Capítulo 19 Parte 7

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Depois de me servir uma xícara de café, eu fui para fora. Seguida por Charlie. Os campos estavam quietos, não havia outra pessoa à vista, até onde eu podia ver. Caminhei em direção ao vinhedo com o meu café, aproveitando o sol, o silêncio em volta de mim, desapontada por Cláu ter me deixado, mas feliz por ela ter saído. Ela tinha apenas alguns dias restantes, e era bom que Bruno estivesse aqui e pudesse lhe mostrar a redondeza. Mas o que eu faria aqui o dia inteiro? Ficar aqui, dando voltas na casa, só me faria me sentir isolada, ainda mais sozinha. Eu me perguntei se eu já poderia chamar esse lugar de casa.

Eu tirei meu telefone do meu bolso e liguei para Cláu, mas foi diretamente para o correio de voz. Deixei-lhe uma mensagem e disse-lhe para se divertir, então tentei o telefone de Bruno. Ele também foi para o correio de voz.

Então eu fiz outra coisa. Algo que eu sabia que Christopher não aprovaria. Mas se ele estava ocupado com suas reuniões e esperava que eu ficasse aqui sozinha o dia todo e apenas deixasse tudo acontecer à minha volta, bem, ele estava muito enganado. Eu tive que lembrar que não importa o que acontecesse entre nós, este homem carregava um monte de bagagem. O abuso físico quando criança, provavelmente acompanhado por abuso emocional e mental. Assassinato — mesmo que fosse autodefesa. Prisão.

Não importava o que ele fizesse, não importava o quanto eu queria que as coisas fossem bem, não importava o quanto eu precisava acreditar que os demônios podem ser banidos, eu precisava lembrar a realidade das coisas. E sua mão apertando a minha garganta esta manhã, bem, isso era realidade.

Toquei meu pescoço, que parecia tenso. Contusões já começaram a se formar, e eu decidi que não as cobriria. Ele deveria ver do que era capaz. Todos deveriam.

Procurando em meu celular, eu encontrei o número do meu avô. Ele atendeu no segundo toque.

— Aqui é Fernando Espinosa — disse ele formalmente.

Revirei os olhos. Ele tinha que saber que era eu. Ele veria o meu nome na tela.

— É Dulce — eu disse.

— Bom dia, Dulce.

— Bom dia, avô.

Um momento constrangedor.

— Isso é uma surpresa. Uma agradável.

— Eu... — O que eu estava fazendo? — Eu preciso ver você.

— Tudo bem. Estou me preparando para ir até a vinícola. Você se importaria de me acompanhar? Dar uma olhada em tudo?

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora