Capítulo XIII: O Espirito das Escadas (Parte 1)

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1937, República Socialista Soviética da Rússia, Moscou.

Piotr Mikhailovitch desceu as escadas em caracol do apartamento de seu tio. O rapaz de treze anos portava nos braços uma caixa de madeira contendo livros, ao passo que os adultos, lá em cima, desmontavam a escrivaninha para fazê-la passar pelo alçapão. Aconteceu que o governo requisitou o apartamento de Pavel Iurievitch e transferiu sua moradia para a casa de Mikha e Anya.

Naquele antigo sótão, logo, residiria um viúvo com o filho recém nascido e o aposento deveria ser desocupado pelo atual inquilino.

Ainda restavam alguns dias para a entrega do quarto, no entanto, a folga daquela semana era o único tempo disponível para a execução da mudança, uma vez que as horas de trabalho ocupavam o restante da rotina.

Pétia ofereceu-se para ajudar. Estava naquela fase entre a infância e a adolescência em que se deseja fazer as coisas como os adultos. Para ele, a tarefa de auxiliar Pavel e Mikhail, o colocava no mesmo patamar de maturidade que os dois senhores. O rapaz insistiu também em levar aquela caixa pesada, ainda, que ao percorrer o corredor, mais de uma vez, sentisse a necessidade de parar a caminhada por não aguentar o peso dos livros por muito tempo.

O garoto de bochechas rechonchudas e olhar azeitonado ia em direção à casa de sua família, onde, na sala, a mãe e a irmã terminavam de retirar diversos móveis para que se fizesse espaço para o leito e os pertences de Pavel.

Estavam todos insatisfeitos com a mudança, com exceção apenas de Pétia, que nutria verdadeira adoração pelo tio.

Acreditava que Pasha havia servido ao exército por um ano, como constava nos documentos, e as questões bélicas, tal como o serviço militar, o fascinavam. Na escola e na Juventude do Partido Comunista, ouvia diversas histórias e diversos feitos do exército russo. Tais contos soavam fascinantes ao filho de Mikhail, que idealizava e romantizava a guerra, sem compreender os conflitos em si e nem suas consequências.

Todos os pais possuem seus defeitos. Anya e Mikha falhavam naquele ponto: compartilhar suas experiências. Tal medo por parte de ambos vinha da ideia de proteger as crianças. Os dois ocultavam de Piotr e Tatyana as dificuldades provindas dos racionamentos, o caos dos desaparecimentos e prisões recentes e, é claro, o passado vivido entre guerras e mais guerras.

Piotr não possuía o segundo lado da moeda e, por isso, mal podia esperar a idade para se alistar no exército e trajar uma farda de soldado vermelho.

No que entrou no apartamento e deixou a caixa de livros no chão, observou a mãe e a irmã. As duas terminavam de transferir o canapé para o lado da porta, deixando o centro do aposento livre.

— Eles dois demorarão muito? — Perguntou Anya ao filho, enquanto o rapazinho limpava com a manga da camisa o suor que escorria por sua testa.

— Estão desmontando a escrivaninha, para passá-la pelo alçapão.

— Não há espaço para uma escrivaninha, por Deus, onde pretendem enfiar todas essas coisas?

Nenhuma das crianças respondeu. Compreendiam que a mãe não as questionava, mas sim expressava certo descontentamento com toda aquela situação. Se o local já era pequeno para os quatro...

— Tanechka, vá até lá e diga a seu pai e ao seu tio para deixarem a escrivaninha. Não há espaço! — Continuou a senhora. — Pétia, me ajude a mover os armários.

Ambos concordaram e enquanto Piotr dobrava as mangas da camisa para auxiliar a mãe, a mocinha dos olhos de nuvem deixava o apartamento e fazia o trajeto recém percorrido pelo irmão.

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