Gustavo narrando
Fui até a lavanderia e comecei a pôr dentro da máquina de lavar as roupas sujas, porque a Alexa me pediu. Tava morrendo de sono, poderia dormir por uns três dias seguidos. Ouvi alguém entrar e me virei, vendo minha priminha de braços cruzados apoiada no batente da porta.
— O que você quer? – Perguntei com sarcasmo e ela revirou os olhos.
— Você vai no mercado comigo.
— Vou? – Arqueei as sobrancelhas.
— Vai.
— Tô ocupado, madame, não tá vendo?
— Ah, pelo amor de Deus, né. Sua única ocupação é colocar a roupa dentro da máquina e esperar ela fazer o trabalho inteiro.
— Isso é cansativo!
— Tá, tá, só termina logo. Vou trocar de roupa. – Deu as costas, saindo do cômodo.
— Posso ir junto? – Falei um pouco alto para que ela ouvisse, tenho certeza que ouviu, mas ignorou.
Terminei de colocar a roupa na máquina de lavar, liguei e fui até o meu quarto. Peguei o celular, chave do carro e logo desci novamente, encontrando a Julia cheia de frescura arrumando o cabelo.
— Chega, né? A gente só vai no mercado. – Falei.
— Tá com pressa por quê? Eu hein. – Fomos até a garagem, destravei o carro e entramos. – Não sabia que você tinha carro.
— Não é meu. É do meu pai. – O portão automático abriu e eu saí de ré, fiz a volta e parti em direção ao mercado.
— Realmente, não combina contigo.
— E o que combina comigo?
— Moto.
— Por quê?
— Pra cometer crimes e fugir da polícia. – Gargalhei e assenti com a cabeça.
— Boa observação. – Murmurei.
— Seu sorriso é bonito.
— O quê?! – Fiz careta.
— Você deveria sorrir mais.
— Nada a ver.
— Tudo a ver. É fofinho. Você fica fazendo cara de mau, mas quando sorri vira um anjinho. – Apertou minha bochecha.
— Tá de caô?! Eu sou bandido, minha querida. Já viu bandido fofinho aonde?
— Tô vendo pela primeira vez. – Revirei os olhos.
Fizemos o resto do caminho conversando sobre coisas aleatórias. Ao chegar no mercado, estacionei, peguei o carrinho e entramos.
— A Alexa organiza a lista de compras por refeição, que legal. – Murmurou enquanto lia.
— É, o que vamos comprar primeiro?
— Certo... café da manhã... leite e ovos...
Deixei minha boca bem fechada, mantendo a piada de duplo sentido só pra mim. Fomos até os laticínios e aproveitamos pra riscar outras coisas da lista. Depois, caminhamos até as carnes. Temperos em seguida.
— Julia? – Nos viramos juntos pra olhar quem havia lhe chamado. Um moleque com cabelo cheio de gel, penteado pra trás, bermudinha dobrada na ponta e camisa feia de gola polo. Levantei uma sobrancelha.
— Eduardo! Nossa, que coincidência. – Foi até ele e o abraçou. Levantei a sobrancelha mais uma vez.
— Achava que não iria te ver nunca mais. – Prendi a risada com o seu sotaque português.
— Resolveu ficar mais tempo no Brasil?
— Férias.
— Ah, sim. Esse é o Gustavo, meu primo. Gustavo, esse é o Eduardo, filho do sócio do meu pai. – Enfatizou me encarando, seu olhar dizia "Ele é importante. Não diga nenhuma merda". Sorri e cumprimentei o boyzinho com um aceno de cabeça.
— Foi bom te rever. Seria legal se a gente se encontrasse mais vezes. Até qualquer dia. – Beijou seu rosto e lhe deu um abraço. A essa altura, minha sobrancelha faltava saltar da testa.
— Até. – Ela acenou e ele saiu andando parecendo um retardado.
— "Até qualquer dia". – Imitei o sotaque dele fazendo careta, a Julia bateu no meu braço e eu ri.
— Ele é português, seu chato.
— Jura? Não tinha reparado. – Ela revirou os olhos e colocou uma massa de bolo dentro do carrinho. – Todo português é assim?
— Assim como? Educado?
— Não, brega. Ele é brega em tudo. Até no jeito de agir.
— Credo, Gustavo, como você é implicante. Ele não é nada disso.
— É sim. Você não quer admitir porque é um filhinho de papai.
— Você que tá sendo desnecessário. Tá implicando com o menino por nada, já que nem conhece ele.
— E você conhece? – Encarei ela.
— Sim. De um jantar. Foi o suficiente pra saber que ele é muito gente boa, tá?
— Hm, então tá. Você conhece ele porque jantaram juntos UMA vez. – Revirei os olhos.
Jantar é a cabeça do meu pau.
— Você também não conhece e está falando mal.
— Só falei que ele é brega. Não precisa conhecer pra isso. É só olhar.
— Ele não é brega!
— Pega ele então!
— Não quero pegar ele, obrigada! – Me olhou irritada.
— Ué, por que não? Já que acha ele tão gente boa e educado. Tenho certeza que ele não rejeitaria, com a cara que tem, deveria ficar feliz se surgisse uma oportunidade de pegar alguém.
— Sério, eu me esforço pra te aturar, mas às vezes simplesmente não dá. Você consegue sair da posição de anjo em segundos e ir pra posição de idiota.
— Isso tudo porque eu fiz um comentário sobre o seu "amigo". – Ressaltei, fazendo aspas com os dedos.
Ela me ignorou. Continuamos as compras conversando apenas o necessário. Ao terminar, coloquei no banco de trás do carro porque não tava afim de abrir o porta malas. Dirigi de volta e peguei o caminho mais longo, esperando que ela dissesse alguma coisa, mas tudo que obtive foi silêncio. Depois de meia hora, parei o carro na porta de casa e abri a porta de trás pra pegar as sacolas, mas ela se enfiou na minha frente.
— Não precisa fazer isso, eu pego.
— Eu vou ajudar. – Murmurou.
— Não precisa. – Repeti. – Estão pesadas.
— Eu levo a metade.
— Deixa que eu pego tudo, Julia. – Bufei, já ficando impaciente.
Ela pegou metade das sacolas, levou pra dentro de casa de forma desajeitada e bateu seu ombro no meu ao passar por mim. Teimosa do caralho. Peguei a outra metade, fechei a porta do carro com o pé e entrei em casa, deixei as sacolas em cima da mesa.
— Obrigada, anjos. – Alexa falou. – Podem deixar aí que o Thiago vai guardar as compras. Gustavo, seu pai quer conversar contigo. Ele tá na boca.
Pelo olhar dela, parecia ser coisa séria. Suspirei e saí de casa, fui lentamente até a boca, pensando se tinha algum motivo pra ele brigar comigo. Entrei na salinha e me joguei na cadeira na sua frente.
— Gustavo, quando você vai viajar? – Perguntou.
— Na madrugada de amanhã, por quê? – Cocei a nuca.
— Tenho um serviço pra você. – Sorriu de lado.
∆
até segunda hihi ❤️

VOCÊ ESTÁ LENDO
Marginal
Fiksi Remaja[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...