Julia narrando
Meu pai chegou em casa surtando depois de falar com o Gustavo. Gritou um monte, fez escândalo, montou um circo, e eu só ouvi quieta, porque se fosse discutir seria pior. Quando terminou, subi correndo pro meu quarto, doida querendo conversar com o Gustavo, só que quando peguei o celular já tinha mensagem dele.
Meu coração se quebrou em mil pedacinhos ao ler aquilo. O que aconteceu com todo aquele papo de "se conseguimos esconder por quatro meses, poderíamos continuar por muito mais tempo"? Além do mais, pra que dizer que me ama se não vai ficar comigo?
Passei o resto do dia deitada na cama, chorei feito uma idiota, de noite levantei e fui pra casa do Alexandre. Minha mãe perguntou pra onde eu iria mas nem respondi. Ao chegar lá, empurrei o portão (graças a Deus estava aberto) e entrei. Ele logo veio até a porta e sorriu quando me viu.
— O que foi? – Perguntou.
— O Gustavo disse que me ama.
— Isso é ótimo, por que você tá com essa carinha?
— Porque ele me deu um pé na bunda!
O Alexandre arregalou os olhos e me puxou pra dentro de casa, logo sentamos no sofá.
— Me conta tudo que aconteceu.
— Primeiro, fui assaltada voltando da escola, aí liguei pro Gustavo, ele foi lá atrás de mim, me acalmou um pouco e depois me levou em casa. Depois disso o porteiro falou pro meu pai, e ele ficou doido de raiva. Foi lá pro morro, quando voltou tava com a minha mochila e começou a brigar comigo, enfim, foi o maior surto. Daí eu peguei meu celular pra perguntar ao Gustavo o que aconteceu, e vi a mensagem dele.
— Calma aí, ele te deu um fora por mensagem? – Assenti. – Não acredito, que filho da puta!
— Eu nem tô ligando pra isso, sabe? Tô chateada porque a gente precisou passar por um milhão de problemas pra ele decidir que isso nunca vai dar certo, sem nem conversar direito comigo.
— Talvez a gente não não saiba, mas ele deve estar pensando no melhor pra vocês dois, né?
— Alexandre, como levar um pé na bunda é melhor?!
— Não sei, Julia, mas o Gustavo te ama. Ele mesmo disse isso. Além do mais, se formos parar pra refletir, ele só tá se dando mal nessa história pra ficar contigo.
— Claro, porque eu tô ótima com isso tudo. – Ironizei.
— Sai da defensiva. – Suspirou. – Ele teve que aturar ser chamado de todos os nomes possíveis e levou a culpa por tudo, como você se sentiria tendo que ouvir tantas vezes alguém te acusando de ser uma pessoa horrível?
Cruzei os braços, pensativa. O Alexandre tem razão, eu sei disso, mas a insegurança não me deixa aceitar. Não consigo compreender de que forma o Gustavo me ama, se ele realmente me ama, ou se só disse aquilo pra me dar um prêmio de consolação, porque encontrou alguém melhor e ficou com pena de mim.
— Melhor esquecer esse assunto. – Ele desviou a minha atenção. – Vamos sair pra uma balada.
— Não tô no clima, quero ficar em casa.
— Nem pensar, Julia!
— Mas você nem gosta de balada!
— Mas não quero te ver assim, toda triste! – Levantou e puxou meus braços, me colocando de pé. – Pela primeira vez na vida, eu vou te expulsar da minha casa.
— Alexandre, eu estou sofrendo!
— E eu estou tentando resolver isso! Vai embora, se arruma, que 21h eu passo na sua casa pra gente sair.
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Marginal
Novela Juvenil[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...