31. Quatro Semanas

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Sábado. O quarto desde então.

Há ainda dezenas de mensagens em minha pasta de rascunhos que eu nunca vou enviar para ele. Eu ainda estou vivendo, mais do que nunca, na terra do "o que poderia ter sido", e confie em mim, este é um lugar muito triste para se viver.

No código postal dos perdidos, você inspira arrependimento em cada respiração, a tristeza permeando todos os espaços em que seu corpo está. De todas as coisas que levam as pessoas a mudar, o desespero e a tristeza são as que mais doem. A tristeza é tão incapacitante. A raiva, por outro lado, exige ação e capacitação. Mas eu não posso ficar com raiva, quando fui eu que me coloquei exatamente onde eu estou. Eu passei fins de semana na janela do meu apartamento, tentando me convencer a sair, mas não tive ânimo para isso. Nunca deixe ninguém lhe dizer que a sua vida vai voltar ao normal depois de um furacão.

Eu tenho pastas e pastas com fotos que não posso abrir.

Um número que não posso discar.

Uma camisa que eu não posso usar.

Um nome que não posso dizer em voz alta.

A memória de um par de olhos que vai me assombrar para sempre.

Eu vivo com medo de nunca mais ver aqueles olhos de novo. E ainda mais medo do que verei refletido neles, se eu o fizer... Helen tinha se queixado que não era o que ela queria. Ela disse que era "uma carta de amor a Grey".

Mas todos nós sabemos que as histórias são assim. Histórias mudam. Assim como as pessoas mudam. Nós mudamos quando sofremos, quando recebemos, quando damos, quando amamos. Quando você perde o objeto de seu amor, o seu normal será permanentemente mudado; não há como voltar para o antes mais. Você tem que reconstruir barreiras mais fortes, mudar suas expectativas e esperar a luz do sol. Não há nada como um nascer do sol em Chicago, a luz laranja-ouro cintilando sobre as janelas espelhadas dos edifícios... Eu vi o nascer e o pôr do sol e a chuva da minha janela. Eu vejo Kate sair, vejo os carros passando, não realmente focada nas cores que eles tem, mas apenas no fato que nenhum desses carros pertencem a ele. Meu laptop cantarola nas proximidades. Kate saiu para almoçar com Hanna, mas eu ainda não consigo cultivar o entusiasmo. Estou tentando trabalhar em uma nova história. Uma história com coisas boas. Coisas sobre pessoas. Perda. E esperança. E... Perdão. Eu estou me servindo um pouco de chá quando meu telefone vibra. O número é desconhecido. Eu paro e coloco a minha xícara de lado, em seguida, respondo.

— Senhorita Steele, aqui é Andrea Smith. — Eu pauso. Assistente do Grey. — Você está aí?

Meu coração. Meu coração vai saltar literalmente fora do meu peito.

— Sim, estou aqui.

— Ele gostaria de vê-la em seu escritório. — Eu fecho meus olhos. — Devo dizer-lhe que você recusou?

— NÃO! Eu... A que horas? Eu estarei lá. — Meus dedos tremem enquanto eu anoto o horário e começo a rabiscar nervosamente quando eu desligo. O mundo se inclina um pouco quando eu me forço a largar a caneta. Eu fico olhando para a hora. A data. O ponto de interrogação. O coração. E o nome de Christian, que eu escrevi com tudo isso.

Eu finalmente vou vê-lo. Eu não tenho ideia do que eu vou dizer, como eu vou começar, ou até mesmo o que pode ser dito para consertar isso. Eu me imagino beijando-o, tendo a coragem de dizer-lhe que eu o amo. Imagino-me com possíveis lágrimas também, porque este tem sido o pior mês de toda minha existência. Imagino-o em toda sua glória e meu peito torce como uma corda.

Seu escritório.

C4.

Grey.

***

Santo ou Pecador {Completa}Onde histórias criam vida. Descubra agora