Capítulo 31

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Sete e quarenta da manhã. Sentadas na escadaria, olhando os poucos carros passarem. Maria Beatriz tinha que estar aqui vinte minutos antes do museu abrir! Detalhe, a aula estava marcada para começar às oito e meia. Meia hora mais tarde que o normal para que os restauradores pudessem se organizar antes de nos receber. Bia vinha dirigindo, lugar novo. Ela tinha que ter certeza de que conseguiria uma vaga. Eu até teria ido de ônibus, mas ela insistiu que eu viesse junto pois não queria ficar esperando sozinha.

Quando finalmente liberaram nossa entrada, ainda não havia chegado ninguém. Se não fosse pelos seguranças, o museu estaria completamente vazio. Ninguém visitava a essa hora. Até os ônibus de escolas chegavam a partir das nove. Sugeri a Beatriz que usássemos esse tempo para olhar o museu. Mas ela cismou que ia ficar esperando na entrada, pois foi o lugar que o professor marcou. Do jeito que René era pontual, sem dúvida já devia estar a caminho. Ele gostava de ficar esperando os alunos chegarem.

Eu não gosto de esperar, não sou pontual e não estava particularmente ansiosa para ver a cara de René. Embrulhava o estômago só de pensar em ficar sozinha com ele e Beatriz, sem poder falar nada mesmo com ele ali pertinho. Era melhor dar uma volta sozinha. Oito e meia em ponto eu voltaria.

Andei distraída, olhando os quadros e esculturas, mas sem vê-los de fato. Estava muito perdida dentro da minha própria cabeça, desejando fortemente que a cafeteria do museu já estivesse aberta. Seria muito inconveniente ficar bocejando enquanto o pessoal da restauração falava dos processos para restaurar quadros e sei lá o que mais.

Assim que cheguei na cafeteria, notei duas coisas: o aroma aconchegante do café, e a visão desconcertante de René. Ele estava em pé, próximo à bancada, provavelmente havia acabado de fazer o pedido. Como diabos ele entrou e eu não vi?! Eu e Bia estávamos até agora esperando na entrada! 

Sinceramente, eu estava mais preocupada pensando no que fazer do que desvendar esse mistério. Éramos as únicas pessoas ali, era inevitável que me notasse assim que cheguei. Não sei por quanto tempo ficamos olhando no olho um do outro. Eu teria esperado que isso fosse esquisito ou desconfortável. Mas, nossa, que saudade daqueles olhos! O encontro entre nossos olhares foi tão breve na terça, separados pelas circunstâncias adversas, agora pareciam não querer deixar o outro ir.

– Lia, espera! Eu não quero ficar sozinha... – Beatriz aparece do meu lado, tornando-se a causa da quebra do nosso contato. – Bom dia, professor! – ela o cumprimenta com o maior dos sorrisos.

– Bom dia, meninas. Chegaram cedo. – René também sorriu.

– Aqui está, professor. – O barista colocou o copo de isopor descartável com café sobre a bancada.

– Obrigado – agradeceu gentilmente, depois virou-se para nós. – Eu vou esperar os outros alunos no local combinado. – Então ele saiu.

Senti um grande alívio ao perceber que não seríamos obrigados a sentar os três juntos. Acho que eu teria desistido do meu café.

– Vim correndo porque não queria ficar sozinha com o professor quando ele chegasse! E quase que eu dizia isso na frente dele! – Beatriz falava rindo.

– Qual o problema? Ele é legal – o defendi.

– Nenhum, é só que é meio estranho ficar só com um professor, não?

Dei de ombros. Eu não achava nem um pouco estranho, mas são me surpreendeu que Beatriz achasse isso. A maioria das pessoas concordariam com ela. Pedi um expresso para tomar lá mesmo. Beatriz me acompanhou com um café com leite. Eu tentei protelar até dar a hora combinada. Beatriz era mais ansiosa. Ficou insistindo para irmos logo, não queria chegar atrasada depois de ter chegado mais cedo que todo mundo. Era justo. Já teria chegado outros alunos, de qualquer forma. Certamente teria algum puxa saco conversando com ele neste momento.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora