

E desta vez, quando eu arrombei a porta, não foi o corpo carbonizado de minha mãe que eu encontrei. Não era ela.

Eu subi na cama, respirando com dificuldade, suor me cobrindo. Minhas pálpebras se abriram, banindo o sono, deixando apenas a carcaça dessa versão do pesadelo que se repetiu durante seis anos. Olhei para Dulce ao meu lado, que de alguma forma ainda dormia.

Ela seria a Bela Adormecida que se transformaria em cinzas desta vez?

Seria eu quem pegaria o fósforo e acenderia o fogo?

Quem mais, a não ser eu, a destruiria?

Eu lhe disse que não seria uma besta com ela, mas não era essa a minha intenção o tempo todo? Sua destruição não era o centro dessa trama de vingança? Não estava em movimento agora, totalmente em jogo, depois da mudança que seu avô fez no contrato?

Eu era um monstro. Eu sabia. Mas a destruiria?

Ela?

Enquanto minha mente lutava, ela dormia, alheia e inconsciente ao meu lado. Ela tinha um poder tão estranho sobre mim.

Por que eu não podia odiá-la? Era para eu odiá-la.

Eu saí da cama, com raiva, irritado e frustrado, e desci as escadas, através da cozinha, levando à velha e fiel, garrafa de whisky, comigo. Eu não me incomodei com um copo. Não precisava de um. Eu sabia onde eu estava indo. Para aquele lugar odioso.

Ainda sem uma fechadura na porta. Eu não poderia fazê-lo. Não poderia não ser capaz de chegar lá.

Abri a porta do porão, o cheiro já me fazendo voltar anos e anos.

Este era um tipo torcido de santuário? Uma coisa emaranhada, escura, que eu não poderia escapar, que eu temia que me atraísse de volta uma e outra vez?

Eu bebia goles de uísque quando desci as escadas. Sem luzes esta noite. Eu não precisava delas. Eu conhecia cada centímetro do lugar, e as duas pequenas janelas no topo de uma parede deixavam entrar luz da lua suficiente. Destacando o pelourinho, como se fosse um holofote brilhando sobre a coisa.

Retirei a tampa da primeira mesa, deixando-a cair no chão. Uma aranha rastejou para longe, suas longas pernas delicadas sobre o couro desgastado. Os chicotes estavam todos enrolados como se estivessem esperando sua vez. Eles não teriam, no entanto. Nunca mais. Não nas minhas costas.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora