Capítulo 42

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Desligamos. Eu ainda fiquei sentado no chão do chuveiro por alguns minutos, desperdiçando água. Minha mente estava vazia. Eu não conseguia pensar em uma solução. Não aceitava a ideia de desistir e deixar tudo nas mãos dele. Não era justo. Era minha culpa. Eu merecia uma punição, não ele. René foi quem sofreu assédio nessa história, só porque eu não aceitei um não como resposta... 

Em minha defesa, ele implorou. 

Sorri com a lembrança só para me sentir mal novamente. Como eu podia fazer piada e sorrir em uma situação como esta? Eu não tenho jeito mesmo!

Levantei. Tirei a roupa. Tomei um banho longo. Pensei bem no que queria fazer. O conselho de Débora me parecia mais sensato. Eu não sabia se eles tinham provas, mas só admitiria se me mostrassem essas provas. Mesmo que mil pessoas houvessem testemunhado contra nós, mesmo que eles tivesse certeza, se não houvesse provas concretas, tudo que podiam fazer era sair com uma advertência para René. Ou assim eu imaginava.

Fui dormir cedo. Digo, não fui dormir. Fiquei deitada na minha cama, atrás da minha cortina, boa parte da noite. Escutei Carol e Beatriz conversando. Comentaram que eu estava estranha. Que eu nunca tinha ido dormir tão cedo. Chegaram na conclusão que eu estava doente. Doente de raiva, só se for.

De manhã, mais uma vez, fui de carona com Beatriz pra faculdade. Não trocamos uma palavra no caminho. Nenhuma das duas tentou puxar assunto. Quando chegamos, fui direto para a sala de Edgar. Fiquei esperando por ele. Queria resolver logo isso. Ele demorou um pouco. Quando chegou, chegou acompanhado. Convidou-me para entrar apenas para marcar um melhor horário para a nossa conversa.

– Hoje você tem aula o dia todo, não é? – perguntou, eu assenti. – Bom, então vá para a aula. Nós conversamos no fim do dia.

– Eu preferiria chegar atrasada para alguma aula e resolver logo esse mal entendido – falei.

– Mal entendido? – Edgar olhou para mim surpreso, balançou a cabeça e sorriu. – Bom, infelizmente meu dia também está cheio. E pelo que estou vendo vai ser uma conversa longa. Vamos deixar para o fim do dia, tudo bem?

Não tive muito que argumentar e desisti. Fui para minha aula. Para ser sincera, fiquei com medo quando ele disse que seria uma conversa longa. Ele deve ter entendido que eu ia negar as acusações. Então, seria uma conversa longa porque eu teria que convencê-lo de que eram só boatos? Ou será que ele tinha provas e queria ver o quão longe eu ia com a mentira? Ou... Foi ele quem fez a denúncia!

Ele entrou na sala de René naquele dia e falou coisas estranhas, insinuou um envolvimento entre a gente. Eu não escutei até o fim da conversa deles. René perguntou o que ele estava fazendo lá. Talvez, antes de falar o real motivo, ele tenha dito que viu o que aconteceu. Ele pode ter denunciado logo depois.

Cacete. Ele viu! Como eu ia convencê-lo de que ele não viu o que ele viu? E filho da puta gostava de fazer joguinhos. Tentou fazer René confessar se colocando no time dele. Seria por isso que René insistiu que eu dissesse a verdade? Teria ele confessado? Não sei. Mas eu não ia cair nos seus joguinhos assim tão fácil. Era a palavra dele contra a nossa.

Tentei não pensar muito nisso durante o dia. Foi difícil. Mas não tão difícil quanto descobrir que tinha esquecido de uma prova para hoje. Estudei? Claro que não. Fiquei muito puta por dona Beatriz não ter me lembrado. Ela sempre me lembrava dessas coisas. Imaginei se ela também não havia esquecido. Parecia que esse fim de semestre não estava fácil para ninguém.

No final do dia, que custou a passar, avisei a Beatriz que tinha um compromisso. Ela não fez perguntas nem se ofereceu para me esperar. Pelo menos uma coisa havia sido fácil neste dia!

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora