Fiz a prova na terça. Como combinado, eu e René não tivemos aula pela manhã, já que ter aula no dia da prova era um pouco injusto com os outros alunos. Eu já estava trapaceando suficiente tendo aulas particulares com o professor que faria as questões.
Foi difícil, mas consegui escrever mais do que imaginei. Digo, eu vou ser jornalista, é claro que amo escrever. Mas o assunto realmente não era um grande interesse meu. Não era. Mas, aos pouco, veio a se tornar. Não estava esperando por isso. Não estava estava esperando me divertir tanto com um assunto que antes me punha para dormir. Talvez eu devesse agradecer a René, ele era um professor melhor do que eu lhe dava crédito inicialmente. Ou talvez eu realmente tinha um preconceito estúpido contra o assunto. Se era o caso, esse preconceito estava praticamente morto dentro de mim.
Ótimo, pois gostar do assunto era a melhor maneira de aprender e consequentemente vencer a aposta.
Quinta-feira. O dia do resultado da primeira prova. Dormi super mal à noite por causa da ansiedade. Engraçado. Não dormi mal na noite anterior à prova. Agora que eu ia saber minha nota parecia que tudo ia se tornar real. Se eu tirasse um sete, ainda poderia tentar um dez no trabalho final.
Menos que sete e Beatriz venceria.
Apesar de não ter dormido bem, acordei com o primeiro toque do despertador. Nem precisei da função soneca. Fiz um café bem forte para acalmar meus nervos.
– Cafeína não acalma os nervos, deixa pior – Beatriz disse entrando na cozinha.
– Perdoa-a, deuses do café! Ela não sabe o que diz! – brinquei.
– Você é ridícula – ela disse enquanto preparava um sanduíche. – Espero que saiba que vai pro inferno.
– Gosto de um clima mais quente – falei fazendo-a revirar os olhos.
Maria Beatriz podia até parecer calma para um desavisado. Contudo, quando ela começava a ameaçar com tragédias de cunho religioso, era certeza de que estava estressada.
Nada melhor pela manhã do que tomar café sentindo o cheiro doce do medo de nossos oponentes.
Pena que eu também estava com medo. Ainda assim, não pude deixar de me perguntar por que ela achava que valia a pena trair o namorado só para eu ter uma chance de estagiar na Janela comigo. Digo, se apostou é porque pensa isso. E se pensa isso, aí ela tem que se perguntar se vale a pena o namoro. Mas isso já não é comigo. Eu já tenho certeza de que esse namoro não vale a pena.
Chegamos na faculdade cedinho. René já estava em sala, lendo um novo livro. Ele levantou a cabeça quando entramos. Olhou para mim e sorriu seu típico sorriso doce que já começava a me fazer falta nos dias em que eu não o via. Sorri também, mas o meu sorriso era muito mais amplo e certamente muito mais nervoso. Precisava saber logo da minha nota.
– Bom dia – ele nos cumprimentou.
– Você vai dar a nota no começo da aula ou no final? – perguntei sem me importar com formalidades.
– Bom dia, professor – Beatriz me censurou.
René apenas riu. Ele fechou o livro e se inclinou para frente, apoiando os braços em sua mesa.
– Se eu der a nota no começo, vocês irão passar a aula comparando notas e falando sobre isso. Então só no final, infelizmente.
Eu não queria esperar. Fui até a mesa dele e coloquei as duas mão sobre ela, tomando-a como apoio. Também me inclinei um pouco para chegar mas perto dele, que não recuou.
– Será que você não podia me dizer a minha nota? – falei baixo, na esperança dos outros dois alunos que já estavam em sala não ouvirem.
Ele se inclinou um pouco mais para frente com um meio sorriso malicioso. O que ele faria se eu o beijasse agora? Tinha gente na sala, não tinha como disfarçar. Mas ele estava perto o suficiente para anuviar meus pensamentos. E seu cheiro era tão doce...
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...