Elas também paralisaram quando me viram. Nunca vi o rosto de Beatriz tão branco, nem seus olhos tão arregalados. Acho que ela não estava respirando. Eu certamente não estava. Ana olhou de Beatriz para mim e abafou uma risada pondo a mão na boca. Ela estava achando engraçado? Resolvi mostrar o que era engraçado! Avancei em cima dela, agarrei seus cabelos e pressionei sua cara contra a parede.
– O que porra você pensa que está fazendo com Beatriz?! Quem você pensa que é?! – Não lembro de sentir tanto ódio em qualquer outro momento da minha vida.
Beatriz gritou assustada. Ana reagiu socando minha barriga partido para uma chave de pescoço.
– Eu não fiz nada que ela não quisesse! – a loira insossa disse enquanto me sufocava.
– Pare! – Beatriz empurrou Ana para me soltar. – Você tá louca?!
Beatriz me abraçou, protetora. Ana riu de lado.
– Sabe de uma coisa? Você merece isso – disse passando a mão nos cabelos bagunçados. – Boa sorte.
Apertei os pulsos para controlar minha vontade de pegar essa galeguinha pelos cabelos e enfiar sua cabeça na privada. Beatriz era mais importante. Era ela quem precisava da minha atenção agora. Afastei-me um pouco, segurei em seus ombros e olhei bem em seus olhos.
– Você está bem? – perguntei. – Ela te machucou ou fez alguma coisa que você não queria?
Beatriz não me respondeu. Olhou para baixo e eu só escutei seus soluços. Abracei apertado e deixei que ela chorasse em meu ombro. Eu sabia exatamente o que havia acontecido. Aquela tarada havia se aproveitado do estado alcoolizado da minha amiga para tirar proveito dela. Eu precisava tirar Beatriz dali. Pensei em pegar meu celular para avisar a Carol e Débora quando vejo as duas entrarem no banheiro com aflição estampada no rosto.
Elas explicaram que estavam indo para o banheiro quando encontraram Ana. Perguntaram por Beatriz e ela respondeu.
– Ela parecia furiosa com alguma coisa, nem olhou pra gente direito. – Débora disse.
– O que aconteceu? – Carol perguntou.
Eu não quis falar nada ali, naquele banheiro imundo. Convidei as duas a encerrar a noite mais cedo e voltar para casa comigo e com Beatriz. No caminho, Beatriz não chorava mais. Ninguém perguntou o que tinha acontecido. Ninguém disse nada. Beatriz ficou olhando pela janela do carro. Se ela olhava a paisagem ou algo além, eu não sei. Só posso dizer que eu não conseguia tirar meu olhos dela. Eu me sentia culpada. Não sabia exatamente pelo quê ainda.
Enquanto subíamos as escada eu ia logo atrás dela, com medo que caísse. Bia ainda estava um pouco alta. Abri a porta, todas entramos.
– Vou preparar um café. – Débora foi para a cozinha.
Nos sentamos em volta da pequena mesa retangular encostada à parede. Carol abriu a cortina e a janela para entrar um pouco de ar junto com a luz fraca da madrugada. Beatriz encarava o vaso de flores falsas no meio da mesa. Eu sentei ao lado dela, ainda incapaz de tirar meu olhos do seu semblante triste. Peguei sua mão. Ela puxou de volta.
Débora apareceu com um copo de água para cada uma. Eu não toque no meu. Beatriz tomou tudo de uma vez. Carol apenas bebericou o seu antes de se sentar. Débora sumiu novamente.
– Você não vai falar nada? – perguntei.
– Ana não fez nada de errado. – Ela limpou uma lágrima com as costas da mão. – Eu que fiz.
– E o que você fez que acha que foi errado? – Carol tocou na mão de Beatriz que não puxou para longe.
– Eu acho que eu gosto mais de meninas. – Sua voz era baixa, mas bem clara.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...