Capítulo 13

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Não era raro ver Beatriz e Yago fazendo parte do mesmo grupo. Eram os mais esforçados da turma. Mas não sabia que eram próximo ao ponto de ir para o shopping sozinhos. Sim, sozinhos. Eu não estava vendo mais ninguém com eles. Digo, Beatriz me chamou aqui, mas não sei há quanto tempo estão sozinhos.

Yago não era particularmente bonito, mas também não era nenhum crime contra os padrões estéticos. Tinha cabelo bastante curto e usava óculos quadrados que ressaltaram seu rosto angular. Ele era bastante magro, como Beatriz, apesar de um pouco alto demais perto dela. Mas até que formavam um casal bonito. 

Imagino o que Tadeu, o namoradinho de Bia, pensaria sobre isso.

Eu estava dividida entre sair da fila e ficar apenas observando à distância para ver no que ia dar, ou me fazer ser vista. Eles escolheram por mim. Beatriz me viu, pegou na mão de Yago e vieram correndo na minha direção.

Pegou na mão de Yago! Isso já era intimidade demais.

– Que bom que você já tá aqui! Assim a gente não vai precisar enfrentar toda a fila – Beatriz disse contente.

Yago, por outro lado, não me pareceu assim tão contente. Seu sorriso era claramente forçado, mas Beatriz não percebeu.

– Então, que filme vocês vão ver? – perguntei.

– Vamos ver um filme de animação – Yago disse.

Bom, metade dos filmes de herói eram feitos em computador, não é tão distante de um filme de animação. E o público geral é bastante infantil independente da idade, então daria no mesmo.

– Eu te chamei porque sei que você ama filmes de animação, não é?! – Beatriz disse olhando sorridente para mim, seus olhos bem arregalados.

Eu assisto qualquer filme, desde que não me faça pensar. Olhei para ela, em seguida olhei para Yago. Ele não olhava para mim com muito interesse. Pelo contrário, seu corpo estava virado para Beatriz, às vezes dando um olhada de relance para ela. Beatriz não tirava o sorriso assustador do rosto.

Yago e eu não nos falávamos muito, mas tenho certeza de que a cara de decepção que ele fez não era ranço contra mim. Esse menino estava apaixonado por Beatriz. Se eu tivesse que adivinhar, o resto do grupo de trabalhos deles sabia. Ele sugeriu irem para o cinema depois de fazer o trabalho e os outros integrantes escolheram não ir para dar um pouco de privacidade ao casal. 

Claro, isso é apenas uma suposição minha, posso estar completamente errada. Ele pode ter convidado Bia e ela aceitou na inocência. A pobre de Beatriz certamente era bobinha demais para perceber um plano arquitetado contra ela.

Estava me sentindo um tanto em conflito. Digo, eu realmente queria que Beatriz ficasse com outras pessoas para que ela pudesse ter novas experiências e tal. Depois ela podia casar com Tadeu se quisesse, mas que testasse outros rapazes também. 

Por outro lado, não sei por quê, mas Yago não me parecia o tipo dela. Eles provavelmente iam assistir o filme inteiro e ela ia ignorar qualquer investida dele. Se ele fosse direto, Beatriz ia sair correndo do cinema sem entender o que foi que fez de errado para Yago tentar beijá-la. Sim, pois ela era um mártir que gostava de se culpar quando outros meninos tinham interesse nela. 

Não era culpa dela ser bonita. Yago já devia ter notado que Bia não estava a fim. Infelizmente ele era uma toupeira incapaz de ver os sinais luminosos em neon que ela estava mostrando.

Pobre Yago, acho que eu teria que atrapalhar um pouco seus planos para hoje. Mas se ele pensar direitinho, vai perceber que é para o bem dele também.

– Claro. Eu amo filmes de animação – exagerei.

Yago nem tentou forçar um sorriso.

Chegou nossa hora de comprar os ingressos. Beatriz foi na frente. Yago segurou a manga da minha camisa para que eu ficasse um pouco mais atrás.

– Será que você não podia, sei lá, ver outro filme? – pediu, praticamente comprovando minhas teorias.

– Você devia agradecer por eu estar aqui. Eu te salvei do pior fora da sua vida. Ou você acha que ela quer alguma coisa com você?

Puxei meu baço e fui até Beatriz. Se Yago não tinha ranço comigo antes, agora definitivamente ele tinha. Só de birra, ao entrarmos no cinema, eu sentei entre os dois para ter certeza de que ele não tentaria nada com ela.

Não posso dizer que não me arrependi nem um pouquinho de ter gastado meu dinheiro com um filme que acabou sendo bem estúpido. Mas eu preciso ajudar as minhas amigas, não é mesmo?

Ao final do filme, eu fui ao banheiro. Quando voltei, Yago teve a audácia de convidar Beatriz para comer alguma coisa. Felizmente Beatriz é um Bambi ingênuo que esperou por mim para me convidar para ir com eles.

– Não acha melhor irmos pra casa agora? Já tá ficando tarde e temos aula amanhã cedo – sugeri.

– Tem razão. Já tá tarde mesmo. – Beatriz fica na ponta dos pés para dar um abraço em Yago. – Até amanhã.

– Tchau, Yago!

O pobre nem disse nada. Apenas forçou mais um sorriso e acenou. Abandonamos ele ali e eu ainda ganhei carona para casa.

– Ainda bem que você veio ver um filme com a gente – Beatriz disse enquanto saímos do estacionamento.

– Por quê? – fiquei um pouco surpresa com a afirmação dela.

– Talvez seja só imaginação minha, mas acho que Yago gosta de mim. Mais do que como amiga– ela disse em um tom sério, oque me faz rir alto demais.

Parece que meu pequeno Bambi não é tão ingênuo quanto eu pensei.

– Você acha?! – perguntei sarcástica.

– Você não acha?

– Eu não acho. Eu sei. Ele tá caidinho por você.

– Então você veio com a gente de propósito? Mas eu achei que você quisesse que eu me separasse de Tadeu.

– Eu não tenho nada contra Tadeu. Só acho que você devia ter mais experiências.

Nós paramos em um sinal. Ela olhou nos meus olhos com a testa franzida e a cabecinha inclinada.

– Yago poderia ter sido uma experiência. Então por que você veio?

– Por que não ia acontecer nada entre vocês. Eu quero que seja consensual. Eu quero que você queira.

– Uau. Obrigada, Lia! – Ela parecia genuinamente agradecida, sorridente.

Fiquei até um pouco ofendida por ela estar tão agradecida assim. É claro que eu jamais forçaria alguém a fazer uma coisa que não quer. Isso só estragaria a experiência, de qualquer forma. 

A não ser que esse alguém houvesse perdido uma certa aposta, pois estava consciente das consequências quando fechou o acordo.

O sinal voltou a ficar verde. A atenção de Beatriz voltou para as ruas.

– Sabe, se você vencer a aposta, eu vou beijar outra pessoa. Mas eu não vou fazer isso porque quero. Vou fazer porque perdi a aposta.

– Não se preocupe, Bambi. Você vai querer.

◊ ◊ ◊ ◊ ◊

Vamos conhecendo um pouco mais de Beatriz, já que o papel dela nessa história é bem relevante. O que acharam? Muito bobinha? Nem tanto?

E para quem quer ver romance... Aguarde ♥

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora