Capitulo III: Não há Lugar Para a Culpa (Parte 1)

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Katherina Gregorievna já vestia o uniforme escolar e tinha os cabelos trançados quando deixou o quarto. A mocinha carregava no rosto uma expressão de satisfação, diante a presença de uma terceira pessoa no apartamento: alguém que ela poderia observar atentamente e para além disso, alguém que parecia interessante de ser observado, com um mistério tão latente que era quase impossível não criar teorias a cerca de Pavel Iurievitch e as estranhas reações que se desenhavam em seu rosto toda vez que o nome de Mikhail vinha a tona.

O próprio Mikhail, já conhecido por Katherina, mostrava um outro lado quando o tema era Pasha... ele retraía-se ao mesmo tempo que seu semblante denunciasse um tom vivo que raramente aparecia por trás da seriedade polida do amigo de seu pai.

E por falar em Nasekomoyev, lá estava o oficial, sentado diante a Pavel: os dois tinham entre eles um mapa da cidade de Moscou, este que Gregor riscava com um lápis, enquanto discursava ao jovem atento o nome das ruas, os pontos de referência e as rotas possíveis para chegar a um destino que, logo, Katherina identificou como a residência de Mikhail Iurievitch.

Então eles se encontrariam, afinal? Ela abriu um sorriso curioso! Como gostaria de se juntar a Olga para observar a cena e, assim, compreender o que realmente se passava entre os dois irmãos.

A moça aproximou-se de seu pai e de Pavel, no intuito de inspecionar as instruções dadas por Gregor e, quem sabe, oferecer uma explicação mais didática que a do pai, como por vezes se via obrigada a fazer.

— Para mim os prédios daqui são todos iguais — explicou Pavel, que tentava acompanhar as explicações de Nasekomoyev.

A boa memória ajudaria o rapaz, no entanto, ele não confiaria o rumo apenas em tal característica intrínseca e, por precaução, anotava uma a uma as informações dadas por Gregor.

— Não se preocupe... o senhor reconhecerá o local onde deve saltar do bonde, pois na esquina há um grande canteiro de obras. Basta que siga a rua, sempre reto, por tres esquinas...

— Há tantos canteiros de obra por esta cidade que não me admiraria que Pavel Iurievitch parasse diante ao Kremilin, papai. — comentou Katherina, lembrando ao senhor que andar pelas ruas de uma metrópole não era tão simples quando não se está acostumado com tanto movimento.

— Se o senhor esperasse até o dia de folga, eu mesmo o levaria até lá — disse Nasekomoyev — se faz mesmo necessário esta visita no dia de hoje?

— Sim! Como o senhor mesmo disse, Camarada Nasekomoyev, quando mais espero, mais a situação se agrava. — explicou Pasha, enquanto baixava o rosto para escrever novas anotações na folha de papel que lhe foi oferecida pelo anfitrião — além do mais, gosto de me aventurar e explorar a cidade é no mínimo estimulante. Isso sem falar na ideia de caminhar ao ar livre após tanto tempo preso na locomotiva! Estou acostumado a me manter em movimento, mesmo no inverno.

— Espero que a explicação lhe sirva, Camarada — Nasekomoyev abriu um sorriso estranho em sua face, embora seu olhar demonstrasse certa preocupação — o senhor sempre pode pedir informações, mas tome cuidado, é de suma importância que carregue seus documentos de identificação, hoje em dia não é incomum que abordem as pessoas na rua. Eu o aconselho que vá com o casaco do exército, impõe mais confiança nos policiais, além disso, não haja com impaciência ou preocupação caso seja parado... explique que recebeu dispensa, acabou de chegar na cidade e que morará com sua família. Também mostre, se preciso, os encaminhamentos para o emprego na construção, explique que espera esta questão para entregar os documentos na gerência do prédio.

Pavel encolheu-se um pouco e concordou com a cabeça. As advertências de Nasekomoyev lhe soavam amedrontadoras, bem como a ideia de demonstrar tranquilidade em uma situação de tensão: não conseguia lidar bem nem mesmo com os estranhos civis, quem dera os policiais, que possuíam o poder de detê-lo diante a mais leve das suspeitas.

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