Dulce
A diferença do fuso horário dificultou o meu sono, então, quando eu acordei às três horas da manhã, aproximadamente, eu não fiquei surpresa. Depois de revirar na cama durante meia hora, eu desisti. Eu estava bem acordada.
Jogando as cobertas para o lado, me levantei e fui para uma das janelas, empurrando a cortina, vendo o rico e aveludado céu azul-escuro, salpicado de estrelas cintilantes. Mais do que eu via em casa, mais do que na escola. Era uma noite clara, e eu senti como se pudesse olhar para ele para sempre. As poucas nuvens que flutuavam passavam pelo brilho prata ao luar.
Os jardins estavam quietos, e eu vi mais uma vez as sombras da vinha em ruínas. Parecia impossível que o pai de Christopher a queimasse. E mais impossível ainda que ele o fizesse para pagar meu avô por uma dívida.
Eu não sabia muito sobre o processo de cultivo de uvas ou fabricação de vinho. Parecia estranho agora, considerando que era aonde o dinheiro da minha família vinha. Eu me perguntei se ele poderia recomeçar a plantação, reutilizando a terra. Parecia um desperdício e uma vergonha deixá-la morta.
Embora se encaixasse, de certa forma. Uma parte de Christopher estava morta também. Estremeci e soltei a cortina, envolvendo-me em meus braços. Peguei um suéter que pendurei no encosto da cadeira, coloquei-o sobre meus ombros, e calcei um par de chinelos. Eu iria para a cozinha e faria uma xícara de chá.
Eu olhei para a direita e para a esquerda, mas o corredor estava quieto. Eu me perguntava qual era o quarto de Christopher enquanto eu descia as escadas e ia para a cozinha, que foi ampliada e, a julgar pela parede, parecia ter cerca de duas vezes o tamanho original. Eu abri a porta e entrei, acendendo a luz. Parecia quase assustadora agora, apenas comigo aqui, mas eu deixei esse pensamento de lado e encontrei a chaleira, enchi-a com água e coloquei sobre uma das seis trempes, acendendo-a.
Eu, então, comecei a procurar canecas e saquinhos de chá. Foi quando uma luz externa se acendeu, me assustando. Um detector de movimento? A porta se abriu antes que minha imaginação pudesse trabalhar, Christopher entrou. Ele parou na porta, tão surpreso por me ver quanto eu estava por vê-lo.
Ele parecia diferente, seu cabelo bagunçado, o rosto relaxado, sem a arrogância habitual. Ele usava jeans e uma camiseta branca apertada com decote em V, que abraçava seus ombros e braços, dando-me um vislumbre dos músculos por baixo dela.
Engoli em seco.
Ele limpou a sujeira de seus sapatos e os tirou, em seguida, entrou e fechou a porta.
A chaleira assoviou, mas tudo que eu podia fazer era olhar para ele. Ele ergueu as sobrancelhas, e como eu não me movi, ele veio em minha direção, pisando um pouco mais perto, mais perto do que ele precisava. Seu peito tocou o meu, e eu peguei o cheiro fraco de suor e graxa antes de dar passos para trás, tanto quanto o espaço permitiu.
Ele sorriu.
Eu sabia que ele gostava de me deixar desconfortável. Ele parecia ter algum prazer doentio com isso. Ele provavelmente gostava mais de brincar comigo porque eu fazia isso ser tão fácil.
Ele desligou a trempe.
Limpei a garganta, olhando para longe.
— Eu não conseguia dormir. Pensei em fazer um chá.
Ele acenou e estendeu a mão sobre a minha cabeça, com um pequeno sorriso enquanto eu me encolhia. Estando tão perto dele, me sentia estranha.
— Por que eu te faço ficar tão nervosa, Dulce? — Ele perguntou, colocando uma caneca no balcão.
Eu me virei e olhei para cima e encontrei uma série de embalagens de chá no armário.
— Você não faz — eu disse fracamente, lendo cada caixa.
— Eu lhe disse que não esperava dormir com você. Eu pensei que isso te deixaria mais tranquila. — Concentrei-me em abrir um saquinho de chá. — A menos que você queria que eu durma. Eu estou aberto a ideias, é claro.
— Você gosta de brincar comigo — Eu disse, olhando a água, enquanto enchia minha caneca.
— Eu gosto. É tão fácil.
Ele pegou a chaleira e foi até a pia. Em seu caminho até lá, ele olhou para sua camisa, que estava manchada com a sujeira. Ele a puxou sobre a cabeça e deixou-a cair em uma rampa junto a uma das paredes. Uma rampa da lavanderia. Eu tinha uma no meu quarto também. Ele estava de costas para mim, esfregando as mãos e jogando água no rosto. Eu não tinha certeza se foram às marcas que eu notei primeiro, finas linhas prateadas cobrindo sua pele, ou seus poderosos músculos flexionando com o movimento.
Quando ele se virou para mim, eu engoli em seco, forçando minha boca a ficar fechada. Eu nunca vi um homem parecido com ele pessoalmente antes. Ele era perfeito, seu rosto, seu corpo. Perfeito com exceção daquelas inúmeras cicatrizes.
— Você pode me jogar a toalha?
— O que?
— A toalha. Atrás de você.
Eu me virei.
— Oh. — Eu me senti estúpida, confusa. Como uma tola inexperiente. Eu joguei a toalha, e ele pegou. Tudo o que eu podia fazer enquanto ele se secava era vê-lo, concentrando-me em suas mãos.
As mãos dele.
Grandes e calejadas e....
Eu balancei a cabeça para clarear meus pensamentos. Como eu poderia estar atraída por esse homem?
— Eu vou lá para cima.
— Não.
Ele andou até o outro armário e encontrou um copo e uma garrafa do que eu imaginava ser uísque.
— Sente-se.
Ele sentou-se à mesa, então, como eu ainda não tinha me movido, ele empurrou uma cadeira com o pé descalço.
— Sente-se, Dulce. Eu não mordo.
Com as pernas pesadas, me juntei a ele na mesa. Ele abriu a garrafa e derramou cerca de dois dedos no seu copo. Ele então inclinou a garrafa e derramou um pouco no meu chá.
— O que você está fazendo?
— Vai ajudá-la a dormir. — Ele se recostou na cadeira e bebeu.
— Eu não bebo.
— Talvez você devesse começar. Ajuda a se soltar um pouco.
— Me soltar? Você.... Você me sequestrou!
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Desonroso - Adaptada Vondy (Concluída)
FanfictionDulce promete se casar com Christopher em seu décimo oitavo aniversário para liquidar uma dívida antiga. Como seu avô deve muito dinheiro, ele usa Dulce como um peão sem valor. Ela fica mais do que irritada com a situação, mas ela segue com o arranj...