Escutamos duas batidas na porta e a maçaneta girar. Nos separamos rápido com o susto. Olhei para o chão, muito desconfortável, tentando limpar meu batom possivelmente borrado. René provavelmente fez o mesmo, não sei, não prestei atenção.
– Desculpe. – Olhei para a porta e vi Edgar, o Diretor do curso de jornalismo. – Estou interrompendo alguma coisa?
Ele devia ter seus cinquenta anos, cabelos grisalhos, gordinho. Estava pagando uma cadeira com ele no momento. Era um bom professor.
– Não, não! – falei com um largo sorriso. – Eu já estava de saída. – Olhei para René. Ele estava pálido, com os olhos arregalado, olhando fixamente para o Diretor... Nada suspeito. – Obrigada pela dicas, professor. Acho que vou voltar no museu ainda essa semana e depois trago alguns tópicos pra gente discutir, pode ser?
– Claro, claro. – Ele parecia um pouco mais corado agora, estava voltando a si.
– Até daqui a pouco.
Saindo da sala de René, passei por Edgar que sorria gentilmente para mim. Sorri para ele também e me despedi educadamente.
– Ah, se não fosse minha aluna... – Escutei Edgar dizer assim que fechei a porta. – E essa aí tem fama de fácil, heim! Dava um caldo, né não?! – ele disse gargalhando.
Edgar ia se afastando e sua voz ia ficando mais baixa, por isso encostei meu ouvido na porta para escutar melhor.
– Mais, respeito, Edgar! Ela tem idade de ser sua filha. – René o repreende, fazendo meu coração flutuar.
– Tem idade mas não é! – Novamente Edgar riu. – Deixa de ser chato, René. Vai me dizer que você não pegava essa novinha? Ela não tem idade de ser sua filha, você não é casado...
– E... Eu... Não... – René limpa a garganta tentando não gaguejar. – Eu sou professor dela – foi tudo que conseguiu articular.
Eu me segurava para não rir. Pessoas passavam por mim me olhando estranhos, mas eu não me importei.
– Sim, claro. Eu também sou professor dela, por isso nunca fiz nada. Estou dizendo se não fosse, você deixava passar um gostosinha dessas? – Edgar insistiu.
– E o que uma mulher como aquela ia querer com um cara como eu? – René disse dramático fazendo Edgar gargalhar.
– Besteira! Mulher se ganha no papo!
– Você veio aqui só pra falar de mulher ou tem algum outro motivo? – Sábio, melhor mudar de assunto antes de dar bandeira.
– Ah, sim! Eu vim aqui para...
Perdi o interesse quando falaram de outros assuntos, então saí de lá. Fui para a sala de aula.
Achei fofíssimo René não cedendo às brincadeiras machistas do Diretor. Velho escroto! Como se pudesse algum dia ter uma chance comigo! Acha que eu faço exercícios, como saudável, gasto dinheiro com cremes, maquiagens e roupas caras para deixar um velho gordo e fedido me ganhar no papo? Bom papo a gente tem com amigo; para mais outras coisas a gente tem que ter tesão!
O que me intrigou, no entanto, foi ouvir René falar que não tinha chance comigo. Ele pode ter dito isso só para não dar muito na cara. Ainda assim, não sei, ele me pareceu sério. Lindo, educado, gentil... Seria sua autoestima muito baixa sem motivos? Acho difícil. Será que ele pensava que só estava com ele por interesse nas notas? Duvido muito. Do jeito que ele é, não ficaria comigo se achasse que era só interesse. Aposto que até deixaria as provas mais difíceis. Então por quê? E devia estar levando a sério demais.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...