Não era apenas uma exaustão física, era bem mais emocional. Tive que lidar com o Diretor do curso, briguei com Beatriz, briguei com René, fiz as pazes com René, decidi que vou terminar com René quando tudo isso acabar. Tudo que eu queria era uma cachaça forte pra ver se eu esquecia metade disso. Ao menos momentaneamente.
Acabei dormindo ali, não sei por quanto tempo. Acordei ao sentir um movimento na cama. Abri os olhos devagar. As luzes do quarto estavam apagadas, exceto por uma arandela do lado de René. Ele abria um livro para ler sob a luz fraca e amarelada. Seu cabelo estava meio molhado, devia ter acabado de tomar um banho. Sentei-me na cama, roubando sua atenção do livro.
– Eu te acordei? – ele perguntou.
Assenti com um sorriso.
– Eu estava esperando você chegar. Peguei no sono sem querer – expliquei. – Vai dormir com o cabelo molhado?
– Às vezes só tenho tempo de lavar o cabelo a essa hora. Mas eu ainda vou ler, então vai dar tempo de secar um pouco.
Senti pena por seu dia corrido. Não conseguia imaginar como ele aguentava. Certamente não conseguia me ver nessa situação e esperava jamais ter que descobrir.
– Eu não sei como você consegue.
– Você ajudou. – ele sorriu gentil.
– Hoje. Mas não vou estar aqui sempre.
Ele fechou o livro e colocou no criado-mudo ao seu lado. Mesmo com a pouca luz eu conseguia ver o vinco que se formara em sua testa.
– Por que eu tenho a sensação de que você quer me dizer que nunca mais vai estar aqui?
Não respondi de imediato. Fiquei um pouco surpresa com sua percepção. Senti meu estômago embrulhar. Queria mentir e dizer que estaria aqui sempre que ele quisesse, que era só me chamar. Mas eu não estava pronta para isso. Eu não queria ser a moça com os pés acorrentados daquele quadro.
– Acho que isso não vai funcionar – falei sincera.
– Você não precisa ser uma mãe ou uma madrasta. Eu não vou te pedir isso – ele disse, olhando para as próprias mãos. Parecia um pouco decepcionado.
– Eles já pediram por você. Além disso, não tem como separar as duas coisas. Eles estão incluso no pacote. E eu não estou pronta para tudo que vem junto.
A verdade era que eu nem queria tentar. Nunca chegou a ser uma possibilidade na minha cabeça. Carol estava certa. Se eu não queria enfrentar todas as dificuldades que vinham atreladas a ele, não devia ter voltado a vê-lo.
Fiquei feliz, no entanto, que ele estivesse aceitando tão bem essa decisão. Eu prezava demais por minha individualidade e minha liberdade para ser capaz de entrar em um relacionamento assim.
– Tudo bem, então – René disse.
Ele então se levantou da cama. Pegou um travesseiro e um lençol.
– Onde você vai? – perguntei.
– Dormir no quarto de visitas.
– Não precisa, deixa de ser bobo.
– Lia, talvez para você isso tenha sido só uma brincadeira. Mas para mim nunca foi. Eu não ia arriscar tanto se soubesse que nunca teríamos uma chance. – Ele sorriu, um sorriso triste. – Eu devia saber que jamais teria chances com uma garota como você.
Ele ia saindo, mas eu me levantei também e segurei seu braço, impedindo-o de deixar o quarto.
– René, por favor. Eu tive um dia ruim, você teve um dia ruim. Não podemos ficar juntos só mais essa noite? – implorei.
Ele puxou o braço, tentando me ignorar. Então eu puxei seu rosto para beijá-lo. René soltou o travesseiro e o lençol e me puxou pela cintura, facilmente aceitando meu beijo. Abri meus lábios para que nossas línguas se encontrassem. Eu sabia. Se meu beijo tivesse metade do efeito que o beijo dele tinha em mim, ele jamais seria capaz de recusar.
Esse mesmo beijo foi ficando mais intenso. As mãos de René não se demoraram a entrar por debaixo da minha camisa, que na verdade era dele, e retirá-la. Como eu havia tirado a cueca que ele havia me emprestado, estava agora completamente nua. Ele aproveitou que havíamos nos separado para retirar a própria camisa também. Mal dei tempo para ele se despir, colei nossas bocas e nossos corpos mais uma vez. Daí não tivemos coragem de nos separar novamente. Eu não queria que ele parasse para pensar e imagino que ele também não queria isso. Ambos sabíamos que se o fizesse, logo perceberia o erro.
Eu nunca liguei muito de fazer a coisa errada. Ainda mais quando sentia aquele par de mãos acariciando meu corpo e seus beijos marcando minha pele quente. René deslizou as mão para a parte de trás das minhas coxas e me levantou. Escutei algumas coisas caíram logo antes de ele me pôr sobre a escrivaninha do seu quarto. René me beijou com gosto, parecia com sede. Mas entendi que era receio de que este momento parasse por qualquer motivo que fosse, pois seria o último. E nenhum de nós queria que o fim chegasse.
Sequer percebi quando ele se despiu. Quando ele me penetrou, meu corpo o recebeu com saudade. Como uma parte de mim que jamais deveria ter me deixado. Ele estava apressado, até um pouco agressivo. Puxava-me com força e mordia meu pescoço com uma intensidade que certamente deixaria marca. Estava sendo difícil controlar meus gemidos.
René, por outro lado, não parecia querer controlar nada. Seu gemido grave e arranhado contra o meu ouvido me causava arrepios na nuca. Não demorei a gozar. Já ele, demorou.
Arrastou-me para a cama, começou por cima, mas eu tive medo de caso deixasse nas mãos dele, acabássemos fazendo muito barulho. Empurrei seu ombro, deitando-o para que eu pudesse ficar por cima. Ele não lutou. Olhando-o de cima, pude observar sua musculatura tensa brilhando de suor. Seus dedos apertavam minhas coxas enquanto eu me movia sobre seu quadril. Quando ele começou a gemer um pouco mais alto, eu me deitei sobre seu corpo para calá-lo com um beijo. Soltei seus lábios, para voltar para a posição na qual eu podia me mexer melhor, mas ele não se conformou. Sentou-se e agarrou minha cintura, roubando minha boca com a dele. Tomando o controle, foi inevitável que ele se colocasse por cima de mim mais uma vez, jogando uma de minhas pernas sobre seu ombro, metendo com força. Tive mais um orgasmo, dessa vez, junto com ele.
René deitou-se por cima de mim, ofegante. Ele não disse mais nada. Eu adormeci em seus braços. Satisfeita, porém sentia um grande peso na consciência. Por que eu estava me sentindo tão culpada?
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Meu Bom Professor
RomanceLia é uma aluna de jornalismo que está pouco interessada na cadeira eletiva de Crítica da Arte e o professor não pretende pegar leve com ela. Isso não seria problema se Lia não tivesse feito uma aposta com sua amiga Beatriz, afirmando que conseguiri...