Capítulo 7 Parte 2

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Ela era doce, inocente e assustada.

E eu destruiria seu mundo tijolo por tijolo.

Ela não percebeu o que eu faria com o negócio da sua família. Ela pensou que eu tomaria sua herança e fugiria. Ela pensou que estava salvando sua irmã, sacrificando-se. Bem, se ela ainda não me odiasse no momento da entrega da herança, quando ela realmente entendesse o que eu faria. Seria tarde demais.

Não que isso importasse. Ela estava certa quando disse que eu não estava buscando absolvição. Eu não tinha interesse em perdão. O ódio e a traição queimaram qualquer bondade, qualquer honra, dentro de mim.

E eu não poderia me importar menos se ela me odiava.

***

Já passava das dez da manhã, quando Dulce desceu as escadas. Gail e sua equipe já estavam ocupadas cozinhando, e eu tinha acabado de entrar para pegar uma segunda xícara de café. Ela estava com seu cabelo molhado em um coque bagunçado e usava um vestido rosa pálido e parecia mais do que um pouco desconfortável ao entrar na cozinha.

— Bom dia — eu disse.

Ela corou, então limpou a garganta.

— Bom dia.

— Café ou chá?

— Café, por favor.

— Pão fresco para o café da manhã? — Perguntei.

Ela olhou para o balcão, onde Gail colocou uma cesta de pães e pequenos bolos.

— Cheira maravilhoso. — Ela olhou para Gail e repetiu o mesmo em italiano. Foi com forte sotaque, e a sentença estava fora de ordem, mas funcionou. Gail acenou com a cabeça.

— Dor de cabeça? — Perguntei, certificando-me de que ela soubesse que eu me lembrava da noite anterior.

— Estou bem.

Mentirosa.

— Bem, se você sentir mais tarde, há advil naquele armário. Venha, vamos comer lá fora.

Eu levei nossas xícaras de café, e ela me seguiu. Eu a vi olhar nos arredores, a bela ascensão e queda das colinas, os vastos campos verdes. A vinha morta. Sentamo-nos à mesa, e ela pegou um pedaço de pão e manteiga.

— Seu irmão disse que ia para o seminário?

— Sim. Ele quer se tornar padre.

— Ele tem apenas vinte e quatro anos. Eu acho que só conheci sacerdotes velhos.

— Nossa mãe era uma católica devota. Ela deve ter passado um pouco disso para ele.

— E você nem sequer acredita em Deus. —Dei de ombros. — Você não é próximo de nenhum dos seus irmãos. Sério? Nem mesmo de Bruno que é seu gêmeo.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu acho que não posso imaginar isso. Eu não sei o que eu faria sem Cláu.

Um silêncio constrangedor se estendeu entre nós.

— Eu tenho alguns negócios na fazenda vizinha, então eu vou estar fora a maior parte do dia.

— Posso ir com você? Eu não quero ficar aqui sozinha o dia todo.

— A costureira virá à tarde para ajustar seu vestido de noiva.

— Um vestido de noiva? Eu achei que seria uma cerimônia civil.

— Na frente de Deus e do homem.

Ela não seguiu com a conversa.

— Você disse que me levaria a um passeio.

— Mais tarde. — Olhei para o relógio.

— Já acabei. Eu não vou fazer você se atrasar.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora