– Eu não... – eu não sabia o que dizer, pois não podia acreditar no que tinha ouvido.
Dei dois passos para trás, puxando minhas mãos das dele. Precisava de distância. Precisava entender o que eu estava sentindo e como eu deveria reagir à isso.
– Sei como você está se sentido. Eu me senti assim quando descobri que você estava mentindo para mim.
– Não sei se é a mesma coisa – falei. – Preciso de água.
Não queria olhar na cara dele, então fui para a cozinha pegar um copo d'água. Ouvi seus passos lentos vindo atrás de mim. Mas não virei para olhar para ele.
Sim, eu o havia enganado e agora me sentia enganada. O tempo toda achei que eu o estava manipulando. Achei que eu tinha o controle, que eu estava por cima. De repente escuto que ele também tinha suas próprias más intenções. A diferença é que ele se utilizou do seu poder de professor para isso.
Coloquei o copo na pia. Sabia que ele estava atrás de mim, mas preferi ficar encarando a parede.
– A minha primeira nota, ela podia ter sido mais alta? – perguntei. Queria saber até que ponto ele abusou do poder.
– Eram questões abertas. Dependendo do professor, claro que poderia ser uma nota maior. Mas não uma nota alta.
– Maior? Tipo quanto? – insisti.
– Não, sei. Creio que não maior que um seis?
– Um seis?! – virei-me para encará-lo, ele estava parado na entrada da cozinha com a maior cara de filho da puta, ou talvez fossem meus olhos. – Você me deu metade disso, René!
– Você era uma péssima aluna e claramente não tinha estudado nada! Eu não podia te dar uma nota boa – René argumentou e eu quis matá-lo!
– Então você achou por bem me dar uma péssima nota para que eu fosse implorar por ajuda?! – eu ia andando até ele pensando em enforcá-lo. – Foi isso?
– Não exatamente...
Eu ri irônica. Não podia ficar no apartamento e agora também não queria ficar com René. Hoje não estava sendo um dia bom. A gente sempre escuta que a relação entre um professor e aluno é complicada devido à desigualdade de poder. Achamos que estamos acima disso. Não fui eu quem começou com tudo? Não fui eu quem insistiu? Não era eu quem queria? Então por que eu estava me sentido tão traída?
– Você é... Você é um idiota – falei e comecei a chorar novamente.
– Lia... – René tentou me abraçar, mas eu o empurrei. Decidi ir embora. Comecei a andar em direção à porta da saída. Mas ele me segurou pelo pulso. – Espera, Lia. – Eu puxei meu braço. – Não vá assim, por favor!
– Eu não quero lidar com você! – falei pondo a mão na maçaneta.
Então parei ao ouvir um choro de criança muito alto e muito fino. Olhei para trás, para onde vinha o barulho. Vi René olhar também. Eles ainda estavam no quarto apesar de parecer que o barulho vinha do meu lado. René virou-se para olhar para mim, suplicante. Nós sabíamos que ele preferia ver o que aconteceu com os filhos do que tentar argumentar para que ficasse. Porém, antes de ir, ele veio até mim. Parou na minha frente e segurou meu rosto com as mão.
– Eu ainda preciso conversar com você. Não me deixe agora – pediu olhando fundo nos meus olhos.
Um gritou mais alto e ele foi em busca das crianças. Estava muito tentada a sair por aquela porta. Fugir dos problemas era fácil. Eu poderia dormir no quarto de Carol. Não precisava ter que olhar para Beatriz. De manhã, poderia marcar de sair com amigos. Se eu planejasse direitinho, dava para evitar Beatriz e René pelo resto do semestre.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...