Capítulo 49

57 3 0
                                    


Acordei na minha velha cama novamente.

– Levanta. A gente tem que ir no museu ver a inauguração das obras – Beatriz disse.

– O quê? Ainda são oito da manhã e eu ainda estou com raiva de você! – falei me virando de lado para escapar da claridade.

– Mas eu te ajudei com aquele plano estúpido para livrar você de ser expulsa!

– Foi você quem me colocou nessa confusão pra começo de história! E nem se deu o trabalho de pedir desculpas!

– Desculpa! Ok! Foi um gesto impulsivo! Achei que você estivesse só trapaceando. Não sabia que ele era importante pra você. – Eu me virei novamente para Beatriz. Ela olhava para baixo e escondia os braços atrás das costas. – Carol me contou.

Sentei na cama. Respirei fundo, ponderando se eu deveria perdoá-la ou não. Eu nunca pedia desculpas porque geralmente não era suficientes. Agora mesmo, eu não tinha certeza se podia perdoar Beatriz só com isso. Claro, ela não sabia do quanto eu gostava de René, mas isso não lhe dava o direito de arruinar a vida de ninguém.

– Eu te pago um café lá no museu. – Infelizmente ela sabia meu ponto fraco

– Ok – falei levantando.

Beatriz riu com meu fácil convencimento. Era culpa de René. Ele quem havia me deixado besta desse jeito. Nem tive que fazê-la implorar! Quem era esta idiota que havia possuído meu corpo? Seja quem fosse, ela amava de café, então não devia ser muito diferente de mim.

Chegamos no museu para encontrá-lo lotado. Tivemos até um pouco de dificuldade para arranjar uma vaga. Beatriz reclamou bastante do tanto que fomos obrigadas a andar. Claro, não perdeu a oportunidade de me culpar por termos chegado tarde. Como se ela houvesse se arrumado muito mais rápido! Havia alguns jornalistas por perto para cobrir a inauguração. Não resistimos e ficamos olhando o trabalho deles de longe antes de de fato.

– Olha! Ela é da Janela! – apontou para a linda jornalista de cabelos loiros e um terninho impecável fazendo exercícios faciais antes de ligarem as câmeras. – Ela é tão linda!

Ao lado dela, o cameraman e uma menina de cabelo muito curto um pouco cacheado no topo com uma roupa mais casual que muito nos chamou a atenção, pois certamente era uma estagiária. Carregava um copo de café na mão e segurava uma pasta na outra. Parecia contente em estar ali. Beatriz ficou invejando sua posição. Já eu, não sabia como me sentir. Sempre ansiei por liberdade. Mas sua posição estável e segura me apetecia agora. Devia ser por causa da aposta.

Falando na aposta, chamei Beatriz para entrarmos logo. A fila já estava enorme e crescia cada vez mais. Fiquei na fila esperando enquanto ela foi na cafeteria me comprar o expresso duplo que me prometeu. Perguntei-me diversas vezes por que inventamos de vir logo no dia da inauguração desses quadro. Não poderia ser no meio da semana, quando haveria menos gente e nós poderíamos passar mais tempo observando as novas obras? Fazia mais sentido. Por outro lado, com tudo que estava acontecendo, eu precisava me reconectar com o assunto para começar a escrever a bendita crítica e o artigo para o trabalho final. Infelizmente não seriam os bons e influenciáveis olhos de René que julgariam meu trabalho.

Quando chegou na nossa vez, Beatriz começou a tirar foto de tudo, sem flash, claro. Eu não. Ainda não estava com cabeça para isso. O tema religioso barroco muito escuro e pesado não facilitava a deglutição. Até que cheguei na minha peça. "Liberdade". Estava completamente restaurado, quase não parecia o mesmo quadro que vi da primeira vez. Talvez por isso senti um estalo e tudo fez sentido na minha cabeça.

– É uma crítica! – falei um pouco alto demais.

– Sim, Lia, temos que escrever uma crítica e um artigo – Beatriz disse sem entender nada.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora