Capítulo 9 Parte 3

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— Este sou exatamente eu! — Rugi, anos de raiva vocalizando agora.

Como ela pensou que me conhecia se eu não me conheço, porra?

Eu apertei, e ela agarrou meu braço, tentando me fazer soltar. Seu rosto ficou vermelho, com os olhos arregalados, e a coisa doente era, o medo neles, só incendiava uma coisa que já queimava como uma porra de uma marca dentro de mim.

— Eu matei meu pai com minhas próprias mãos, Dulce. Você acha que eu não vou te machucar?

— Autodefesa não é o mesmo que assassinato — Ela conseguiu dizer, com lágrimas escorrendo pelos cantos dos olhos.

— Seu medo me deixa duro — Eu sussurrei perto de seu rosto. — Isso deve te deixar com medo. — Eu apertei mais uma vez, então soltei sua garganta e me endireitei, pairando sobre ela. Ela levou as mãos à garganta e virou a cabeça, tossindo. Eu assisti até que finalmente, ela desviou o olhar de volta para mim.

— Sim — ela murmurou. — Você me deixa com medo.

Seus olhos me prenderam, virando o jogo, mesmo com o som de derrota em sua voz.

— Você ganhou, Christopher. Você não acha que eu sei disso? Que você já ganhou?

Eu me endireitei, meu peso nas minhas coxas, então eu não a esmagava.

— Você me disse que não seria uma besta para mim, mas olhe para você — disse ela. — Você pode me obrigar a fazer o que quiser. Nós dois sabemos disso. Você pode tomar o que quiser, você pode tirar cada coisa de mim. Você pode me forçar...

Sua voz sumiu, e ela nunca terminou essa parte.

— Você pode me trancar, e não haveria nada que eu pudesse fazer sobre isso. Mas você sabe o que é ainda mais terrível do que ficar com medo?

Sua voz falhou, lágrimas acumulando em seus olhos.

— O fato de que eu sei, que eu acredito com todo meu coração, que não é o que você quer. Não é quem você é.

Pisquei várias vezes e passei uma mão pelo meu cabelo.

Ela se moveu debaixo de mim, retirando suas pernas, tropeçando e ficando de pé. Ela pegou sua toalha, segurando-a contra seu peito, outra barreira entre nós, enquanto me ajoelhava aos seus pés.

Incapaz de me mover.

Incapaz até mesmo de olhar para ela.

Abaixo dela.

Ela manteve uma ampla distância enquanto cambaleava para trás e para longe, em direção a casa. Virei-me para vê-la ir, vê-la correr, água pingando enquanto ela desaparecia no interior. E tudo que eu podia fazer era sentar-me lá. Tudo o que eu podia fazer era nada.

Eu era um monstro. Eu sabia. Eu sabia disso há muito tempo.

Tome cuidado ao lutar contra os monstros, para que você não se torne um.

Minha mãe costumava me dizer isso. A sua citação favorita de Nietzsche.

Eu lutei por ela também. Eu lutei com ele. Eu sempre perdi. Eu sempre soube que eu perderia, mas mesmo assim eu lutei, e eu aceitei as punições, suportei as consequências.

Eu acho que eu não percebi quando a transformação aconteceu. Quando o monstro me derrotou. Derrotou-me e me fez gostar dele. Como o meu pai.

Eu cambaleei e fiquei de pé como um homem bêbado e entrei em casa, para o meu quarto, incapaz de sequer olhar para a porta fechada. Não me incomodei em tomar banho. Eu só coloquei um par de jeans e uma camiseta, entrei no carro e dirigi, sem saber onde eu estava indo até que passei pelos portões do seminário.

Eu nunca estive aqui antes. Enquanto eu estava na prisão foi que Bruno me contou seus planos. Nós realmente não tínhamos falado muito antes disso. Bruno e eu, éramos o oposto. Acho que, de certa forma, nós dois estávamos sobrevivendo.

Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora