Capítulo 24

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Não resisti ao gif. Desculpem.

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Acordei com vontade de dormir mais. Enrolei um pouco no colchão, já que ainda era domingo. Contudo, a maciez da cama era diferente, um pouco mais dura do que eu estava habituada. Também era mais espaçoso. Meu braço estava completamente estendido e eu ainda não havia alcançado a borda da cama. E o cheiro. Tinha um cheiro diferente. Um cheiro familiar. Mas não era o meu cheiro.

Finalmente abri os olhos para me encontrar deitada em uma cama de casal em um quarto completamente estranho. Eu não estava usando as minhas roupas. Usava uma camisa branca de algodão que cobria até metade das minhas coxas. Mais comprida que metade dos meus vestidos e saias. Bastante confortável. O que me incomodava, porém, era o fato de eu estar sem sutiã e sem calcinha. O que diabos havia acontecido?!

Não conseguia lembrar de nada depois de ter encontrado René. Naturalmente, assumi que ele havia me levado para a casa dele. As roupas deviam ser dele. Mas foi ele quem trocou minhas roupas? E onde estava a esposa dele que deixou isso acontecer? Ou teria sido ela que me trocou? Essa camisa poderia muito bem ser dela, não sei. Mas onde eles estavam?! Essa era a cama deles? Não podia ser um quarto de hóspedes, pois os lençóis tinham o cheiro de René. Levantei da cama para ir a procura de alguém. Precisava de explicações. E das minhas roupas.

Saí do quarto. Um corredor com cinco portas. Duas de um lado, duas do outro e a porta que eu havia aberto. Pensei em sair batendo nas portas para ver se encontrava alguém. Então escutei um barulho um pouco distante, mas definitivamente vinha de dentro da casa. Música? Também, mas havia uma voz por cima dizendo coisas de forma empolgada, como... Como... Um podcast? Não, um rádio. Alguém ainda escutava a rádio? Logo começou uma música popular e eu tive certeza.

Além do rádio, escutei o barulho de pratos e talheres. Rumo à cozinha eu fui. Segui o corredor, todas as portas fechadas. Uma sala. Não era nenhuma mansão, no entanto, parecia bastante aconchegante. Uma televisão larga, sofá bege com almofadas coloridas, um tapete de tons terrosos e fotos por todos os lados. Acabei me distraindo por um momento com as fotos de família. Era uma família grande e aparentemente feliz. Marido, esposa, senhores e senhoras de idades, tios, primos, crianças e bebês. Não sou muito fã de crianças, mas tenho que admitir que são muito fofinhas quando não estão infernizando a vida dos outros.

Não conseguia achar René em nenhuma delas. Estranho. Digo, era definitivamente a família dele. Havia um casal de idosos que muito se pareciam com ele e um irmão que era quase o clone dele, só que mais novo, bem mais magro e sempre com a esposa do lado e às vezes um bebê no colo. Mas nada de René.

– Acordou, finalmente – disse uma voz bem atrás de mim.

Levei um baita susto, quase deixei o retrato cair. Coloquei-o de volta no lugar e me virei para olhar irritada para René, que prendia o riso de deboche.

– Precisa chegar de fininho assim?! - reclamei.

– Você é bem mal agradecida, não é?

– Como assim?

– Como assim? É sério? – ele olhou para mim surpreso, como se fosse óbvio.

– Escuta aqui, eu não lembro de nada! A única coisa que eu sei é que acordei numa casa estranha sem minhas roupas. Como que eu vou saber que você não tirou proveito de mim enquanto eu estava desacordada?!

René abriu a boca mas não disse nada imediatamente. Fez uma puta cara de arrependido, colocando a mão na cintura e passando a outra mão no rosto irritadamente.

– Você praticamente se atirou aos meus pés naquele dia! Eu não preciso me aproveitar de você, Lia. Você não é uma mulher difícil – ele disse bem bravinho colocando o dedo na minha cara.

