Quando cheguei na sala, já estava bastante cheia. As pessoas não costumavam atrasar para a aula de René. Exceto eu, mas tive que parar com esse hábito.
Felizmente, Beatriz já estava aqui. Eu queria muito falar com ela sobre tudo. Mas tinha que ser forte se quisesse ganhar a aposta. Fui andando na direção dela, até que uns murmúrios me chamaram a atenção.
– Será que não vai ter aula hoje? – Era a voz de uma colega, Sandra, ou Meio Metro como eu preferia me referir a ela.
– Tipo, Castilho sempre está em sala antes de todo mundo, não é? – Bernardo disse.
– Ele tá na sala dele, mas daqui a pouco ele chega – falei.
– Ah, tá bom. Valeu – Sandra respondeu, mas me pareceu um pouco estranha, não sei dizer como.
Relevei. Fui até Beatriz. Eu estava sorridente apesar de ser muito cedo. Ela, por outro lado, estava me olhando fixamente com a cara amarrada. Sentei-me do lado dela, pendurando minha bolsa na cadeira.
– O que foi que eu fiz? – fui direto ao assunto.
– Você sai de casa antes de mim. Eu chego aqui e nada de professor – ela sussurrava agressivamente. – Então escuto você falando que Castilho estava na sala dele.
– E daí? – falei baixo com pouco com medo.
– A sala dele é do outro lado do departamento, Lia! Você não passou lá por acaso! Me diz o que foi que você fez!
Olhei para os lado desconfiada para ter certeza de que ninguém estava ouvindo Beatriz me acusar daquele jeito. Não era nem por mim, mas o que aconteceria com René se começassem a espalhar rumores estranhos por aí? Seria no mínimo chato.
Felizmente ninguém estava prestando atenção em nós. Apesar da raiva, Beatriz estava sussurrando baixo o suficiente.
– Eu te conto quando a aula acabar – eu disse para ganhar tempo e pensar em uma desculpa. – Não quero que ninguém nos escute.
– Lia, eu juro por Deus que...
– Você não pode jurar por deus, então nem comece.
Ela abriu a boca umas duas vezes para me dar uma resposta, mas aparentemente nada saiu. Eu sabia que Beatriz estava pensando que eu estava dormindo com o professor. Eu não queria que ela acabasse falando alto demais.
René chegou para o bem da nação e aquela conversa se encerrou de vez. Ao menos pelo resto da aula. Da forma que eu via, eu tinha duas opções. Inventar uma mentira muito elaborada ou contar a verdade. Por enquanto esta última opção não era tão ruim. Digo, eu estava recebendo a ajuda dele, só isso. Se era por causa da mentira ou se ele queria algo mais era algo que eu não sabia. Eu não precisava compartilhar algo de que não tinha certeza. Bastava dizer que ele estava com pena por minha nota ser tão baixa e pronto.
Quanto à primeira mentira que possivelmente ocasionou toda essa ajuda... Eu realmente não sabia o que dizer. Só tinha que me lembrar de manter Beatriz afastada dele. Assim, minhas versões de meias verdades não se misturavam.
Enquanto isso, tinha que tentar me concentrar nessa aula. Ainda tinha uma aposta para vencer.
O engraçado era que, apesar de ter acordado mais cedo do que eu estava acostumada, eu não estava com sono. Talvez fosse só a adrenalina causada pelo medo de ser pega por Beatriz, mas acho que meu cérebro estava parando de associar a voz desse professor com cochilos em sala de aula. Mais do que isso, eu fui finalmente capaz de entender as coisas que ele falava. Não vou dizer que ele se tornou meu professor favorito, mas consegui entender porque tantos alunos gostavam da aula dele. René não era dos piores.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...