Minha pesquisa não havia terminado, claro. Havia outros acervos de onde eu poderia arrancar mais informações sobre nossa amiga Lucélia. Fui logo enviando os emails quando ainda estava no ônibus.
Quando já estava chegando em casa, só podia pensar no quanto eu queria ligar para René e contar a ele tudo que eu havia descoberto. Ele ia ficar feliz, eu acho. De qualquer forma, não liguei. Teria que me contentar em contar para Beatriz e Carol. E Débora, se ela quisesse ouvir. Já era noite. Todas elas já estavam em casa.
– Não sei como você consegue perder tempo com isso quando está prestes a ser expulsa! – foi o que Beatriz disse como palavra de encorajamento.
– O que você quer que eu faça? Fique chorando inconsolável pelos cantos? – perguntei irônica.
– Sei lá – ela falava sem olhar para mim, muito ocupada com o celular. – Qualquer coisa que possa ajudar na sua causa. O professor disse que não ligava de ser dispensado. Joga a culpa nele e pronto.
– Esquece ela, Lia. – Carol chegou mais perto de mim no sofá. – Seu trabalho é bem importante independente do que acontecer.
– Além disso, se você estiver certa mesmo, é bem provável que não queiram te expulsar depois de uma descoberta dessas. – Débora disse, sentada perto da gente, à mesa.
Parece que nós havíamos nos aproximado depois de tudo que aconteceu. Agora eu estava me sentindo um pouco mal de ter expulsado a amiga dela do nosso apartamento. Um pouco. Não o suficiente para me desculpar, até porque ela estava errada. Mas eu podia ao menos perguntar por ela.
– Aquela sua amiga, a que ficou aqui por um tempo, qual era o nome dela mesmo?
– Por quê que você quer saber? – ela estreitou os olhos e sorriu de leve. – Está querendo pedir desculpas agora que estou sendo boazinha com você?
– Pedir desculpa por ter exorcisado aquele encosto? Claro que não! É só que eu nunca soube nada sobre ela. De onde ela veio, por que teve que ficar aqui, para onde ela foi...
Notei que Beatriz baixou o celular e Carol chegou um pouco mais perto. Parece que eu não era a única curiosa.
– Natália foi expulsa de casa. Ela não tinha onde ficar, então a convidei para passar um tempo aqui.
– Expulsa?! O que ela fez? – Beatriz perguntou.
– Pra onde ela foi? – Carol perguntou.
– Ela foi para a casa de outra amiga nossa. A mãe dessa amiga disse que ela podia ficar lá o tempo que quisesse. O problema é que Naty teve que trancar a faculdade porque essa amiga teve que mudar de cidade. E Naty foi junto, já que não tinha onde ficar.
– Que dó!! – Carol bateu em mim – Tá vendo?! Tudo culpa sua!
– Eu?! Todo mundo aqui concordou que não tinha espaço para cinco nesse apartamento! – defendi-me.
– Mas o que ela fez pra merecer isso, gente?! – Beatriz insistiu.
Eu e Carol voltamos a fitar Débora. Débora olhava firme para Beatriz. Ela tinha um sorriso enigmático. Demorou-se um pouco para responder.
– Você não vai querer saber, Beatriz. – Então Débora se levantou e foi para o quarto.
Nos três ficamos nos entreolhamos atônitas. O que porra podia ter acontecido para que nós não pudéssemos saber? Ou melhor, que Beatriz não pudesse saber?!
– Vocês acham que ela matou alguém? – A face de Beatriz estava pálida.
– Débora não traria uma assassina para morar aqui, Beatriz – tentei tranquilizá-la apesar de eu mesma não ter tanta certeza.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...