Capítulo 41

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Gelei. Li e reli o email para ter certeza de que não estava interpretando errado. Não havia o que interpretar. Mais claro do que estava e me deixaria cega.

Puta merda. René não estava doente. Haviam impedido ele de dar aula. Conduta imprópria com discente. O que aconteceria com ele? Será que era por isso que ele não falava comigo? Devia estar devastado. Ou poderia estar com raiva de mim. Era tudo culpa minha! Eu não devia ter ido atrás dele. Sabia que ia dar em merda. Por que eu fiz isso?! Por que eu não podia apenas ter aceitado a ajuda e a amizade dele? Não era o bastante? Eu podia ter esperado o semestre acabar para tentar alguma coisa. E pensar que se passou por minha cabeça que eu deveria ter ido atrás dele mais cedo! Onde estava meu senso de responsabilidade?! Cacete! Eu não tinha nenhum, claramente. Será que eu devia ir agora na casa dele? Descobrir como ele estava, cuidar dele, quem sabe armar um plano de escape para essa situação fodida!

– Lia, chegamos. – A voz de Beatriz chamou minha atenção.

– Onde...? – Eu ainda estava desnorteada.

– Em casa, onde mais? Você tá bem, Lia? Sua cara está branca!

– Tô...

Desliguei a tela do celular antes que ela tivesse a chance de ler qualquer coisa. Sai do carro ainda sem acreditar no que li.

A culpa não era minha! Era da pessoa infame que não tem o que fazer e resolveu denunciar nosso envolvimento! Quem poderia ter sido? Eu sabia exatamente de quem era a culpa. Entramos em casa e eu fui direto para o quarto dela. Nem bati na porta. Abri com tudo e fechei com força atrás de mim.

– Você prometeu que não ia contar pra ninguém – falei baixo para que mais ninguém da casa escutasse.

– O que foi? – Débora perguntou dando uma de desentendida, tirando os fones de ouvido.

Estendi meu celular com o email na tela para que ela lesse. Débora apertou os olhos. Enquanto lia, sua sobrancelha foi se levantando e seus olhos aumentando, como se realmente estivesse surpresa.

– Lia, eu...

– Não se faça de idiota! Só pode ter sido você! – Tentei não gritar, mas minha voz saiu mais alta do que eu esperava. – Você sempre me odiou, desde que botou os pés nesta casa. E depois do que eu fiz com sua amiga sanguessuga eu devia saber que você ia querer troco!

Eu estava furiosa, tive que me esforçar para conter as lágrimas. Não queria parecer fraca na frente dela.

– Não fui eu! Ok?! Eu não disse nada a ninguém! – Ela também gritou.

– Você deve ter dito à alguém! Qualquer um dos seus amigos me odeia o suficiente para fazer uma coisa dessas! 

– Eu te odeio e adoraria fazer você sofrer. Mas nós já vimos que quem vai sofrer as consequências de verdade é o professor. E nem eu nem nenhum dos meus amigos têm algo contra ele! – argumentou.

Eu queria tanto que ela fosse a culpada. Eu poderia ameaçá-la, tentar vingança, expulsá-la desse apartamento. Tantas coisa. Saber que não podia jogar minhas frustrações e minha culpa em cima dela era devastador.

– Se eu descobrir que você está mentindo, eu juro que te mato, Débora.

– Tanto faz – ela revirou os olhos e voltou sua atenção para o computador. – Apenas minta, amanhã.

– Como? – perguntei antes de sair do seu quarto.

– Quando perguntarem se houve alguma coisa entre vocês dois. Minta. A não ser que tenham provas. É sua melhor chance de livrar o professor de uma punição maior.

– Tá. Valeu.

Seu conselho fazia sentido. Só não entendi por que ela queria me ajudar. Ah é. Não era a mim que ela estava ajudando, era René. Alguém cuja vida eu possivelmente havia arruinado! Ok, não vamos nos desesperar agora.

Fechei a porta do quarto de Débora e fui para meu quarto. Beatriz estava lá, conversando alegre com o namorado. Eu não estava querendo suportar alegria naquele momento. Fui para a sala, Carol estava gargalhando com alguma coisa estúpida na televisão. Às vezes eu queria muito morar sozinha.

– Você já conversou com Beatriz? – perguntei, tentando expulsar ela da sala para que eu pudesse ficar sozinha.

– Sim, ela disse que estava tudo ótimo. E ela me parecia bem. Tem certeza de que não é coisa da sua cabeça?

Coisa da minha cabeça o cacete! Carol estava cega, por acaso?! Tinha alguma coisa de errado com aquela menina. Foda-se. Tinha mais coisas de errado comigo. Para onde eu ia escapar agora?

– Você tá bem, Lia? – Carol me perguntou.

Sinto meu celular vibrando na minha mão. Número desconhecido. Podia ser René. Tinha que ser ele. Mas onde nós íamos conversar?

– Vou tomar banho – anunciei, como se ela precisasse saber.

Corri para meu quarto, peguei minha toalha, corri para o banheiro, fechei a porta, liguei o chuveiro. Entrei no box ainda de roupa, com o cuidado de não molhar o aparelho e atendi a ligação.

– Alô? – falei baixinho.

– Lia... – era a voz dele, graças aos deuses reais e imaginários! – Desculpa a demora pra te ligar... Eu não sabia o que dizer.

Encostei na parede e fui escorregando até sentar no chão molhado.

– Eu recebi o email – fui direto ao assunto.

– Já? Quando?

– Hoje. Agora há pouco. Quando você ficou sabendo?

– Ontem. Edgar me chamou pra conversar e disse que eu estava suspenso até segundas ordens. Vou ter que enfrentar o Comitê disciplinar na segunda. Imaginei que eles quisessem falar com você primeiro. Ter certeza de que você não é uma vítima ou algo assim.

Todas aquelas vezes que desejei que ele tivesse meu número para me ligar, todo aquele tempo que esperei que ele me ligasse depois que dei meu número... Mal imaginava que seria esse tipo de conversa que estaríamos tendo na nossa primeira ligação. Merda.

– Eu vou dizer que não teve nada entre a gente – falei.

– Eles podem ter provas, vídeo ou fotos. Nós não sabemos como descobriram. É melhor não mentir.

– Eu não quero te prejudicar mais, René... Não é melhor fingir que é tudo uma boato? Podemos dizer que foi montagem, sei lá!

– Não pense em mim. Fale a verdade, seja sincera. Minha reunião é na segunda. Eu cuido disso quando for a hora. Ok?

Demorei a responder. Não queria encerrar a conversa. Também não queria continuar aquela conversa.

– Ok.

– Vai ficar tudo bem – ele disse, soando mais desejoso do que certo.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora