Cinquenta e dois

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Gustavo narrando

Ver a Julia me fez bem pra caralho. Eu senti falta de tudo nela, mesmo sendo pouco tempo de distância, pareceu uma eternidade. Queria abraçar ela por horas, encher de beijo – e de tapa na bunda –, mas precisava me contentar. Ou era amizade, ou nada.

Nunca pensei que odiaria a palavra "amigos" tanto quanto odeio agora.

Fiquei sabendo que ela dormiria na casa da minha avó e fiquei tentado a dormir lá também, mas voltei pra minha casa. Quando cheguei com o Thiago já passava das 23h, não vi movimento do meu pai nem da Alexa, então só tomei um banho, escovei os dentes e me joguei na cama. Desbloqueei o celular e vi que tinha deixado a galeria aberta, não resisti, coloquei a foto dela no papel de parede.

Acho que não tem nada demais, né? Amigos fazem isso.

Botei o celular pra carregar e fui dormir. Acordei lá pras 10h da manhã, escovei os dentes e bolei um finin antes de descer pro café. Nem tava mais bolado com o meu pai, mas a cara de cu dele na cozinha dizia que viria mais bomba por aí.

— Senta aí, quero trocar uma ideia contigo. – Ordenou.

— Bom dia, né. – Ironizei e me sentei. – Passa a visão.

— Vai rolar um churras lá na tua avó, ela tá com aquelas ideia de unir a família e tal... tu sabe.

— Uhum. – Desviei o olhar, sabendo o que viria por aí. Enchi uma xícara com café e beberiquei enquanto ouvia ele falar.

— E lógico que ela convidou a família do Marcelo.

— Não diga... – Murmurei.

— Gustavo, não tô pra gracinha. – Bufou.

— Só fala logo. – Revirei os olhos.

— Não vou ficar aqui repetindo a mesma coisa que tu já deve ter ouvido um milhão de vezes.

— Obrigada!

— Fica na sua, só vou pedir isso. Sem treta. Sem provocação. Sem mexer com a Julia. – Enfatizou a última frase e eu soltei uma risada sarcástica.

— Somos amigos.

— Mesmo assim, não perde a linha.

— Tanto faz. – Dei de ombros e me levantei, finalizando o café. – Só não vou ouvir desaforo calado.

Vesti uma camisa e saí de casa, colei com os cria que ficavam na boca. Eu posso não fazer parte do movimento, mas não tem problema ficar trocando ideia com eles às vezes. O Mineiro contava, pela oitava vez, a história de quando deu um perdido nos verme a pé e com uma perna quebrada. Geral tava cansado daquilo já, mas quando a Jéssica brotou do nada eu tive a certeza que preferiria ouvir ele contar pela nona vez.

— Precisamos conversar. – Ela disse ao parar na minha frente.

Qual o problema das pessoas? O que custa dar um "bom dia"?

— Precisamos? – Levantei uma sobrancelha.

— Sim. Agora.

Ouvi um "ih" coletivo e me afastei deles pra saber o que ela tinha a dizer.

— Você é muito cínico, Gustavo. – Colocou uma mão na cintura. – Pegar a sua prima? Sério? – Dei um suspiro.

— Eu te devo alguma coisa?!

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