Capítulo 7

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– Ei, Beatriz, você pode me ajudar com umas questões? – Perguntei abrindo a cortina que separava minha cama do resto do quarto.

Eu ainda estava sentada na cama. Precisava dessa cortina porque Beatriz gostava de acordar com o raiar do dia. Nossa janela dava para o leste então o sol iluminava o quarto todo. Eu não gostava do sol nem quando eu já estava acordada. Já Beatriz estava sentada na mesa dela, estudando também e aproveitando para receber a vitamina D diária.

Não sei de onde tirei a coragem para acordar cedo em um domingo! Mas lá estava eu, às oito da madrugada, e acordada desde às seis! A próxima prova estava chegando e eu já havia procrastinado ao ponto de acreditar que talvez eu devesse desistir da aposta. Felizmente René me deu um ponto a mais na primeira prova, portanto eu precisava de oito e meio nas duas próximas para passar sem ir para a final.

– É sobre crítica de arte? – ela perguntou, eu assenti. – Então não – respondeu com um sorrisinho que eu não entendi muito bem. – Eu não vou ajudar você a ganhar a aposta. Até porque eu estaria praticamente programando a minha traição.

– Ok. É justo. Eu peço ajuda a Bernardo ou a Martina...

– Nada disso – interrompeu. – Você tem que fazer isso sozinha.

– Não tenho, não. Você não disse nada sobre não poder pedir ajuda quando estávamos fazendo a aposta.

Ela olhou para cima pensativa. Logo depois olhou para mim.

– Então tá. Me dá só um segundo. – Beatriz pegou o celular. E começou a digitar super rápido. – Pronto.

Olhei desconfiada para ela que ainda sorria. Então chegou uma mensagem no meu celular. O sorriso dela aumentou. Peguei para ver do que se tratava.

"Fiz uma aposta com Lia. Ninguém pode ajudá-la com crítica de arte!"

Era uma mensagem no grupo da sala. Beatriz era a menina meiga que todo mundo amava. E eu nunca fui a pessoa mais fácil de se lidar.

Bia tinha cara de anjinho mas era muito filha da puta quando queria! Será que ela não percebia que só estava incentivando-a a colocar um par de chifres na cabeça do namorado dela porque a cabeça dela já estava toda enfeitada?!

Olhei para ela com meu melhor olhar de "isso não vai ficar assim" e fechei a cortina da minha cama. Tudo bem, eu não preciso da ajuda de ninguém, eu sou autodidata. Na era da internet, em que se pode aprender qualquer coisa com um clique, quem não é? Mas antes, por que não assistir um episódio de uma série? Ou uma temporada inteira?

Fechei o computador antes de cair na tentação. Eu devia ir para uma biblioteca. Pleno domingo, não havia nada aberto. Abri a cortina novamente.

– Quer ir no museu comigo? – perguntei a Beatriz.

– Eu não vou te dar carona, Lia. Tenho outras matérias para estudar.

Do que é que adianta ter uma amiga com carro se ela não te leva nos cantos? Atirei meu travesseiro nela só para irritá-la. Ela atirou de volta mas eu já havia me levantado. Troquei de roupa, coloquei uns livros na bolsa e fui para um museu estudar. Eu poderia estudar em um café? Até poderia. Mas, quem sabe, ficar perto de todas aqueles quadros poderia me ajudar a entender aquele monte de inutilidades que eu estava lendo.

O ônibus estava quase vazio, o que era ótimo já que minha bolsa estava pesando horrores. Infelizmente o caminho da parada até a biblioteca era um pouco longo. Cheguei ensopada de suor dando graças aos deuses pela invenção do ar condicionado. Não estava tão vazio como imaginei. Havia pais e mães apresentando o mundo da arte para seus filhos, idosos apreciando quadros e alguns jovens usando as pinturas como referências em seus desenhos.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora