Nem sempre a melhor escolha

Capítulo 58

Quando Harry acordou no domingo ele se sentia profundamente (e talvez até mortalmente) mal. A noite anterior, quando foi declarado a obrigação dele participar do Torneio Tribruxo, ainda estava ecoando em sua mente, fazendo sua cabeça latejar de irritação. Isso só agravou os efeitos colaterais do Jungle, que já o deixariam com uma sensação de mal estar horrível.

Se levantou se sua cama e foi, arrastando-se, em direção ao banheiro. Se trancou nele, tirando o pijama. Abaixou o rosto em direção a pia e abriu a torneira, enchendo a concha que formou com as mãos de água e mergulhando o rosto nela, e em seguida afastando-o.

Se Harry tivesse parado para olhar sua imagem no reflexo, poderia ter percebido que já era hora dele parar com Jungle; se tivesse visto seu reflexo, teria percebido que era hora de pedir ajuda a alguém; se tivesse visto seu reflexo, teria percebido que estava apodrecendo.

Quando saiu do banheiro ele não demorou em se vestir; pôs suas vestes da escola, e colocou seu glamour de volta. As sombras sob seus olhos sumiram, sua pele pálida ganhou mais cor e seus lábios meio rachados e nariz de aparência sensível e machucada pareceram curados. Saiu de seu quarto, com a vaga ideia de que eram seis da manhã, e foi embora da Masmorra para o Salão Principal. Quando chegou lá se deparou sozinho. Parece que todos estavam aproveitando o domingo para dormirem mais, e os lufanos e grifinórios provavelmente estavam descansando das comemorações por terem campeões. Harry crispou os lábios com a ideia de suas cobras fazendo o mesmo.

Foi até a mesa da Sonserina, e quando se sentou vários pratos diferentes surgiram nas travessas douradas no meio da mesa. Harry colocou em seu prato três torradas, duas tiras de bacon e um pouco de ovos mexidos. Derramou em uma taça um pouco de suco de melancia, e a recolheu junto do prato com a comida que pegou para si e se levantou, saindo da mesa e indo em direção as salas vazias que ficavam no corredor do térreo.

Estava zangado; como deixaram ele e Adrien participarem desse torneio? Ele aceitava uma suspensão por ter supostamente posto seu nome no Cálice de Fogo, aceitava até uma detenção com Filch na Floresta Proibida, mas como o fizeram competir? Era completamente louca só a ideia.

Comeu devagar o que pôs para si; não estava com muita vontade de comer, na verdade. Só estava o fazendo pois era para manter sua saúde (embora, novamente, caso ele tivesse visto seu reflexo, saberia que ela já estava se esvaindo). O bacon parecia borrachudo; as torradas, muito secas. O suco parecia estranhamente aguado, e os ovos, insossos. Continuou comendo, e assim que o fez ele pôs o prato e a taça de lado, se erguendo direito e se sentando melhor na mesa em que estava, pondo uma das pernas nela e deitando a cabeça no joelho dessa perna. De repente, algo lhe ocorreu.

-Tom – ele falou sozinho para si.

Tom deveria saber o que fazer; um homem era um gênio, versado em magia de forma extraordinária. Ele tinha que saber um jeito de anular o contrato mágico do Cálice. Enfiou uma mão dentro do blazer e tirou uma folha de papel grande dobrada de forma retangular. Ele sempre anda com uma duas dessas no bolso para caso precise escrever uma carta de última hora. Pegou uma caneta ainda dentro de um dos bolsos internos do blazer e destampou-a, escorregou para fora da mesa e se sentou na cadeira atrás dela, se inclinando sobre a mesa para poder escrever na folha de papel.

Tom,

Como já disse para você e para Bella (dê um "oi" a ela por mim, por favor), o Torneio Tribruxo está sendo realizado em Hogwarts esse ano; o sorteio dos campeões ocorreu ontem a noite, e de alguma forma – uma forma filha da puta – eu fui sorteado junto a Adrien e Cedrico Diggory para sermos os campeões de Hogwarts.
Estou furioso, Tom, então peço que, por favor, você me ajude a me livrar dessa péssima situação em que estou. Preciso de um jeito de me livrar do contrato mágico, e espero que saiba um jeito de fazer isso.