Capítulo 64

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– O que?! Como assim, demitido?! – surtei.

Meus ombros voltaram a doer intensamente, ainda pior do que antes. Meu coração apertou com o sentimento de culpa e desespero. Não estava tudo dando certo nesse dia? Como isso foi acontecer? Era para ele ter saído ileso disso também! René não pode ter sido o único a sofrer as consequências pelo nosso relacionamento.

– Quer dizer, Tecnicamente eu pedi demissão.

Pisquei rápido sem entender direito o que havia acontecido. René riu ao notar meu olhar confuso, o que me irritou um pouco. Como ele podia estar rindo quando eu estava uma pilha de nervos... E confusão.

– Achei que você queria este emprego.

René pegou na minha mão e começamos a andar devagar, lado a lado.

– Sim, queria. Mas eu errei quando decidi ficar com você. – Ele puxou minha mão e beijou as costas dela. – Ao menos aos olhos da administração.

– Então você simplesmente se demitiu?

– Não, a Reitora me chamou para me comunicar da minha dispensa. Mas se eu fosse demitido por justa causa, poderia atrapalhar minhas chances de conseguir outro emprego de professor. Então falei com ela para que, ao menos oficialmente, eu me demitisse.

– Simples assim? Você não vai nem brigar? Como você pode estar tão calmo?

– O céu está azul, eu estou sorrindo. – Olhei para ele para vê-lo de fato sorrir enquanto saíamos do prédio em direção ao estacionamento coberto por um céu limpo. – Como você pode não estar calma?

– É sério, René! – insisti, parei de andar para que ele ficasse de frente para e mim e me olhasse nos olhos. Nossas mãos se separaram. – Não é hora de brincar!

– Eu não estou brincando. Eu já esperava por isso.

– E agora? O que você vai fazer?

– Depois da conversa que nós tivemos, mês passado, percebi como era ingênuo esperar pelo melhor. – René passou uma mão pelo meu ombro e voltamos a andar lado a lado, ainda mais próximos. – Então entrei em contado com outra universidade e estou negociando minha contratação. É um pouco mais longe de casa, mas ao menos paga melhor.

– Então... Nada mudou?

– Meus filhos e eu vamos ter que acordar mais cedo para que eu possa levá-los para a escola sem me atrasar e vou ter que pedir aos meus sogros para levá-los em casa depois da aula. Vou perder quase duas horas por dia com trânsito também. Fora isso, tudo igual.

Em outras palavras, ia ficar tudo bem. Eu ainda sentia um pouco de culpa. Eu fui egoísta ao querer ficar com ele. Mas René parecia feliz comigo. Ele queria isso também e estava sorrindo. Então, talvez, não tivesse sido tão ruim assim. Entrelacei os dedos com a mão que estava em meu ombro. Cheguei mais pertinho dele também.

Ele já havia encerrado suas aulas. Eu tinha apenas um trabalho para apresentar, então René me deixou em casa para que eu não me distraísse com sua beleza libidinosa.

Beatriz havia acabado de acordar quando cheguei. Eram quase dez da manhã. Parecia que alguém já estava entrando no clima de férias. Mas ela era minha dupla para este trabalho restante, então era melhor ela não entrar de cabeça.

Enquanto discutimos o trabalho, percebi que o clima entre nós estava mais leve. Principalmente para ela. Achei que ela fosse ficar mais estranha depois de ter confessado que gostava de mim, mas foi o contrário. Era como se Beatriz tivesse feito as pazes consigo mesma. Ou era só impressão minha?

– Você parece animada. – Joguei verde.

Suas bochechas se avermelharam.

– É que eu marquei de sair com Ana, na quarta.

De fato, não era só impressão. Porém não era exatamente por minha causa. Eu ainda não sabia bem o que achar daquela loira de olhos azuis indecentes que seduziu minha pequena Bambi. Desde que ela não fizesse Beatriz sofrer, acho que não teria problemas.

– Como assim? E Tadeu?! – perguntei muito surpresa.

– Nós terminamos há algum tempo. Durante aquela suposta briga que tivemos. Eu contei a verdade para ele e nós terminamos. Somos amigos agora. Foi ele quem me convenceu a chamar Ana pra sair.

Eu fiquei boquiaberta. O casal perfeito terminou. O pior que agora que eu sabia que Tadeu era um cara legal que estava apoiando Beatriz em seu processo de auto-descoberta, fiquei com pena por ter pensado e dito tantas coisas ruins sobre ele.

Acho que se tem uma lição pra aprender nisso tudo, é que eu deveria parar de me meter na vida alheia. Se Bia está feliz, eu estou feliz.

– Cinema? – perguntei sem querer chamar atenção para o fim do namoro dela.

– Isso.

– Quando vai dizer a Megé... Digo, a sua mãe sobre ela?

Beatriz suspirou, desviando o olhar do meu. Mesmo que ela não me tivesse dito nada, eu enxerguei o medo que ela sentia. Bom, talvez não fosse medo apenas, mas tristeza. Eu tinha muita sorte em poder compartilhar tudo que estava acontecendo na minha vida com a minha mãe. Bia talvez nunca tivesse essa chance.

– É a primeira vez que eu estou saindo com uma menina. Não quero estragar tudo contando para minha mãe. Não agora.

– Mas você disse que ela já sabe. – Tentei fazer as coisas parecerem mais fáceis...

– Sim, ela sabe. E vê como ela te trata por causa disso! Eu não quero isso pra Ana.

Estava claro que isso não seria algo simples nem resolvido em alguns dias. Talvez não fosse resolvido nunca. Mas Beatriz não precisava disso agora. Ela resolveria isso no tempo dela.

– Eu desejaria um bom filme para vocês, mas acho que não vão prestar atenção, né?

Ela me deu um soco no ombro fazendo cara feia para mim. Mas não era eu que estava transando em banheiro de balada... Dessa vez.

Não toquei mais no assunto. Beatriz ainda tinha muito que aceitar sobre si mesma e acho que não era meu papel forçá-la a ver as coisas do meu jeito. Até por que ela pode ter uma visão diferente.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora