Capítulo 18

107 12 45
                                    


Era uma manhã linda, ensolarada. Acordei na hora certa, fiz o mínimo de maquiagem e coloquei uma roupa discreta, já que a minha tentativa de ser sufocantemente tentadora não seu deu muito certo. Jeans de cintura alta, uma camisa listrada com um decote "V" amarrada na cintura e rasteiras. Uma correntinha só para ele saber para onde olhar e um coque alto que demorou meia hora para parecer que havia sido feito em dois minutos porque René disse que gostava do meu cabelo em um coque bagunçado. O bom de um look assim era que parecia que eu não estava tentado, quando na verdade estava claro o que eu queria ressaltar.

Passei em uma loja de conveniência em um posto, único lugar aberto às cinco e meia da manhã, para pegar dois cafés para viagem. Não lembrei se ele tomava com açúcar ou sem. Eu me senti um pouco culpada por isso, já que ele lembrou da minha preferência. Levei dois pacotinhos de açúcar por via das dúvidas.

Quando cheguei na sala dele, René estava abrindo a porta, chegando também. Não estava informal como na semana passada. Sua camisa social rosa claro e seu jeans azul o deixava até com um ar romântico. Podia vê-lo chegando na porta da minha casa, vestido assim, com um buquê de flores. Odeio flores, mas aceitaria se viessem dele vestido desse jeito. 

Era oficial, eu não sabia se gostava mais do René formal ou informal. Todos dois eram lindos. Era o mesmo homem, afinal.

– Seu filho está melhor? – perguntei me aproximando.

Ele olhou surpreso para mim. Acho que alguém não estava esperando que eu realmente aparecesse. Que pena, estava começando a me perguntar se ele havia chegado com essa pegada romântica para me conquistar.

– Sim, obrigado por perguntar – disse sorrindo, mas logo voltou a ficar sério. – Amélia, escute...

– Desculpe – interrompi antes que ele me expulsasse. – Eu sei que fui muito... Como posso dizer?

– Inconsequente? Impulsiva? Imprudente? Irresponsável? Indelicada? – ele listou, petulante.

Ok, parece que eu estava bem errada quanto as intenções dele. Eu nunca me iludi tanto! Será que meu charme só funcionava com garotos da minha idade? Achei que caras mais velhos corriam atrás de moças jovens em busca de autoafirmação ou algo assim.

Não. Com ou sem intenção, ele correspondeu ao meu beijo. Isso não era ilusão. Então vamos deixar de hipocrisia, profê!

– Sinto muito. – Ri sem graça. – Eu não sei onde eu estava com a cabeça. – Sabia exatamente onde estava com a cabeça, inclusive minha cabeça ainda estava lá.

Ele cruzou os braços, parecia pouco se importar com minha tentativa de desculpas. Respirei fundo e baixei a cabeça. Dei um passo para ficar mais perto dele. Ele não recuou, o que era um bom sinal. Estava na hora do show.

– É que... Terça passada foi tudo tão ótimo e eu comecei a ter esperança novamente. Então eu chego em casa e descubro que meu pai, desempregado e velho, decidiu tentar suicídio...

Golpe baixo! Eu sei, eu sei! Eu não valho nada. Sigamos em frente.

– É sério? – Ele descruzou os braços, desarmando-se.

– Eu não brincaria com isso, professor! – Eu realmente não devia brincar com isso. – Ele está bem, graças a deus. Foi uma tentativa falha mas depois minha irmã deficiente, a pobre, pegou uma pneumonia... – fingi um nó na garganta e parei de falar um minuto. Se o inferno existir, tem um lugarzinho reservado pra mim. – Desculpe! Tem muita coisa acontecendo na minha vida. Eu posso ter procurado em você um válvula de escape. Mas o senhor não tem nada a ver com isso, então...

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora