Capítulo 10

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Acordar cedo era uma merda. E hoje tive que acordar mais cedo que o normal. Ainda estava escuro. Se o sol não apareceu, ainda não era hora de acordar! Mas eu tinha que estar na faculdade às sete horas se quisesse ter uma chance de vencer essa aposta.

Por causa disso, acabei descobrindo por acidente que Carol acordava sempre às cinco da manhã. Sete anos de amizade, quatro morando juntas, e eu jamais imaginaria que ela se passaria por uma coisa dessas. E o pior, ela já estava de saída para correr, enquanto eu me arrastava pela casa atrás do pó de café.

As ruas ainda estavam um pouco vazias às seis horas. No ônibus só havia mais cinco pessoas. Na faculdade, apenas o pessoal da limpeza. Devo admitir que fiquei um pouco receosa. Esse professor certamente estava com más intenções. Por que alguém se prestaria a acordar cedo para ensinar uma aluna? Ainda mais uma aluna linda como eu! De tantos horários, por que não escolheu, digamos, a hora do almoço? Podíamos almoçar juntos enquanto ele me ajudava. Mas não. Escolheu justamente um horário em que não havia testemunhas.

Bom, se eu fosse uma menina inocente como Beatriz, talvez ficasse assustada ou teria uma conversa sincera com ele antes de começar. Mas se o pobre professor carente estava a fim da aluna gostosa, quem sou eu para atrapalhar suas fantasias? Quem sabe eu não conseguia algumas horas extras particulares na casa dele?

Ok, seria um pouco demais. Até eu tenho limites.

Tenho mesmo?

Cheguei na sala de René e dei duas batidas na porta. Escutei-o me convidar para entrar. Lá estava ele, sentado na cadeira, parecendo bastante sério com seu livro e seus óculos redondos de armação prata. Ele sorriu ao perceber que cheguei, seus olhos arredondados tomando um formato de meia lua.

– Fiquei me perguntando se você ia aparecer – ele disse.

– Eu demorei? – falei pondo a mão no bolso da calça em busca do celular para ver o relógio.

– Não. Chegou na hora.

Era impressão minha ou ele estava ansioso para me ver? Então ele não estava só com tesão, estava apaixonado também? Assim René deixava fácil demais! Não tinha nem graça tirar proveito dele. Do jeito que estava indo, eu não ia nem precisar me esforçar na prova.

– Senta aí. Me diz o que você estudou até agora, quais suas dúvidas – sugeriu.

Fiz como ele disse. Tirei o livro da bolsa e meu tablet. Não é porque ele estava facilitando que eu ia deixar de estudar. Afinal, ele não tinha como fazer milagre. Na verdade até tinha. Mas como eu disse, não tinha certeza do quão longe eu estava disposta a ir para ganhar essa aposta.

– Aqui – ele disse colocando um copo de café pra a viagem na minha frente. – Vai facilitar a vida. Sem açúcar, não é?

Admito que fiquei emocionada por ele ter me trazido café. E ainda por cima se lembrou de que gosto sem açúcar. Desse jeito eu ia me apaixonar por ele também! Tá, não era pra tanto. Precisava de um pouco mais que isso para eu me apaixonar. Ou muito mais. Mas não pude evitar de sorrir com esse gesto simples.

– Sim, sem açúcar. Obrigada.

Distraída, tomei um gole do café ainda muito quente. Amo café mas...

– Puta que pariu, queimei meu lábio – falei deixando o copo na mesa e pondo a mão sobre minha boca, esperando passar o ardor.

– Desculpe, eu devia ter avisado – ele disse todo preocupado.

René pegou o copo e tirou a tampa para que esfriasse mais rápido

– Não foi culpa sua, eu devia ser mais atenta.

Meu Bom ProfessorOnde histórias criam vida. Descubra agora