Capítulo 14

102 10 21
                                    

Estava esperando fora da sala de René, encostada na parede de braços cruzados e com um ruga gigante estampada no meio da minha testa. Aquele imbecil ainda não havia chegado. Quando eu cheguei anda faltava uns dez minutos para dar sete horas. René sempre chegava mais cedo. Assumi que já estaria aqui. 

Já era sete e quinze e nada dele chegar.

Acordei meia hora mais cedo para me arrumar. Estava usando uma mini saia jeans e uma camisa de botões. Os dois primeiros botões abertos. Não parecia muito vulgar apenas porque a blusa era social, mas era possível ver bastante pele. Um colar com um pingente brilhante para chamar atenção para o decote. Não me atrevi a usar lábios vermelhos essa hora da madrugada, mas não dispensei minha assinatura, um delineado gatinho.

Poderia ter sido o outfit perfeito para chamar a atenção do profê. Para o meu azar, começou a chover torrencialmente. Estava quase um dilúvio lá fora! A caminhada da parada até a faculdade era surpreendente mais longa do que se espera quando se está debaixo da chuva. É claro que eu não lembrei de trazer uma sombrinha. Ainda que houvesse lembrado não ia adiantar de nada. Eu teria chegado ensopada do mesmo jeito. 

Agora eu estava tremendo de frio, tentando me cobrir o melhor que podia com a pouca roupa que tinha. Pior! Ainda tive que passar no banheiro para tirar a maquiagem borrada do rosto, já que não costumava usar à prova d'água no dia a dia.

René chegou quase meia hora atrasado. Poderia ter sido meia hora a mais dormindo. Ou uma hora, já que todo meu esforço de me arrumar foi por água abaixo. Literalmente.

Ele estava seco, obviamente. Veio de carro. Mas também não parecia nos seus melhores dias. Cabelo bagunçado, a barba estava começando a aparecer, jeans, t-shirt, jaqueta e tênis. Pensando bem, este definitivamente era seu melhor dia. O look informal combinava com ele, fazia-o parecer mais novo e acessível. 

– Desculpe o atraso – ele disse andando rápido. – Meu filho acordou se sentido mal.

Cacete! Eu não podia nem ficar com raiva! Primeiro porque ele não era obrigado a fazer isso por mim. Segundo que ele estava bonito demais pra sentir raiva. Terceiro que a desculpa dele era o filho doente. Mas e a mulher dele não podia ter tomado conta do menino?! O que ela tinha para fazer essa hora da manhã que tinha que empurrar a responsabilidade para René?

Bom, eu também não estava com um pingo de vontade de sorrir e não ia forçar.

– Não foi culpa sua. Além disso, a gente ainda tem meia hora...

Antes que eu terminasse de falar René tirou a jaqueta e colocou nos meus ombros. Eu teria ficado chateada por ele ter coberto meu decote, mas o cheiro da jaqueta dele era tão doce que me desconcertou por um momento. Se não bastasse isso, ele ainda se aproximou e pousou as mãos em meus ombros. Eu olhei para para ele sem saber como reagir com aquela proximidade, com a quele toque, com aquele cheiro inebriante.

– Você está tremendo – ele disse com a voz grave e baixa enquanto passava as mãos nos meus braços para me aquecer. – Não é melhor ir para casa se trocar? Não é uma boa ideia passar o dia com essas roupas molhadas. Vai adoecer também.

Vou adoecer? Tipo seu filho? Ótimo. Tudo que eu queria era ser comparada a uma criança. Arg! Meu dia piorava a cada segundo! Foda-se, eu não estava mais me sentindo sexy mesmo.

– Você vai me levar de carro até em casa e me trazer de volta? – perguntei petulante, tipo uma criança mimada. Era assim que eu estava me sentindo.

– Eu... Eu não acho que isso seja muito apropriado. – René deu um passo para trás.

– Então não adianta de nada. Eu vou pra casa, troco de roupa e, com uma chuva dessa, chego aqui ensopada de novo. Pior, ainda vou ter gastado duas passagens de ônibus pra nada!

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora