Gustavo narrando
Acordei às 5h da manhã. Viajaria 5:30, então tomei um banho rápido e fui pegar algo pra comer. Enchi a barriga de café, pra me manter acordado durante a viagem. Escovei os dentes, peguei minha mochila com minhas roupas e coloquei no porta malas do carro.
— Se comportem, tá?! Nada de ficar dando trabalho pra avó de vocês. – Alexa falou, ela já tava há um tempão atrasando a gente.
— Tá bom, mãe, a gente precisa ir. – Abracei ela pra calar a boca logo.
— Não vai arrumar problema, hein, Gustavo. Dá um tempo, por favor.
— Tá bom, tchau. – Beijei seu rosto e fui em direção a saída, apressando o Thiago.
— Te amo!
— Também te amo.
Entrei no banco do motorista e fiquei esperando o bosta do meu irmão, que demorou uma vida. Quando ele veio, fui pra casa da minha avó, ela e a Júlia colocaram suas coisas no porta malas e se sentaram no banco de trás. Reclamaram um tanto pelo atraso, então partimos de verdade. Na saída do Rio, parei o carro em um posto de gasolina, eles desceram pra comprar algumas coisas na loja de conveniência e eu me apoiei no capô enquanto acendia um cigarro. Olhei ao redor, do outro lado da rua estava a viatura da qual meu pai tinha falado sobre. Dois policiais dentro. Os dois que mandaram invadir o morro no dia que meu avô morreu. Eles estavam distraídos, então fiquei atento. Terminei rapidamente meu cigarro, minha avó já estava no caixa pagando as compras. Fui no outro lado da rua, com a desculpa de que iria jogar a bituca na lixeira, e vi as janelas da viatura abertas. Calculei o espaço sem chamar muita atenção e voltei pro carro. Após uns 2min, os outros entraram também, conversando sobre as coisas que eles compraram. Não tinha nenhuma câmera a vista. Dei partida, pegando rapidamente uma granada do bolso. Quando passei do lado da viatura, tirei o pino e joguei no banco traseiro, depois só acelerei. Subi uma ladeira e, antes de explodir, já estava descendo, então não deu pra ver nada, só ouvir.
— O que foi isso? – O Thiago perguntou.
— Foi um barulho de explosão, né? – Julia complementou.
— Sempre rola acidente nessas pistas. Deve ter sido isso. – Falei.
— Nossa, deve ter sido feio pelo barulho. Volta lá pra gente ver? – Minha avó pediu.
— Não dá, é contramão. Não quero que o próximo acidente seja o nosso. – Ironizei.
Eles pareceram acredutar. Suspirei. Deu tudo certo. Não tinha câmeras no lugar, ninguém estava na rua, minha família não notou, ótimo. Estavam tão entretidos na conversa que nem se preocuparam muito com o assunto, só minha avó, que fez uma oração pra Deus proteger a gente na pista.
— Vocês compraram o quê? Tô cheio de fome. – Perguntei.
— Pra você eu peguei uma deliciosa banana! – Falou a minha vó e jogou a fruta no meu colo. Fiz uma careta e joguei de volta.
— Tem algo melhor aí não? Sei lá, um cheetos, uma brahma.
— Você tá doido pra morrer logo. – Dessa vez, ela jogou no meu colo o salgadinho e a latinha de cerveja. Delícia.
— A senhora me conhece direitinho.
— É, seu vagabundo, te deixei mal acostumado. – Olhei para ela pelo retrovisor e mandei um beijo. Olhei para a minha prima também, mas ela desviou o olhar. Dramática do caralho, mano. Desde ontem que não troca uma palavra comigo.
Soltei o volante rapidamente para abrir o salgadinho, mas foi tempo o suficiente pro povo encher meu saco, eu hein. O caminho foi longo, mas ninguém dormiu. Quando ficavam sem assunto, começavam a zoar a Julia, que trouxe um wrap de frango com ricota pra comer na viagem. Eu nem sei que porra é essa. Parece uma panqueca. Perturbaram ainda mais por ela não comprar um refrigerante, mas sim iogurte. Tem que ter coragem pra ficar comendo essas coisas, viu. Já deve fazer uns 2 meses que eu não como uma salada, enquanto ela é cheia de frescura. Sabia que tinha um segredo pra se manter gostosa daquele jeito.
Chegamos umas 8:30 na casa de praia da minha avó. Todos comemoraram por poder sair do carro. Minha bunda tava doendo. Abri o porta malas e todo mundo pegou suas coisas. Entramos no local e, olha, minha veia tá passando bem, hein. Ela mandou uma diarista limpar a casa toda e fazer feira, então a gente tava bem desocupado. Mas, como os bons mortos de fome que somos, comemos de novo. Dessa vez, foi o café da manhã de verdade. O terceiro. Todos subiram pra trocar de roupa. O quarto que a minha avó separou para mim era simples, não muito decorado. Mas a cama era de casal, maravilha. Eu tinha um banheiro também. Por fim, vesti uma bermuda, peguei o óculos escuro, meu celular e desci. Thiago também já estava lá esperando. Ativei meus dados e já tinha mensagem do meu pai.
Pai | 8:44
E aí?Eu | 8:56
💥🚔Pai | 8:56
Que bom.Bloqueei a tela do celular e olhei para a minha avó, descendo do lado da Julia as escadas. Finalmente fomos curtir a praia. A primeira coisa que eu fiz, como o bom cidadão que sou, foi comprar outra Brahma, só que litrão. Minha avó comprou um frango assado com farofa. Não pode faltar, né?
Sentamos em uma mesa com guarda sol e ficamos trocando ideia por um tempo. Não tava muito calor, mas também não tava frio.
— Então, vamo curtir a água ou não? – Thiago falou, se levantando.
— Tá mais que na hora. – Julia concordou e se levantou, puxando a saída de praia para cima, revelando aquele corpo perfeito. Mordi o lábio inferior e desviei o olhar.
— Vão vocês. Eu tô velha, gente da minha idade só toma banho sábado. – Minha avó brincou.
— Af, vamo, Gustavo? – Thiago me chamou.
— Vou só terminar essa. – Apontei pra garrafa.
— Passem protetor solar! – A única adulta presente lembrou e tirou o protetor da bolsa, entregou pro Thiago, que pôs um pouco na mão e passou o pote pra Julia.
Prendi a respiração ao ver suas mãos deslizarem pelo próprio corpo.
— Menino, cê acredita que eu deixei meu carregador lá? – Minha avó puxou assunto comigo.
— Pode usar o meu se quiser. – Passei a língua sobre os lábios, ainda observando minha prima.
— Eu preciso é comprar um novo. Vem cá, você sabe desentupir pia?
— Hmhum.
— Que bom, acho que a pia da lavanderia tá entupida, dá uma olhada nela mais tarde pra mim?
— Claro, vó.
Que inferno de mulher. Ela já deve ter passado a mão nessa bunda umas cinquenta vezes e eu não me canso de olhar.
— Seu avô que fazia essas coisas pra mim, eu nunca aprendi. Te contei da história de quando eu estourei um cano?
— Ainda não.
— Foi assim, eu tava tentando consertar a encanação, né...
Não ouvi uma palavra sequer depois disso. Julia voltou seu rosto para mim e eu engoli em seco. Não existe algo nela que me deixe pior do que aquela cara de safada misturada com santinha. Seus lábios se curvaram num pequeno sorriso. O Thiago, já na água, chamava ela há séculos. Julia jogou os cabelos pra trás e caminhou até ele, como se estivesse num desfile. Soltei um suspiro. Porra, eu preciso dela. Joguei uma toalha em cima do meu colo e olhei para a minha avó, que terminava de contar sua história. Só me lembro de ter dado a risada mais falsa da minha vida.
∆
já ia esquecendo de postar o de hoje, por isso saiu tarde, foi mal ☹️obrigada pelas leituras ♡
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Marginal
Teen Fiction[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...