Capítulo 13 Parte 1

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Christopher

Após a noite em Civitella in Val di Chiana, duvidei que Dulce apreciaria que estaríamos casando na Basílica de Santa Croce em Florença, ao lado dos lugares de descanso de Michelangelo, Galileu e Maquiavel, diante dos olhos de Deus e de um punhado de testemunhas e fodidas multidões de turistas. Os turistas eram inevitáveis nesta época do ano. Eu quase poderia tolerá-los.

Custou uma contribuição exorbitante para reservar a basílica, mas isso só concretizava o meu pensamento. O dinheiro compra tudo o que inclui a igreja. Mas eu tinha que admitir, esta era uma magnífica exibição da devoção e da arte, mesmo que fosse desperdiçada.

Eu estava no altar, esperando a minha noiva. A corda pouco fez para manter os visitantes curiosos à distância. Ao meu lado estava Taylor como testemunha e outro homem arranjado por meu advogado. Eu não sabia quem ele era. No banco da frente estava sentado o avô de Dulce, o grande Fernando Espinosa, sua expressão ilegível. Ao seu lado sentou Cláu. Menor do que Dulce, mas não por muito. Tão bonita quanto ela. O velho manteve sua parte no acordo depois de eu ter assinado o contrato alterado. Do outro lado do corredor estava Gail. Eu não convidei ninguém para o casamento.

Cerca de duas dezenas de estranhos, fiéis que provavelmente não estavam esperando um casamento, distribuídos pelos outros bancos, dando a aparência de convidados. O padre limpou a garganta e fez uma demonstração de verificar o relógio.

Demorou mais cinco minutos antes que as portas fossem abertas, e alguém entrou para sinalizar para a música. O organista começou a tocar a marcha nupcial, e eu tomei um momento para endireitar minha gravata. Eu usava preto sobre preto. Era apropriado.

Dois homens seguravam as grandes portas de entrada dos fiéis. Pela luz do sol lá fora, eu conseguia distinguir as duas formas, o branco do vestido lançando uma espécie de halo em torno de Dulce.

Ao seu lado estava meu irmão. Meu maldito irmão. Alto e orgulhoso em seu terno, o braço de Dulce enfiado no seu. Eu quase podia vê-lo dando tapinhas, dizendo-lhe que ficaria tudo bem. Tranquilizando-a quando ele não tinha nada a fazer.

Eu não sabia quando ela lhe pediu para levá-la até o altar. Eu entendi que ela não queria seu avô. Isso fazia sentido perfeitamente. Mas isso? Isso me irritou, na verdade.

O organista começou a marcha novamente, e eles deram os primeiros passos. Quando entraram na igreja, eu podia ver seus rostos. Meu irmão, depois de todo o seu apoio a algumas noites atrás, agora me condenava com seu olhar. Fiquei imaginando o quanto ele sabia. Quanto ela lhe disse.

Dulce olhou para o chão. O véu a protegia até que ela estava a cerca de um terço do caminho até o altar. Foi quando ela hesitou. Bruno fez uma pausa também, em seguida, sussurrou algo para ela. Ela pareceu levar um minuto para se recompor, e diante dos meus olhos, ela se endireitou, mais alta, sua coluna ereta. Ela olhou diretamente para mim.

Eu encontrei o seu olhar, senti o frio não natural dentro de seus olhos, aceitei as acusações que ela jogou como granadas. Mas ela nunca me pareceu mais bonita do que naquele momento.

O caimento do vestido como se tivesse sido feito para ela, abraçando suas curvas delicadas, o antigo véu com bordas amareladas não a escondia completamente, mas acrescentava um ar quase etéreo a ela, à sua beleza. Seu cabelo foi intricadamente trançado, apenas algumas suaves mechas caindo em seu rosto, sobre seu ombro, e seus olhos azuis brilhavam como se cobertos por uma camada de cristais de gelo.

Ela nunca desviou o olhar. Não vacilou novamente enquanto Bruno caminhava com ela para mim. Quando ele olhou para ela, o olhar que eles trocaram me fez fechar as mãos em meus lados. Não era atração ou afeto, não mais do que a amizade, mas parecia como se um vínculo tivesse se formado entre eles, e eu sabia pela maneira como ele olhou para mim, a maneira como olhou para ela, que ele sabia o que aconteceu entre nós. O que ainda aconteceria.

Eu o odiava por isso naquele momento. Eu o odiava por ter alguma coisa dela que eu não tinha. Que eu nunca teria.

Meu irmão levantou o véu e deu-lhe um sorriso gentil, um beijo na bochecha. Uma palavra sussurrada. Eu o mataria por isso, porra.

Ele então a virou para mim.

Lágrimas brilhavam em seus olhos. Seu lábio não tremeu. Quando ela olhou para mim, tudo o que vi foi ódio. Um ódio que veio da traição. Destruindo uma relação que ainda estava sendo construída.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora