À noite, eu estava me sentindo satisfeitíssima com meu progresso. Merecia uma recompensa pelo meu árduo esforço mental. Mesmo com tudo marcadinho para mim, era difícil me concentrar em um assunto que eu ainda achava desinteressante.
Perguntei a Beatriz se ela queria comer pizza e ela concordou. Minha cúmplice para comer besteira. Beatriz era o tipo de pessoa "magra de ruim". Estava sempre com um refrigerante ou um pacote de batatas do lado e não ganhava um quilo. enquanto eu tenho que me exercitar quase diariamente e programar os dias em que me dou a liberdade para um fast food. Será que se eu rezasse todos os dias ficaria como ela? Ou eu teria que ir à igreja aos domingos também? Academia me parece menos trabalhoso.
Antes de pegar meu celular para fazer o pedido, escutei a porta da frente se abrir. Saí da cama para ver Carol chegando em casa. Perguntei se ela também ia querer pizza apenas por educação pois já imaginava sua resposta.
– Você quer dizer carboidratos refinados com gordura? Não, obrigada.
– A gente pede com tomate – brinquei.
Ela levantou a sobrancelha para mim como se eu houvesse dito a coisa mais estúpida que já ouviu. Ri do seu exagero.
Carol jogou a bolsa de lado, tirou os sapatos e sentou no sofá. Sentei ao lado dela com o celular na mão para pedir carboidratos refinados com gordura.
– Você foi pra onde hoje? – perguntei enquanto procurava uma pizzaria pelo aplicativo.
– Eu, Tiago e mais dois colegas vamos programar um jogo de celular pra uma cadeira – explicou.
– Ideia sua? – perguntei e ela assentiu.
Seja lá que cadeira era essa, tenho certeza de que não precisa de tudo isso para tirar nota boa. Carol quer sempre estar um passo à frente do resto da turma, fazendo coisas mirabolantes para se provar a deusa dentre reles mortais. Nem sempre dá certo.
– Tem certeza de que é uma boa ideia? – perguntei.
Achei uma pizzaria com uma promoção legal e pedi uma grande com refrigerante. Coloquei o celular de lado para me concentrar na conversa.
– É um jogo para celular, Lia. Não é como se eu estivesse criando o próximo jogo da Blizzard! – Não fazia a menor ideia do que ela estava falando. – Além disso, eu pretendo fazer um jogo para o meu TCC então é bom já ir ganhando experiência.
– Você já decidiu o que vai fazer? – falei surpresa.
– Você ainda não decidiu? – devolveu a pergunta.
– Falta um ano e meio pra gente se formar.
– Exato. Está na hora de decidir – ela disse se levantando do sofá, indo até a cozinha.
Rolei os olhos. Assim como eu, Carol nunca foi o tipo de pessoa que decide as coisas rápido. Aposto que ainda vai mudar de ideia uma dez vezes. Por isso que eu deixaria para escolher quando estivesse tão em cima da hora, que não daria mais tempo de mudar minha decisão.
Fiquei vendo Carol preparar alguma coisa saudável para ela comer. Olhá-la cozinhar me deixava mais ansiosa pela chegada da minha janta. Não que Carol fosse uma grande cozinheira, pelo contrário. A comida dela parecia tão triste e sem gosto que eu ficava feliz por não ter que comer aquilo. Claro que nem toda comida saudável é triste e sem gosto, Carol apenas não era boa cozinheira.
Assim que a campainha tocou corri para a porta e paguei o entregador. Quando me virei para pôr a pizza na mesa, Beatriz já havia pego os guardanapos e já estava sentada com um sorriso enorme no rosto. Tive a impressão de que ela havia se materializado ali de tão rápida que foi.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...