Capítulo 30

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Depois de todo o drama, fomos para a próxima aula. Para o meu alívio, quando René não estava perto, eu conseguia me concentrar tranquilamente. Talvez tenha sido a cafeína, nunca se sabe. Tinha que lembrar de tomar café antes da próxima aula dele.

Quando eu e Beatriz chegamos em casa à noite, Débora, que estava na sala estudando, retirou-se assim que me viu. Parecia que alguém ainda estava com raiva. Que infantil! Olhando pelo lado positivo, havia dois dias que ela não falava comigo. Melhor assim. Não quero conversar com gente ruim. Ainda mais quando eu tinha que me preparar psicologicamente para o dia seguinte, quando eu teria o almoço com minha mãe e padrasto.

Nas quartas, eu geralmente tinha aula à tarde. Infelizmente nesta quarta eu tive que sair mais cedo por causa desse almoço. Digo infelizmente porque era uma aula que eu gostava bastante, era mais um debate do que uma aula na verdade. Fica para a próxima.

Minha mãe me liga assim que terminou a aula da manhã. Parecia um cronómetro de tão precisa. Ela e Teo me esperavam em frente à faculdade. Mesmo que fosse um almoço muito chato, eu ainda ia ganhar comida boa de graça e uma carona para casa. Não podia reclamar. Aliás, ultimamente eu estava muito positiva, vendo o lado bom de tudo.

– Oi, mãe! – falei entrando no carro, pela porta de trás, dando um beijo na minha mãe, que dirigia. – Oi, Teo. – No Teo bastava uma batidinha no ombro.

– Oi, florzinha! – Ela se vira para olhar para mim no banco de trás. – Você tá tão magrinha! Tá economizando na comida pra gastar com besteira de novo?

– Não, mãe. É que eu tive uma semana difícil – disse antes que ela começasse a mandar um monte de comida gorda e gostosa que me obrigavam a sair da dieta. Pareceu ser desculpa suficiente, pois ela começou a dirigir. – Como você tá, Teo? – mudei logo de assunto.

– Indo... – A tristeza em sua voz era quase palpável.

– O que foi que o médico disse? – perguntei.

Ele coloca a mão na boca e começa a chorar. Eu me assustei com essa atitude, claro. Olhei para minha mãe pelo reflexo do retrovisor. Ela revirou os olhos, boca puxada de lado. Parecia não levar nem um pouco a sério o exacerbado sofrimento do marido.

– Ele vai ter que passar uns meses fazendo exercícios leves apenas – ela respondeu.

Teo aumentou o choro, balbuciando palavras desconexas.

– Se foi só isso, por que ele tá assim? – eu ainda estava um pouco assustada.

– Ele tinha uma competição de triatlo para daqui há dois meses.

– Eu ainda tenho! – ele disse petulante.

– Quer se machucar mais ainda e passar o resto da vida sem correr nem pedalar? – ela perguntou, quase brigando com ele.

– Não... – Teo baixou a cabeça e o volume da voz. Seus soluços agora mais controlados, porém ainda tristes.

Dessa vez, eu revirei os olhos. E eu achando que ele tinha um câncer terminal ou algo do tipo. Tem gente que não cresce. Dez anos mais novo que ela. Não sei o que minha mãe ainda faz com um moleque desse. Bom, na verdade sei. Ele tem um corpo sarado para quem tem seus quarenta e tanto. Mas precisava casar?

Não é minha vida, não é meu problema.

Fomos à um restaurante desses caros demais para uma mera estudante pagar. À la carte, para termos bastante tempo de conversar. Fazia tempo que não conversávamos mesmo. Minha mãe perguntou sobre Carol e Beatriz. Eu disse que estavam bem. Coloquei o jogo de Carol no celular da minha mãe para ela jogar. Teo, viciado em competições e jogos, acabou tomando o celular, distraiu-se com o jogo e nos deixou em paz, para a minha alegria.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora