Mais um fim de semana perdido graças à minha ansiedade. Recebi alguns convites para sair, mas recusei todos. Carol até estranhou.
– Parece que conseguiu alguém para baixar seu fogo – disse para me provocar.
– Nem mangueira de bombeiro abaixa o meu fogo, queridinha! – brinquei e não disse mais nada.
Eu queria muito ver René, poder falar com ele. Terça de manhã acordei mais cedo. Fiquei sentada na cama, decidindo se deveria ir mais cedo para a faculdade ou não. Ele poderia não estar lá. Mas ele sempre era o primeiro a chegar. Porém, com a fama de atrasada que tenho, chegar cedo era quase como declarar meu interesse. Eu não estava pronta para declarar nada para ninguém, até porque não havia nada para se declarar e eu não queria que ele pensasse que isto estava ficando sério.
Se estivesse, seria tão ruim assim?
Bem, eu não queria passar quatorze anos com um cara só!
Nem com René?
Mesmo que eu quisesse, depois de ficar viúvo de uma relacionamento de quatorze anos com a primeira namorada, a última coisa que alguém ia querer era pular direto em outro relacionamento sério. Tinha certeza de que eu era só um caso para ele também. Um caso de transição. Daqueles que as pessoas pegam e não se apegam só para ficarem prontas para o próximo relacionamento sério.
Esse tipo de pensamento me deixava mais calma. Por algum motivo, também me embrulhava o estômago. De qualquer forma, eu não queria assustar alguém que só estava procurando um caso momentâneo aparecendo cedo demais na sala dele. Estava decidido. Eu ia chegar na hora da aula como todo mundo, como quem não quer nada. E não quero mesmo!
Voltei a deitar na cama, decidida a dormir mais um pouco. Eu estava tentando enganar quem? Levantei-me novamente. Fiquei andando de um lado para o outro no quarto.
Eu tinha que chegar lá mais cedo. A questão era como fazer isso sem parecer suspeito? Acordar Beatriz dizendo que o despertador tocou e ela não ouviu? Ela ia olhar a hora no celular ou perceber que Débora ainda não havia acordado nem Carol havia retornado da corrida matinal. Posso dizer a ela que estava chovendo e poderia alagar tudo. Nós geralmente saíamos mais cedo quando chovia. Olhei para a janela. Nenhuma nuvem no céu. Será que se eu só pedisse a ela para ir mais cedo, ela iria? Nem que fosse só meia hora? Ela me arrastou para o museu cedo demais. Contudo, Beatriz era a motorista, então podia ditar as horas.
– Por que você está andando de um lado pro outro a essa hora? – Beatriz disse com a voz sonolenta.
Merda, eu ainda não tinha pensado em nada.
– Estava pensando no que eu ia escrever pro trabalho final. Acho que vou mais cedo pra faculdade pra falar com o professor. – Até que o improviso não foi tão ruim.
– Então vá logo e para de fazer barulho. – Ela se virou para o outro lado e voltou a dormir.
Para que eu precisava de Beatriz? Eu podia muito bem ir sem ela! Ah, é. Eu queria disfarçar meu interesse. Eu não tinha nada para falar sobre o trabalho ainda. Ia chegar lá de mãos abanando e René ia assumir que eu queria alguma coisa séria! Ou pior! ia pensar que eu estava apaixonada! Senti vontade de vomitar só em imaginar um absurdo desse.
Claramente planejar não era meu forte. Eu queria ir e ia de qualquer forma. Chegando lá improvisaria qualquer coisa. Escovei os dentes, tomei banho, pus roupa e maquiagem e fui com a cara e a coragem!
Então voltei porque havia esquecido os materiais para a aula e sai de novo.
Voltei de novo porque esqueci o cartão do ônibus. E dessa vez eu fui mesmo.
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...