Capítulo 2

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  A senhora Martina parece está fazendo uma mudança lá em cima, como moradora do andar de baixo eu escuto tudo o que ela faz lá em cima.

  Por vezes, preciso colocar um fone de ouvido se eu quiser ler, pintar ou escrever. Eu me mudei recentemente pra um sobrado no subúrbio de Berlim, é um bom lugar. Discreto.

Meu pai foi contra a minha mudança, mas nós dois sabemos que eu preciso de um lugar para amazenar os casos que trabalho e ele detesta o cheiro de tinta.

Meu pai odeia muitas coisas, mas se tem algo que ele ama sou eu. Mais que tudo na vida dele. Como um Major do exército alemão ele vive em uma vila militar e desde que voltei de Luxemburgo após concluir minha educação eu não quis morar naquele lugar frio e com um equilíbrio hostil. Meu pai entendeu, mas foi difícil persuadir ele, principalmente quando ele viu o lugar que sua filha de 27 anos, solteira planejou morar.

Nesse momento estou em frente a uma tela, pintando a paisagem dos penhascos íngremes de Luxemburgo. É a única cidade que já viajei, lá foi meu lar durante os meus 24 anos, então tudo o que consigo pintar vem de lá.

Estou concentrada na tela quando meu celular começa a tocar sobre uma das pilhas de livros na pequena sala. Resmungo. Desde que o Richard me achou eu não tenho mais paz, deixo o pincel e os outros materiais de lado para atender o celular.

— O que foi agora? — Atendo.

Ouço o barulho de carros e falatórios de pessoas que denuncia que ele está fora da empresa Holfman.

— Você se encontrou com o presidente Hartmann?

Observo os títulos dos livros que estão dentro de uma caixa recém chegada de Luxemburgo.

— Sim, eu o encontrei.

— Ótimo. Então podemos nos encontrar para falar sobre como foi a reunião de vocês?

Olho para a bagunça que está meu espaço e as minhas roupas sujas de tintas. Com certeza sair não é uma opção e receber homens na minha casa, segundo meu pai e a irmã Tereza, não é algo que uma mulher sem companhia deva fazer.

— Vamos nos encontrar no lugar da última vez, na casa de chás. — Digo.

Desligo o celular e vou até meu quarto tirar o avental e substituir o meu macacão por um vestido descente e quente para me aquecer desse clima, também pego um sobretudo longo e escuro que ganhei do meu pai há dois anos atrás.

Vou até o banheiro escovar os dentes e não me supreende quando vejo meu cabelo com respigo de tinta, a única coisa que posso fazer é usar um gorro.

A casa de chás pertence a minha vizinha do andar de cima, a senhora Martina e fica apenas há três minutos de onde eu moro. Esse foi um dos motivos por ter escolhido morar aqui, além da senhora Martina ser minha única companhia aqui, ela me fez ficar apaixonada pela arte do chá que há muito tempo eu havia esquecido depois que voltei a Alemanha.

Entro no estabelecimento que nitidamente só tem turistas japoneses e me sento no balcão enquanto espero o Richard chegar. A senhora Martina vem até mim e eu sorrio na sua direção.

— Está esperando alguém de novo? É o advogado dos Hartmann? — Pergunta, com um tom ansioso.

Balanço a cabeça em sinal afirmativo. Ela abre um sorriso de orelha a orelha.

— Você sabe que os Hartmann são como a família real britânica aqui na Alemanha, não sabe?

— Vou querer o mesmo chá de hortelã de sempre, por favor. — Peço, ignorando sua observação. Ela é obcecada por essa família como muitas outras pessoas da cidade são.

Senhor E Senhora HartmannOnde histórias criam vida. Descubra agora