Trinta e um

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Julia narrando

Joguei água no Thiago, mas não foi nada comparado as sapecadas que tomei na cara. Ele esfregou os olhos, riu, e olhou para mim.

— Você não tem nada pra me contar? – Perguntou.

— Tá falando sobre o que?

— Você sabe.

— Eu não sei como começar. – Murmurei.

— Pelo começo seria bom. – Suspirei.

— Foi um acidente.

— Você tropeçou e caiu no seu primo?! – Ironizou.

— Para de falar assim comigo. – Cruzei os braços e ele revirou os olhos.

— Vocês sabem que é errado, né?

— Claro que sim. Não rola mais nada entre a gente.

— E o que tu foi fazer no quarto dele? – Me olhou desconfiado.

— Dar um presente.

— Ah... – Olhou pro horizonte. – Desculpa por ter sido grosso contigo, eu só fiquei bravo porque você não me contou nada. Isso é algo pra esconder dos nossos pais, não de mim. Eu não iria julgar vocês dois.

— Eu sei, Thi. Desculpa por não ter contado. Aconteceu tudo muito rápido, a gente não pensou direito em nada, então só tentei esquecer. – Dei de ombros.

— O Gustavo não tá com cara de quem esqueceu alguma coisa. – Brincou.

— Ele tá acostumado a pegar várias garotas além da namorada, esquecer não vai ser um problema. – Bufei.

— E você?

— E eu o quê?

— Vai conseguir esquecer?

— Claro que vou. – Desviei o olhar.

— Emocionada do jeito que tu é? – Deu uma risada sarcástica.

— Não me irrita senão eu te afogo!

Brincamos mais um pouco na água, só voltamos pra casa depois de ver o pôr do sol. Mesmo tendo usado protetor solar, fiquei vermelha que nem um pimentão. Tomei um banho, lavei os cabelos e dei uma hidratada, ficou ressecado demais pelo sal da praia. Saí do banho, vesti uma roupa qualquer e enrolei os cabelos numa toalha. Thiago disse que mais tarde teria uma social pra gente ir, então não me preocupei em passar maquiagem ainda. Pensei um pouco e percebi que eles são a minha família, não tem problema se me verem sem maquiagem, né? Desci e fui até a cozinha, onde vi minha avó de frente ao fogão fazendo brigadeiro e os meninos sentados.

— Eu amo brigadeiro. – Comentei, me sentando também.

— Olha Julia, eu e o Gustavo sabemos que você preza muito pela sua saúde, portanto, dessa vez, vamos comer o brigadeiro sozinhos e te poupar te todo esse açúcar. – Thiago passou a mão no meu ombro, como se quisesse me reconfortar.

— Nada disso, meu filho. Eu, que sou uma pessoa saudável, vou livrar vocês de ingerir mais porcaria e comer tudo sozinha com a vovó.

— Que argumento péssimo. – Thiago revirou os olhos.

— Olha, eu acho que a Julia tem razão. – Minha avó se intrometeu.

— É, sua puxa saco?! – Gustavo reclamou com ciúmes.

— É! Ela foi a única que pensou em dividir o brigadeiro comigo. – Apontou para os dois com a colher e eu dei uma risada convencida, depois mandei a língua pra eles.

Na sala, começamos a assistir Peaky Blinders juntos. Eu já tinha assistido, mas vale a pena recomeçar só por eles. No fim, dividimos o brigadeiro, obviamente. Assistimos alguns episódios e quando deu umas 20h eu subi, escovei os dentes e comecei a me arrumar. Vesti um macaquinho cinza, passei a prancha nos cabelos e, no rosto, não fiz muita coisa. Só passei delineador, rímel e um gloss. Meu rosto estava ardendo de tanto sol que eu tomei. Calcei all stars e passei perfume, coloquei dinheiro na capa do celular e desci, o Thiago já estava na sala. Gustavo demorou pra se arrumar igual a uma princesa. Quando ele finalmente chegou, entramos no carro e partimos.

— Essa festa é de quem? – Perguntei pro Thi.

— Um amigo meu.

— Desde quando você tem amigos em Cabo Frio?

— Lógico que eu tenho, ué. O Ewerton, que estudava com a gente e se mudou, lembra?

— Ele era chato. – Revirei os olhos.

— Tomara que lá tenha bebida de verdade, senão eu vou ficar muito puto. – Gustavo reclamou.

— Cê não pode beber muito não, tá dirigindo. – Thiago lembrou.

— Tá pensando que eu sou o quê? Seu chofer? Você que vai dirigir na volta, fi.

— Ah não, mano, larga de ser chato, você é o único maior de idade.

— E o que tem a ver? Eu hein.

Parei de prestar atenção na discussão deles e depois de muito tempo chegamos ao destino. Era uma mansão, sério. Tava lotada de gente. Entramos meio apertadinhos, fomos até um lugar que tinha música e bebida até demais.

— Thiago! – O anfitrião surgiu, com um copo na mão e parecendo já estar bêbado. – Julia, quanto tempo! – Sorri falso e ele puxou meus ombros, me abraçando com um cheiro horrível de álcool e suor.

— É, muito tempo.

— Então, Ewerton, esse aqui é o Gustavo. – Thiago apontou.

— Prazer, irmão, seja bem vindo.

— Valeu. – Gustavo assentiu sério.

— As bebidas estão ali, banheiros, só no andar de cima. Não entrem nos quartos, vocês já imaginam o porquê, né. – Riu. – Se precisar de algo, é só me procurar. – Agradecemos e ele saiu cambaleando.

Fomos até o bar improvisado e eu pedi ao bartender um martini, Thiago foi no mesmo e Gustavo pediu tequila. Depois de uns minutos acabamos nos dispersando. Fui no andar de cima, até o banheiro. Me olhei no espelho, ajeitei a roupa, lavei as mãos e saí. Andei um pouco pela casa, não conhecia ninguém, então voltei para o meu ponto inicial. Na minha mente surgiu um outdoor enorme escrito "QUE PORRA É ESSA?" quando, de longe, avistei Gustavo conversando muito próximo de uma loira bonita demais. Fiquei um tempo parada, observando, depois percebi que era muito inútil me sentir incomodada com aquilo, então fui sentar num lugar afastado deles.

Olhei as horas e bloqueei a tela do celular, logo depois, inevitavelmente, olhei para o casalzinho. A loira já tava mais próxima, passando a mão no braço do Gustavo, mordi o lábio inferior e me virei para o bartender, pedindo uma dose de vodca pura. Olhei para os dois de novo e as mãos dela estavam arranhando o pescoço dele com tanta possessividade que fez o meu sangue ferver. Tudo bem. Não é da minha conta, né?!

Depois de mais uns três copos fui lá acabar com aquela palhaçada.


veio aí!
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