– Tem razão. – Dei de ombros. – É só você pedir, ou melhor, implorar que eu durmo com você. Foi isso que eu disse, não foi? – se ele queria me ofender me chamando de fácil, tenta de novo. De preferência sem as roupas, em uma cama.

Ele limpou a garganta desconfortável e deu uma passo para trás. Ele dizia que não me queria. Porém, era engraçado como ele estava sempre chegando muito perto.

– Eu não lembrava onde era sua casa e você não quis me dizer. Então eu te trouxe pra cá. – Assenti para que ele desse continuidade às explicações. – Você vomitou assim que chegou e cismou de entrar debaixo do chuveiro depois. Coloquei suas roupas para lavar e te dei minha camisa enquanto elas secam. – Ele coçou a nuca, claramente desconfortável. – Está fazendo sol, daqui a pouco elas secam.

– Então, você me viu nua? – perguntei com um sorriso safado.

– Evitei ao máximo – afirmou desviando o olhar.

– Mas viu – afirmei.

– Er... Um pouco – limpou a garganta novamente.

– Gostou do que viu?

Ele desistiu da conversa, saindo da sala. Eu fui atrás, claro. Acabamos na cozinha, que ficava logo ao lado. Era ampla, quase tão ampla quanto a sala. No apartamento em que eu estava mal tinha espaço para duas pessoas na cozinha. Aqui caberia um time de futebol. A única coisa estranha era aquele rádio tocando em cima da bancada.

René mexia as panelas no fogo. A mesa estava toda posta, pães, geleias, manteiga, queijo, suco, café e até uma fruteira com frutas de verdade de onde tirei uma banana. Um grande relógio de parede apontava nove da manhã. Não era tão tarde ainda.

Havia mais fotos presas com imãs na geladeira. Essa família era mesmo obcecada por fotos. Cheguei perto do geladeira e novamente observei que não havia fotos de René. Só havia uma conclusão óbvia a se fazer.

– Você é o fotógrafo da família? – perguntei para ter certeza.

– Às vezes. Geralmente é meu sogro. Ele não gosta de aparecer em fotos – ele disse.

– Pelo menos ele se esforça para aparecer em algumas. Você nem tenta – critiquei.

– Do que você está falando? Eu estou em, pelo menos, oitenta por cento das fotos.

– Como assim? Onde?

René deixou o fogão para trás, vindo para o meu lado. Apontou o dedo para o irmão mais novo dele em uma das fotos.

– Este sou eu. – Apontou para outra foto do... irmão? – Este também. E este. E este. Eu estou em quase todas elas.

Olhei impressionada finalmente entendendo tudo.

– Eu achei que era seu irmão mais novo – comentei rindo, fazendo-o rir também.

– Sério? Bem, a foto mais recente deve ter quase três anos. Eu mudei um pouco de lá pra cá.

– Não me diga! – ironizei. – Você ganhou uns dez quilos de músculos e envelheceu pelo menos uns sete anos.

Falei brincando, de bom humor. Mas seu sorriso no rosto me pareceu triste. Ele olhou para o chão por um momento.

– Eu não quis ofender te chamando de velho – tentei remendar. – Você nem é velho e está bem melhor agora, de qualquer forma.

– Não, não é isso... É que... – ele respirou fundo e voltou a olhar para a geladeira passando rápido pelas fotos até achar uma para apontar. – Esta foi a última foto que tiramos todos juntos.

Ele estava magro e jovem, com uma menina pequena no colo. Uma mulher, que assumi ser a esposa dele, estava deitada em uma cama de hospital com um recém-nascido nos braços. Todos pareciam bem contentes enquanto o bebê dormia tranquilo.

– O que foi que aconteceu? – perguntei intrigada, mas não tinha certeza se queria saber da resposta.

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É isto. Finalmente descobrimos um pouco sobre a família de René e próximo capítulo tem mais. 

Muito mais. 😏

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora