Gustavo narrando
Foi uma tarefa difícil contar pro meu pai sobre o término com a Jéssica. Ele reclamou bastante, a gente não pode arriscar entrar em guerra com o Chapadão agora, e machucar a filha dele é motivo o suficiente pra isso. Pessoalmente, acho que não vai dar em nada.
Ainda tava meio tenso no aniversário da Julia, ele também, mas tentamos esconder. Pra ser sincero, acho festa de rico a maior chatice, mas quando a maioria das pessoas foram embora melhorou. A Samira insistiu pra fazer dupla comigo e eu fui, ela é meio infantil, me faz rir.
Mas a ousadia da Julia fez minha noite. Que saudade dela, papo reto...
Fui embora mais ou menos 1h da manhã, quando cheguei em casa, dormi igual uma pedra. No dia seguinte acordei até um pouco cedo, 8h já estava tomando banho. Me vesti e desci pra tomar café da manhã. Ninguém além da Alexa tinha levantado ainda, depois de comer, escovei os dentes e subi pra boca. Tinha uns trampo pra fazer lá com o meu pai, fumei um enquanto organizava a compra de um armamento pelo whatsapp. Ficou resolvido que iria chegar 5 bolsas do Paraguai, o cara cobrou 400 mil, vou dar uma olhada nas armas e ver se vale a pena fazer a troca.
Meu pai não tava afim de me meter em mais encrenca, só que eu odiava ficar parado, então fazia qualquer coisa que ele pedisse pra não fazer. Eu não vou parar a minha rotina só porque uns verme pau no cu tão atrás de mim. Além do mais, tô no morro, o que pode acontecer?
Saltei da cadeira quando um vapor entrou desesperado.
— Os verme tão invadindo!
Dito isso, ele saiu correndo. Meu pai pegou uma arma no arsenal, checou se tava carregada e, quando fui pegar uma pra mim, me jogou uma glock.
— Você vai para casa. – Disse sério.
— Pai, na moral...
— Rápido, Gustavo. Vai!
Bufei e saí, destravei a arma, olhando ao redor. Quanto mais caminho eu cortasse, melhor seria, então entrei em tudo que é beco, subi uma ladeira e entrei em mais um, quando senti alguém puxar minha camisa. Virei rápido e meti um tiro na cabeça do policial. Ele caiu igual bosta, manchou minha camisa com sangue por estar tão perto. Suspirei e segui o caminho por outro beco, já que tinha feito barulho, não posso chamar muita atenção. Ouvi um ruído e me virei para trás pronto pra atirar, porém abaixei a mão apressadamente ao ver Julia com os olhos cheios de lágrimas.
— Que porra você tá fazendo aqui?! – Perguntei irritado.
— Eu vim buscar o Alexandre!
— Você poderia morrer, sabia? Vem comigo!
Por sorte, estávamos perto de casa. Dobrei minha atenção ao subir o morro, ela apertava o meu braço em desespero e foi um alívio quando finalmente chegamos. Tranquei a porta e chamei pelo Thiago, depois pela Alexa. Nenhum dos dois respondeu. Fiz um sinal pra Julia ficar em silêncio, subi lentamente e olhei todos os cômodos com atenção, sem encontrar ninguém. Voltei para a sala e me sentei no sofá, joguei a cabeça para trás e dei um suspiro. Procurei meu celular mas, na pressa, acabei deixando na boca. Minha prima tava sentada no chão, com o rosto escondido entre os joelhos, e eu podia ouvir o seu choro. Não tinha muita distância entre a gente, então peguei sua mão e puxei de leve, incentivando-a que viesse até mim. Ela se sentou do meu lado no sofá, um pouco relutante e, aparentemente, com muito medo.
— Você tá machucado? – Perguntou, preocupada. Olhei para o meu próprio corpo.
— Esse sangue não é meu. – Puxei a camisa suja para cima, tirando-a.

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Marginal
Teenfikce[+16] Julia nasceu em berço de ouro. Literalmente. Filha de um cardiologista e uma nutricionista, nunca precisou chorar por não ter algo. Seu pai, ao contrário, passou anos lutando para ter a fortuna que conseguiu construir. Marcelo nasceu na favela...