Capítulo 73

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Eu vi o quanto eu estava negligenciando a Priscilla e os sentimentos dela. Ela também já perdeu e ela foi tão forte, e aquela perda também era dela. Fui pra casa e não demorou muito ela chegou também. Eu estava sentada na minha cama chorando. Ela sentou atrás de mim e me beijou. Eu por alguns momentos a rejeitei como tenho feito a dias.

Pri: Tá tudo bem? – perguntou receosa. O choro ganhou intensidade. – Quer falar sobre isso amor? Eu estou aqui, para o que quiser falar. – beijou meu pescoço. 

Eu: Me desculpa, não enxergar que a dor também é sua

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Eu: Me desculpa, não enxergar que a dor também é sua.

Pri: Não precisa se desculpar amor. Eu te entendo eu sei que é pesado eu sei muito bem que é pesado – suspirou.

Eu: Eu sei que você sabe, porque você já perdeu inúmeras vezes e eu fui muito egoísta com você, esquecendo que a dor também era sua e me fechando no meu mundinho, sendo grossa. Esse bebê tinha um significado gigantesco pra mim. Eu quero muito gerar uma criança, eu sonho muito com isso, e eu já perdi muito então dói demais passar por isso. As palavras da doutora Luana dizendo que não tinha mais batimentos ficam ecoando na minha cabeça o tempo todo – solucei. – Eu não estou sabendo lidar com isso, mas eu preciso. Eu estou com tanta raiva disso tudo – falava com mágoa.

Pri: Quando eu fiz a retirada de óvulos, parece que foi um aviso de Deus sabe, porque pouco depois eu fui alvejada e fiquei estéril. Quando a Lanna engravidou com um dos meus óvulos foi a maior alegria da minha vida e da vida dela. Ela não produzia óvulos suficientes para serem fertilizados. E quando eu a perdi e perdi nosso filho foi como se metade do meu coração tivesse desmanchado, morrido junto. Eu me enfiei numa missão duas semanas depois, e sem medo de morrer, porque se eu morresse eu não sentiria mais a dor que eu sentia de ter perdido as duas pessoas mais importantes da minha vida. Logo veio a Clara e eu me apaixonei por ela. Ela foi sequestrada e aconteceu tudo aquilo com ela. Quando soubemos da gravidez eu pensei que ela faria o aborto, afinal ela havia sido estuprada, mas ela tinha dentro dela que ela não podia fazer isso. Quando ela disse que teria o bebê, o meu coração parecia se encher de esperança de novo e eu acolhi aquele bebê como se fosse meu desde o momento que ela disse que o teria e o Lucas é um dos amores da minha vida. O Rhavi e a Laura não foram diferentes e quando o Rhavi se foi, doeu muito. Embora eu não tenha convivido com ele, de ver as brincadeiras, o sorriso, a voz dele, eu já o amava muito, mas eu não podia ser egoísta de deixa-lo aqui sofrendo e ele se foi. Dói, até hoje. A perda dos meus filhos, a perda da Lanna que foi muito importante na minha vida, mas sou grata, pelo que eu me tornei, por tudo que eu tenho, e principalmente por ter a Laura e o Lucas que são meu ar, por ter você uma mulher maravilhosa do meu lado que será minha esposa oficialmente em poucos meses, pela Clara que se tornou uma grande amiga pra mim. Eu perdi muito, mas eu também ganhei na mesma medida. Dói amor, eu sei que dói, mas a gente se tem, a gente tem pessoas incríveis ao nosso lado então temos que aproveitar isso e nos reconstruir, nos fortalecer. – eu chorava. – Eu te amo muito, não se esqueça disso. Se você quiser tentar novamente, a gente vai tentar, mas se você no quiser tentar tudo bem eu vou te respeitar. Se você quiser adotar, a gente adota, mas se não quiser também, por mim tudo bem. Eu quero que esteja bem e feliz.

Eu: Desculpa te fazer essa pergunta, mas se não quiser responder tudo bem eu entendo.

Pri: Pode perguntar, eu já imagino o que seja. Você quer saber o que eu senti quando soube que tinha ficado estéril não é?

Eu: É... É isso. Se não quiser responder eu te entendo.

Pri: Tudo bem, a Clara já me perguntou isso também e com o mesmo receio que você. - suspirou - Eu senti um vazio gigantesco. Eu chorei muito, eu não queria aceitar que eu estava vivendo aquilo, não era justo comigo que um cara que só fez mal pra todo mundo também me tirasse o dom de gerar uma vida. Por alguns meses eu vivi uma sensação de aborto eterno e ao mesmo tempo que eu aceitava que aquela era minha condição e que graças a Deus eu fiz retirada de óvulos antes disso acontecer, eu ficava revoltada por não poder ter filhos gerados por mim. Eu levei alguns anos para aceitar isso. Acredite que eu entendo a sua dor, entendo como dói perder um bebê, porque eu sinto a dor de ter perdido meu filho e não poder gerar um filho por uma culpa que eu não tive. Eu precisei trabalhar muito minha mente, para tirar essa sensação de raiva por tudo que me aconteceu. Mas sou grata por ter o Lucas, ter a Laura eu sou muito feliz hoje e não importa se vamos ter um filho gerado por você ou adotado, o que importa é que nos amamos e temos amor suficiente para dar a uma criança, e seremos uma família feliz e linda sempre. 

Eu: Eu te amo. Obrigada por ser tão maravilhosa comigo. – dei um selinho nela.

Pri: Estarei sempre com você.

Eu: Obrigada... Pode... Pode me deixar um pouco sozinha agora?

Pri: Claro. – me deu um beijo no ombro e saiu de trás de mim e logo saiu do quarto. Eu chorei. Eu não merecia aquela mulher, como ela podia ser tão incrível assim. Eu precisava superar, eu precisava ficar bem. 

NATIESE: ME ENCONTREI EM VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora