Ele foi andando na frente, virando as costas para mim. Não sabia quem ele era e estava cagando para isso. Só queria saber onde estava René.
Segui o velho até a sala. Tereza estava sentada no sofá. O velho sentou-se ao lado dela. René estava sentado em uma poltrona, quase de frente para o sofá, quase de costas para mim. Seus olhos estavam avermelhados e fundos, seus cabelos desgrenhados, um pouco oleosos, sua postura caída, olhando para baixo. Mas seus olhos se levantaram para me ver quando entrei na sala. Um pequeno sorriso. Ele levantou da poltrona e me abraçou apertado. O abracei de volta o mais apertado que consegui.
– Você não devia ter vindo aqui, Lia – ele falou. – Mas obrigado por vir.
– Você jogou tudo fora por essa japonesinha? – o velho disse. – Depois de tanto tempo com minha filha é isso que você arranja?
– Francisco, não desconte nela – René me defendeu, soltando o abraço, mas segurando minha mão.
– Eu lhe disse, querido – Tereza falava com Francisco. Naturalmente assumi que eram casados. – René perdeu a cabeça. E logo vai perder o emprego também.
– Tereza... – René estava pronto para me defender novamente.
– Peço desculpas. – Eu me senti na obrigação de interrompê-lo. – É tudo culpa minha. Eu quem deveria ser penalizada.
– Não, Lia... – Ele acariciou meu rosto. – Não é sua culpa.
– Explique-se – Tereza pediu.
Estava esperando explicar tudo isso apenas para René. Estava planejando implorar seu perdão. Não imaginei ter que fazer isso para dois idosos que eu mal conhecia. Quem mandou escolher um homem complicado desses? Quem mandou escolher o professor?
Indiquei a poltrona onde René estava antes sentado, para que ele se sentisse mais confortável depois da bomba.
– Você não precisa explicar nada – ele insistiu.
– Mas não foi você quem disse que eu deveria ser sincera?
– Tudo bem – ele disse após me dar um beijo na testa.
René assentiu e se sentou. Passei os dedos pelo rosto, principalmente debaixo dos olhos. Queria limpar um pouco a maquiagem borrada numa vã tentativa de parecer mais apresentável.
– Talvez vocês não saibam disso, mas nós só ficamos juntos por insistência minha. René não queria, mas eu consigo ser bem persistente. – René sorriu, eu também. Os dois idosos não.
– Eu não sou uma criança. Poderia ter dito não – René interveio.
– Você não precisaria dizer não se eu não tivesse me atirado pra cima de você... Mais de uma vez. Enfim. Este não é o único motivo. – Respirei fundo. – Lembra de Maria Beatriz, da nossa turma? – René assentiu. – Nós nos conhecemos desde criança e hoje moramos juntas. Mas temos uma história meio complicada. Ela viu a gente se beijando no museu. Nos fotografou e fez a denúncia.
René cobriu o rosto com as mãos.
– Então a culpa é minha. – René disse. – Fui eu que te beijei.
– Mas eu fui até você naquele dia! E ela é, ou era, a minha amiga.
– A culpa é dos dois – Tereza disse, interrompendo essa disputa tola. – Mas é mais sua, menina. Foi você que começou tudo isso.
René lançou um olhar rígido para Tereza. Francisco concordou. Parece que nossos juízes havia feito seu julgamento.
– Bom, eu tentei assumir a culpa. Disse que tinha seduzido René só para conseguir uma boa nota – falei, levantando as sobrancelhas dos três.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...