Quarenta e um

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Julia narrando

Ver o Alexandre daquele jeito tava partindo meu coração. Nossas aulas estavam prestes a começar e ele não iria conseguir focar em nada daquele jeito. Por isso, quando o Gustavo me mandou mensagem avisando que já tinham "resolvido" o problema, não hesitei em pegar um Uber e levar ele pra pedreira.

Alê entrou no carro sem saber pra onde estávamos indo e quando nos aproximávamos do morro eu cobri seus olhos com a mão. Paguei a corrida e subimos de pé, já que o motorista não passa da entrada. Não foi fácil, a gente tropeçou, mas conseguimos chegar lá. Bati no portão da casa do Túlio, Gustavo atendeu e revirou os olhos, nós entramos e eu o dirigi até a sala. Descobri seus olhos e o Alê foi correndo abraçar seu namorado, que estava no sofá com uma perna engessada.

— Acho que os olhos vendados foi um pouco demais... – Gustavo opinou.

— Para de ser chato, o Alê achava que ele estava morto. – Bati no seu peito. – Aliás, o que aconteceu com você? Tava na guerra?

— Sim. – Murmurou e deu risada.

— Sério, o que fizeram contigo? – Perguntei, dando uma boa olhada do seu corpo. Tinha hematoma roxo em tudo quanto é lado, principalmente no rosto. Seu supercílio estava cortado, o lábio também.

— Caí na porrada com o pai do Túlio.

— E quem saiu pior? – Cruzei os braços.

— Ele morreu. – Sussurrou.

— Como assim? Você matou o cara? Mas você disse que...

— Não matei. Ele matou. – Falou mais baixo ainda, apontando com a cabeça pro Túlio, que ainda estava grudado no Alexandre.

Levantei as sobrancelhas, um pouco chocada com a notícia. Gustavo me olhou como se dissesse "pois é", depois puxou minha mão delicadamente para acompanhá-lo.

— Vamo deixar esses dois sozinhos, eles devem estar querendo transar. – Falou em voz alta e eu ri, vendo a cara envergonhada do Alê.

— Vai se fuder, não precisa inventar desculpa não, a gente saber que você quer praticar o coito. – Túlio retrucou e recebeu o dedo do meio do Gustavo como resposta.

— Que isso, não precisa se estressar. Olha, vocês podem acasalar, mas sem movimentos bruscos que o moço ainda tá se recuperando, tá?! – Ele debochou de novo e eu dei risada, empurrando-o para fora da casa.

— Não sei como o Túlio te aguenta. – Falei abrindo o portão. – Vocês se conhecem há quanto tempo?

— Não sei, acho que uns três anos. – Sorriu de lado. – Cê tá indo pra onde?

— Comprar açaí. – Comecei a descer o morro e ele veio me acompanhar.

— Caralho, não enjoa?

— Jamais. – Sorri, olhando ao redor. – Por que tá todo mundo tão animado? – Perguntei ao notar a maioria dos moradores fora de suas casas, desejando boa tarde pra quem quisesse, com sorrisos enormes.

— Ah, hoje tem baile, tem nem como ficar triste.

— Hm. – Murmurei. Ele me olhou, levantou uma sobrancelha e começou a rir.

— Conserta essa cara de cu aí, eu só vou pra beber e baforar loló.

— Divirta-se. – Fiz careta.

— Se você brotar eu divido minha droga contigo. – Neguei com a cabeça.

— Tenho que revisar umas apostilas do francês.

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