Capítulo 72

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NATALIE NARRANDO...

Eu me sentia pequena, inútil, incapaz, totalmente culpada. Eu tentava não sentir culpa, mas eu não conseguia. Eu tinha vergonha de olhar pra cara da Priscilla de olhar para ela e conseguir enxergar a dor que ela sentia e ver que aquilo era causado por eu não ter conseguido segurar nosso bebê. Eu dificultava a vida dela o máximo que podia e mesmo sem perceber que estava fazendo isso. Para piorar tudo eu desmaiei com a Laura no colo e foi assustador. Eu machuquei minha pequena e me senti ainda pior por isso. Falei com a psicóloga do hospital, falei com a minha psicóloga também quando recebi alta. Eu precisava ocupar minha mente com outras coisas então eu e a Priscilla começamos a falar do nosso casamento. Escolhemos naquela tarde o nosso convite e enviamos para a organizadora, definimos a data de novo para o dia 25 de maio e vamos viajar em cruzeiro por 7 dias no dia seguinte. Nosso casamento vai ser de manhã com um almoço de comemoração na casa de Angra, no fim da tarde voltaremos para o Rio de Janeiro passaremos a noite num hotel perto do porto e embarcaremos bem cedo na manhã seguinte. Decidimos também que eu vou tentar mais uma vez engravidar, depois da nossa viagem de lua de mel e se não der certo eu não vou tentar mais. No dia seguinte acordei bem cedo depois de ter um pesadelo. Eu sonhei com meus filhos sendo tirados de mim. Levantei fui ao banheiro depois fui beber água. Na volta passei no quarto da Laura, a cobri, fiquei olhando-a dormir um tempinho e voltei pra cama, mas não consegui dormir mais. Resolvi descer e ver meus e-mails que a muito tempo eu não via. Comecei a trabalhar a Pri logo desceu foi fazer esteira, a Rosa chegou fez o café da manhã, a Pri tomou banho a gente tomou café da manhã eu decidi ir a empresa pra uma reunião. Fiquei a manhã toda na empresa, fui na obra e depois fui pra casa. A tarde a Clara ligou em casa.

Eu: Alo?

Clara: Natalie?

Eu: Oi Clara tudo bem?

Clara: Sim e você?

Eu: Bem.

Clara: A Priscilla tá ai? Ela não tá na empresa o celular tá desligado e eu preciso que ela leve o Lucas pra escola, eu estou presa no transito, a Cecília viajou hoje cedo, minha mãe tem uma reunião do outro lado cidade não pode leva-lo e ele está com ela.

Eu: A Pri tinha uma reunião fora da cidade, acho que em Niterói Clara. Eu o levo, eu estou em casa.

Clara: Não vai te atrapalhar?

Eu: Claro que não, o carro da Priscilla com as cadeirinhas tá aqui eu o pego e o levo.

Clara: Muito obrigada Nat.

Eu: Imagina... – desliguei. – Rosa viu a chave do outro carro da Pri?

Rosa: Acho que tá na mesa do escritório dela. – fui lá peguei a chave e fui buscar o Lucas na casa da Soraia.

Lucas: Oi tia Nat – me abraçou.
Eu: Oi meu amorzinho – o beijei muito. – Vamos pra escola?

Lucas: Vamos – o prendi na cadeirinha dele e logo sai com o carro. – Tia Nat?

Eu: Oi amor?

Lucas: A mamãe falou que você estava muito triste por causa do meu irmãozinho. – Aquilo me deu um choque na alma.

Eu: Sim amor, estou triste ainda, mas vai passar.

Lucas: Vai sim tia. Papai do Céu me disse que o neném tinha que ir com Ele, mas que a senhora ia ser muito feliz com a mamãe e ia ter uma benção muito grande. – eu arrepiei inteira – E eu e a Laurinha amamos muito você, e a gente não quer ver você triste tia Nat.

Eu: Obrigada meu amor, eu recebo essa mensagem de todo meu coração. Eu também te amo muito e amo muito sua irmã. – falei emocionada. Logo chegamos no colégio eu o desci e entrei com ele, o deixei na porta da sala voltei para o carro e chorei. Eu estava tão impactada com as palavras dele. Tentei falar com a Priscilla e não consegui. Decidi ir até a obra dos canadenses falei com o Rodrigo que estava lá fazendo uma inspeção. Lembra do bode que me bateu? Vivia lá na obra. O rebanho que ele andava não estava mais lá, mas os rapazes da obra tratavam dele e deram o nome a ele de Marcos Rogério. Ele era bonitinho, mas foi mal comigo. Ele não tinha chifres, ainda bem, porque senão eu nem viva estaria hoje. Fui pra minha empresa trabalhei a tarde toda, mandei mensagem pra Clara perguntando se queria que pegasse o Lucas e ela disse que a Pri já tinha ligado e ia busca-lo. Tinha mensagem dela falando que tinha ficado sem bateria e já estava em casa. Quando cheguei a encontrei na portaria do condomínio indo buscar o Lucas. Tirei os pontos pouco mais de uma semana depois estava tudo bem... De lá fui na terapeuta.

XX: Oi Natalie entra... – eu entrei e me sentei – Como você tá? Como passou essa semana?

Eu: Em vista dos outros dias passei até que bem. Mas não parei de pensar no que aconteceu um minuto.

XX: Ainda se culpando?

Eu: Eu sei que não tenho culpa, mas ao mesmo tempo fico pensando no que eu poderia ter feito de diferente pra evitar que isso tudo acontecesse – deixei cair uma lágrima.

XX: Natalie, eu tenho aqui seu laudo e o laudo do bebê. Lembra que eu pedi para trazer?

Eu: Sim.

XX: E aqui diz que você estava perfeitamente saudável e o bebê sofreu uma mutação genética por isso aconteceu o aborto espontâneo. Você estava com pouco mais de quatro meses. Já pensou se estivesse em fase final, ou se ela nascesse extremamente doente e sofresse até o ultimo dia da vida dela aqui fora? Em respiradores, com cateteres, com sondas. Nunca saísse de hospitais, nunca pudesse brincar de bonecas, de bola, de bicicleta, ir ao parque, viajar com vocês, ou sequer sentar a mesa com vocês? – aquilo parecia facadas em mim. – Você acha que suportaria ver sua filhinha sofrendo a cada segundo da vida dela?

Eu: De jeito nenhum – solucei.

XX:Eu sou psicóloga, mas acredito muito em Deus, e no amor d'Ele por nós. Sei quedói, mas você já parou pra pensar que essa pode ter sido uma prova do amor deDeus a você? Levar sua garotinha agora, antes de você saber que era uma garotinha, antes dela ter um nome, devocê ver o rostinho dela, tocar nela e vê-la sofrer como ninguém merece sofrernessa vida que dirá um bebezinho inocente? Talvez Ele tenha tido esse cuidadocom você, por mais que esteja doendo muito agora, a sua dor seria insuportávelse fosse daqui alguns meses. Você está no seu direito, viva seu luto, chore oque for preciso, mas observe ao seu lado as pessoas que te amam e querem cuidarde você. A sua esposa que também perdeu com você. Partilha com ela sua dor. É ador dela também. Troque experiência com ela, porque ela sabe o que é issotambém. Ela já perdeu uma esposa, ela já perdeu dois filhos, ela perdeu o domde gerar um bebê. Ela perdeu muita coisa também Natalie. Divida com ela. Ela ésua esposa, em breve vocês serão oficialmente esposas. Não fuja dela, não seenvergonhe, não mascare o que sente pra ela. Ela te ama e ela quer passar o quefor preciso com você. –aquela conversa sem duvida foi a mais intensa que eu tive. 

NATIESE: ME ENCONTREI EM VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora