Christopher
Sentei-me no meu escritório com a porta trancada, lendo pela centésima vez a alteração do contrato que seu avô fizera. Por mais que eu o odiasse por isso, parte de mim queria, se alegrava.
Essa era a parte doente. A parte que eu tentei avisá-la. A parte que ela tinha certeza que não existia.
Eu balancei minha cabeça, meus pensamentos vagando novamente para ontem à noite. Eu deveria colocar um cadeado na porta do porão. Eu não poderia tê-la indo lá de novo. Eu não poderia tê-la vendo o que estava por baixo daqueles lençóis. Maldição, eu deveria selar aquela porta. Talvez então eu pudesse esquecer as coisas que aconteceram naquele cômodo.
Ontem à noite foi a primeira vez que eu estive lá em mais de seis anos. Estava chovendo, e eu precisava ir à capela. Para o cemitério atrás dela. Eu não mostrei a Dulce essa parte quando lhe mostrei a pequena igreja. Parecia muito pessoal, muito privado. Minha desculpa para usar o túnel foi a chuva, embora estivesse fraca. Eu não me importava de me molhar, e se eu quisesse, eu poderia ter dirigido.
Eu queria ver se aquele porão ainda tinha poder sobre mim. Se os horrores dele ainda me assombravam. Eu pensei que era mais forte. Que esse tempo tivesse me endurecido. Que seis anos na maldita prisão teriam esmagado essas memórias, mas elas não tinham. Nada jamais poderia. Sempre que eu descesse aquelas escadas, eu me tornaria aquele garotinho de novo, o assustado garotinho mijando em suas malditas calças.
Eu cerrei os dentes.
Poderia ser pior. Eu poderia ser como ele em vez disso. Como o meu pai. Porra, eu não tinha certeza de que eu não era. Não seria melhor ser a vítima?
Não. Foda-se, não.
Nunca era melhor ser a vítima. Eu precisava me lembrar disso, e talvez o que eu precisasse fosse de mais fodidas visitas a esse inferno, não menos. Talvez o que eu precisasse era de alguém que usasse o chicote em mim novamente.
Para me ensinar. Para me endurecer.
O corpo quente de Dulce pressionando contra o meu a noite toda, o som tranquilo da sua respiração, a sensação de sua suavidade quando ela finalmente relaxou nos meus braços, finalmente me permitiu respirar.
Nos meus braços.
Porra.
Ela me surpreendeu quando eu voltei para o porão. Esse era o último lugar em que eu esperava encontrá-la. Eu sempre quis vê-la. Ela não pertence a este mundo. Eu quis dizer o que eu disse, o passado assombrava aquele porão, e esse passado está cheio de horrores. O lugar dela não era ali, e eu estaria ferrado se eu o deixasse tocá-la. Sujá-la. Tomar sua inocência.
Mas eu não estava fazendo o mesmo? Roubando isso dela?
Eu não precisava do passado para sujá-la. Eu mesmo faria um bom trabalho. Eu a queria. E o jeito que eu a queria era diferente do que eu esperava, do que planejei. Ela deveria ter medo de mim. Esse era o plano. Mas segurando-a ontem à noite, segurando-a em meus braços, ela cuidando de mim... Cuidando de mim? Por que ela fez isso?
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Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)
FanfictionDulce promete se casar com Christopher em seu décimo oitavo aniversário para liquidar uma dívida antiga. Como seu avô deve muito dinheiro, ele usa Dulce como um peão sem valor. Ela fica mais do que irritada com a situação, mas ela segue com o arranj...