Capítulo 48

55 3 0
                                    

Pela manhã, acordei com com o calor de seus braços. Era maravilhoso. Da útima vez que isso acontecera, eu não havia passado a noite com ele. Também não estávamos tão próximos ainda como agora. Jamais poderia imaginar o que esse tipo de sentimento só melhorava com o tempo. Eu sorri sozinha enquanto ele dormia tranquilo. Infelizmente me lembrei de que precisava terminar com ele. Essa não era eu. A verdadeira Lia preferia acordar sozinha depois de uma noite com um cara estranho.

Alcancei meu celular. Cinco e vinte da manhã. Eu não acordava tão cedo nem em dias de aula. E hoje era sábado, Não havia qualquer motivo para acordar cedo.

Também não havia motivo para René acordar cedo, não é? Olhei para o lado. Meu coração apertou. Eu precisava deixá-lo. Consegui me desvencilhar dele sem que se acordasse. Vesti minha roupa e saí.

Não quis pegar um ônibus. Precisava pensar. Não era tão longe do meu apartamento. Eu poderia ir andando. O sol já havia nascido, mas ainda estava fraco. Culpas das nuvens cinzentas que insistiam em perturbar o céu. Apesar da hora, alguns poucos corajosos corriam ou caminhavam em uma praça que eu havia acabado de descobrir que existia.

Sentei em um banquinho naquela recém-descoberta praça. Estava sentindo uma crescente dor no peito que me fez pensar ser possível um ataque cardíaco a qualquer momento. Mas eu sabia que a causa não era artérias bloqueadas. Eu não sabia o que ia acontecer com minha vida acadêmica, não sabia o que ia acontecer com René, não sabia se teria coragem de voltar para o apartamente e dormir no mesmo quarto que aquela víbora. O pior é que não me sentia à vontade nem para falar com René sobre isso. Digo, nós nunca ficamos juntos tempo suficiente para desenvolver esse nível de intimidade. Mas poderíamos. Poderíamos ter sido bons juntos. Peguei meu celular. Nessas horas, só tem uma pessoa que pode me ajudar.

– Alô? Mãe?

– Lia, menina, que horas são? Aconteceu alguma coisa? – escutei a voz sonolenta dela. Na mesma hora comecei a chorar. No meio da praça, os corredores e caminhantes me olhavam estranho. – Lia, minha florzinha! A mamãe tá aqui. Fala comigo, menina! – A este ponto sua voz estava completamente desperta.

– Eu fodi com tudo, mãe! Eu briguei com Beatriz! Vou ser expulsa da faculdade e fiz um professor perder o emprego! – expliquei chorando alto, chamando ainda mais atenção de quem estava em volta.

– Como assim? Por quê? O que você fez com o professor?!

– Eu dormi com o professor! Beatriz descobriu e contou pra diretoria! Foi tudo minha culpa! E agora eu não sei como consertar!

– Ai meu Jesus, Lia! Até isso tu me apronta! – Ela mudou do tom preocupado para brava. – Sempre soube que esse jeito de santinha de Beatriz não era coisa boa! Devia ter percebido que essa menina não é de confiança! – Minha mãe sempre amou Beatriz, então ouvi-la tomar o meu lado era bastante reconfortante, até controlei um pouco meu choro. – Mas precisava ter dormido até com o professor?! Porra! – Bom, parece que não estava tão do meu lado assim. Foi aí que eu comecei a chorar desesperada mesmo, abri o berreiro igual a criança, sem nenhuma consideração com quem estava ali só para ter uma manhã tranquila de exercícios. – Tá bom, tá bom! Já passou! Você ainda tá com esse professor?

– N... não – falei fungando, tentando me controlar um pouco.

– Melhor assim. Você está no apartamento agora?

– Não. Eu não dormi lá.

– E dormiu onde? Deixa pra lá, não quero saber. – Ela respirou profundamente. – Escute, você vai voltar para o apartamento. Beatriz pode ser meio venenosa às vezes, mas vocês sempre foram amigas. E quem fez a cagada foi você. Então volte e tente conversar com ela porque vocês vão ter que morar juntas por mais um ano ainda. Se não der certo, converse com Carol. Talvez ela aceite mudar de quarto com você ou com Beatriz. Entendeu?

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora