Capítulo 29

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Acho seguro dizer que a aula de René foi a aula mais desconfortável da minha vida. Digo, eu esperava que ele se sentisse um pouco estranho depois do que aconteceu. Eu não esperava, porém, que eu fosse me sentir estranha. Achei que ele ia ficar me olhando e eu ia deixá-lo super excitado, ou algo do tipo. Poses sexys, olhares eróticos, quem sabe brincar com o lápis entre os lábios, mordendo, para fazê-lo lembrar de como era bom me beijar.

Infelizmente aconteceu que eu mesma não estava conseguindo olhar para ele direito. Sempre que eu o encarava lembrava do quanto eu queria uma noite que fosse na cama dele com ele do lado... E por cima, por baixo, pela frente, por trás... Eu o queria em todas as posições! E minha cabeça gritava tão alto por isso que às vezes achava que alguém poderia ouvir meus pensamento. 

Eu tentava me distrair, olhava para o tablet, fazia anotações, pensava na raiva que Natália me fez, no almoço que eu teria com minha mãe e meu padrasto, pensava até em como fast fashion era injusto por abusar de mão-de-obra análoga à escrava para produzir suas peças! Qualquer coisa para levar minha mente para longe daquele inferno. Porém a simples presença dele era como um imã que puxava meu olhar em sua direção constantemente. Eu já estava mordendo meu lápis de nervoso! E mesmo que eu não olhasse, a voz que antes me colocava para dormir agora provocava um queimor no meu corpo que só podia ser descrito como tesão.

Quanto a René, se ele sentia um terço do que eu estava sentindo conseguiu disfarçar muito bem. Ele não olhou para mim uma vez sequer. O pior era que eu não sabia se isso me deixava com raiva ou se apenas aumentava minha libido. Sem dúvida me causava pavor. E se ele não quisesse mais?! Nunca mais? Se continuasse assim, eu não seria capaz de manter minha promessa e meu orgulho por muito tempo. Na verdade, se dependesse de mim, eu o puxaria pelo braço para o armário de produtos de limpeza mais próximo e transaria com ele até a hora dele voltar para casa.

Não. Eu não podia deixar ele vencer assim. Eu fiz uma promessa. Ele tinha que implorar. Eu tinha que saber que ele me desejava também. Depois de todo esse tempo, eu não aceitaria que fosse algo simplesmente por impulso. Até porque esse algo era proibido. E ele tinha mais a perder do que eu. Eu fiz minha parte. Deixei claro minhas intenções. A próxima jogada era dele. 

Por favor, meu santinho protetor da luxúria, não permitas que ele demore demais para decidir!

Ao terminar a aula, pensei em falar com ele. Quem sabe esperar até não ter mais ninguém na sala. Eu não tinha nenhuma desculpa para isso. Não tinha nenhuma dúvida nem nada. Digo, tinha sim. Adoraria saber o que foi que ele falou na aula de hoje, porque eu não prestei atenção em nada.

Convenhamos, eu sou melhor nos improvisos. Falei para Bia que iria tirar uma dúvida com o professor sobre a aula de hoje.

– Ah! Ótimo, eu também quero falar com ele. Tenho umas perguntas sobre a exposição.

Exposição? Do que porra ela estava falando? Não importa. Eu deixaria Beatriz falar o que ela quisesse e depois teria meu momento. Na verdade, eu nem precisaria falar nada. Eu só queria chegar perto dele, sentir seu cheiro, ver como ele reagia com a proximidade, ver como eu reagia...

A sala esvaziou rápido. Beatriz começou a tagarelar. Eu não ouvi uma só palavra do que disse. Estava muito perdida nos olhos castanhos que teimavam em não me olhar de volta. René estava meio sentado sobre a mesa, uma mão no colo, a outra de apoio escondia-se um pouco atrás dele. Eu não resisti, não pensei direito, apenas estiquei minha mão e toquei a dele. Passei os dedos muito levemente, senti os pelos em seu antebraço e desci de novo para as costas da mão, caminhando em cada um de seus dedos. René não esboçou reação.

– Lia? – Beatriz me tirou do transe, fazendo com que eu puxasse rápido minha mão. – Você também não tinha uma dúvida?

Olhei de René para ela tentando voltar ao presente.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora